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<i>X-Men</i>: O desenho animado

<i>X-Men</i>: O desenho animado

07.05.2003, às 00H00.
Atualizada em 21.09.2014, ÀS 13H14

Os X-Men são aquele caso em que a persistência é a mãe do sucesso. Nos quadrinhos, os heróis levaram décadas para emplacar. Diferente do sucesso imediato desfrutado por seus colegas de editora como o Quarteto Fantástico, Vingadores ou mesmo o Homem-Aranha, o Professor Xavier e seus pupilos penaram até assegurar seu lugar ao sol.

Bem antes que algum louco cogitasse que uma série de filmes com atores de carne e osso pudesse dar certo, os X-Men ensaiaram o sucesso no mundo da animação. Claro que, mesmo assim, no começo não foi fácil.

O bom amigo Aranha!

Sucesso desde os anos 60, o Cabeça-de-Teia estreou sua terceira versão animada de 1982. Era a vez do delicioso desenho Homem-Aranha e seus incríveis amigos, um pretexto para explorar versões animadas da imensa galeria de personagens da editora Marvel Comics. Por sinal, os dois principais colegas do aracnídeo eram uma dupla oriunda da Escola para Jovens Superdotados do Professor X: O Homem de Gelo e a Estrela de Fogo (heroína criada especialmente para o programa, rebatizada de Flama na dublagem atual). Estava armada a desculpa perfeita para aparições dos X-Men no programa. Em três episódios, os mutantes deram as caras sendo que o melhor de todos foi Nasce a Flama, que conta a origem da Estrela de Fogo. Nele, o Aranha e seus amigos fazem uma visitinha à Mansão X e, de quebra, enfrentam ninguém menos do que o indestrutível Fanático. Um feliz capítulo com qualidade acima da média da série. Curiosamente, na primeira vez em que foi exibido no Brasil, a dublagem fez questão de mudar o nome de Wolverine para um simpático Lobino. Lamentável...

Uma curiosidade é que, num desses episódios, quando os mutantes aparecem em flashback, um animador distraído desenhou Ciclope duas vezes na mesma cena.

Em 1989 foi a vez do piloto do que seria a primeira série dos heróis, ainda em sua formação clássica. Infelizmente a iniciativa morreu na casca e o desenho nunca passou aqui (fora cópias piratíssimas), sendo comercializado em vídeo nos Estados Unidos. Saiba mais dela clicando aqui.

Nos anos 90, no auge de sua série, os Filhos do Átomo ainda arranjaram um tempinho para retribuir a força dada pelo Aranha no início de carreira e participaram de um episódio duplo do aracno-desenho da época; com direito a Wolverine invocando com o Teioso. Na mesma série, Tempestade participou da sofrível versão animada de Guerras secretas.

X na Mosca

Em 1992, estreou o tão esperado desenho mutante. Se você não esteve na Galáxia Shiar na última década, certamente sabe do frisson que foi essa animação.

Sem dúvida, X-Men foi um sucesso estrondoso, que catapultou a popularidade dos quadrinhos e tornou possível a bem-sucedida série de cinema. Infelizmente, a produção só não é um clássica por um único detalhe: a animação tosca. Personagens com cores trocadas, erros de seqüência, de proporção, movimentação ruim, cenários mal feitos... Há uma infinidade de problemas técnicos que conspiram para que X-Men não seja tão bom como poderia ser. Uma pena.

Há, porém, virtudes a serem exaltadas. Os roteiros tentaram se manter bastante fiéis (senão à cronologia dos gibis) às personalidades dos heróis e coadjuvantes. Exatamente esse carisma, aliado a muita ação e tramas mais inteligentes do que a média do que se via nas animações da época, transformou uma produção capenga (leia-se barata) em um sucesso fenomenal.

Afinal, Stan Lee e Cia ainda não tinham muito moral para bancar projetos exorbitantes e ousados. Foram, no entanto, exatamente os mutantes que abriram caminho para a enxurrada de animações Marvel dos anos seguintes; infelizmente, nenhuma com mesmo retorno de X-Men.

Já no episódio inicial, o duplo A noite dos Sentinelas, a coisa começa quente com a morte de um dos membros da equipe: Morpho. Criado especialmente para bater as botas (pelo menos até retornar algumas temporadas depois), o infeliz era o aviso de que X-Men não estava para brincadeira. Além de fatalidades, o desenho empenhou-se em mostrar conspirações políticas e denunciar o preconceito aos mutantes, metáfora para qualquer preconceito racial contra quem quer que seja. Claro, sem nunca esquecer que pancadaria e heroínas boazudas sempre garantem audiência. Desde a manca abertura, onde a turma do bem colide com a do mal o desenho era ação do começo ao fim. Por sinal, quando exibida no Japão, a série ganhou nova abertura. Produzida com o padrão nipônico de qualidade. Outra prova de que o desenho poderia render bem mais. Mesmo assim, não faltava ação, o que, às vezes, até prejudicava o andamento das boas histórias, principalmente as mais calcadas nas grandes sagas dos gibis.

Bebendo na Fonte

Quando começou, o programa contava com a participação do elenco regular dos quadrinhos da era Jim Lee, cujo traço influenciou diretamente o desenho de produção. O elenco era: Professor X, Wolverine, Ciclope, Jean Grey, Tempestade, Gambit, Vampira, Fera e Jubileu. Nos gibis, já haviam deixado o bando os carismáticos Noturno, Colossus e Kitty Pride. Os dois primeiros chegaram até mesmo a participar de alguns episódios da série como convidados especiais, mas o resultado ficou forçado.

Com a ausência de Kitty, coube à chatinha Jubileu angariar a identificação do público adolescente. Ganharam espaço Gambit, o galã com sotaque francês de araque; Vampira, mais perua que nunca; e Fera, o simpático e erudito bicho de pelúcia da equipe. Tal qual no cinema, o destaque ficou por conta de Wolverine. Já Tempestade, sofreu uma estranha compulsão por frases de efeito do tipo: Ventos, ouçam o meu comando!, algo não muito a ver com seu desempenho nas HQs. Mesmo assim, não ficou tão ruim quanto sua versão em carne e osso vivida por Halle Barry no primeiro filme.

Descontados alguns sofríveis episódios escritos especialmente para a TV, a série se salvava justamente quando bebia direto na fonte, adaptando sagas memoráveis. Desta forma, a trama do desenho passou a ser mais interligada, formando sua própria cronologia, quase como uma novelinha de aventura. E olha que não faltaram dramalhões: Cortesia de Ciclope e sua amada Jean Grey e vez por outra, do bom e velho Wolverine. Estiverem presente, embora não de forma declarada, a rivalidade de ambos pelo coração da ruiva, o romance de Vampira e Gambit e toda aquela salada de passados confusos e contraditórios tão característicos do universo mutante nos gibis. Ponto para a produção, que conseguiu criar uma série de ação com algum conteúdo.

A preocupação em adaptar histórias oriundas das HQs refletiu-se no traço do desenho, que muitas vezes decalcou cenas das histórias desenhadas por John Byrne nos anos 80. Foi assim com o episódio duplo Dias de um futuro passado, onde Kitty Pryde foi substituída pelo machão Bishop. O mesmo ocorreu com A saga de Fênix, fidelíssima ao original em cinco capítulos e com a A Fênix Negra (4 episódios), que só peca por um final cafona onde, após a personagem cometer suicídio, é ressuscitada pelos X-Men de mãos dadas, reunidos numa roda, onde cada um doa um pouco de sua energia vital para a moça.

Mesmo não fazendo parte da equipe principal, quase todas as personagens que deram as caras nos gibis apareceram no desenho; senão em participações de destaque, em pontas discretas, para deleite dos fãs mais radicais.

Foram produzidos setenta episódios pela Graz Entertainment em associação com a Saban International. Os seis últimos, porém, apresentam qualidade superior de animação e um estilo diferente, pois foram produzidos apenas pela Saban. Para a alegria dos produtores, o desenho levou apenas seis semanas para atingir a primeira colocação na audiência das manhãs de sábado, nos Estados Unidos. Ao sair do ar, ainda era o desenho mais visto da Fox americana. No Brasil, chegou nas manhãs da Globo, no extinto programa infantil TV Colosso, sendo exibido também na Fox e Fox Kids.

Embora não seja impecável, X-Men foi o estopim da retomada de produções Marvel nas telas, contribuindo para o amadurecimento das animações baseadas em quadrinhos e abrindo caminho para produções de melhor qualidade como sua própria continuação: X-Men evolution. Esta, mesmo tomando mais liberdades (até questionáveis) com relação aos conceitos originais, tem um acabamento de primeira e roteiros bem construídos.

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