Hora de Aventura só vai acabar quando esgotar personagens, diz Adam Muto
Criador e showrunner de Fionna e Cake falou com Omelete sobre a 2ª temporada
Créditos da imagem: Hora de Aventura com Fionna e Cake (Reprodução)
Os fãs de Hora de Aventura podem esperar muitos anos de histórias pela frente – ao menos, se depender de Adam Muto. O roteirista, que serve como criador e showrunner de Hora de Aventura com Fionna e Cake, conversou com o Omelete para celebrar os últimos episódios da segunda temporada da série, e falou com otimismo sobre o futuro da franquia.
“Eu gostaria de continuar fazendo Fionna e Cake enquanto houver potencial, enquanto houver a chance de fazer uma temporada sobre a Marceline e a Princesa Jujuba, ou a Princesa de Fogo, por exemplo”, comenta ele. “Eu poderia citar vários nomes, mas a chance de qualquer uma delas ser produzida é difícil de prever. Não estamos na posição de ditar o que o futuro reserva, sempre temos que convencer as pessoas sobre as nossas ideias para o futuro de Hora de Aventura”.
As duas temporadas de Hora de Aventura com Fionna e Cake estão disponíveis para streaming na HBO Max, com o último episódio do segundo ano marcado para estreia na próxima quinta-feira (25). Confira a conversa completa com Adam Muto a seguir!
OMELETE: Olá, Adam! Muito prazer, obrigado por nos ceder este tempo.
MUTO: Olá, é bom conversar com você.
OMELETE: Eu gostaria de começar pelo fato de Fionna e Cake ter começado como uma fanfic criada pelo Rei Gelado. Como essa "história dentro da história" acabou se tornando um spin-off próprio, e ainda com um foco mais adulto do que a série original?
MUTO: As circunstâncias do fim da série original, e de onde deixamos o Simon, criaram a oportunidade de começar esta série naquele ponto. Acho que não teria existido em nenhum outro momento, porque não teríamos feito uma mudança tão grande no Rei Gelado até o final da série original. Mas, uma vez que fizemos, seguimos com a mitologia que havia sido estabelecida – não quero usar a palavra "mitologia" de forma muito pesada, mas apenas a relação entre o Simon e a Fionna e a Cake, como personagens. Como isso mudaria se, de repente, ele não fosse mais o Rei Gelado? Acho que esse foi realmente o ímpeto para a criação dsta série.
OMELETE: Que incrível. Quais personagens de Hora de Aventura são os próximos a serem adaptados em Fionna e Cake? Você poderia nos dar um spoiler, ou talvez falar sobre ideias que vocês possam ter?
MUTO: Muitos deles aparecem em Fionna e Cake, mas geralmente como personagens secundários. O tipo de participação especial que me interessa é essa, em que não chamamos a atenção demais para os personagens, mas eles apenas existem naquele mundo. São como as princesas na série original. Não temos as princesas aqui, temos DJs. Então, o DJ Slime é uma parte maior nesta temporada – ele não é o personagem mais importante, mas é um rosto familiar visto de uma forma diferente. Também ficamos felizes em poder usar o DJ Flame, a versão alternativa da Princesa de Fogo, desta vez. Nós sugerimos isso na primeira temporada, mas como poucos episódios se passavam no mundo da Fionna, não houve tempo para mostrar muitos desses personagens e como eles se relacionavam com ela. Então, desta vez tentamos passar o máximo de tempo possível no mundo da Fionna para mostrar como são as novas relações dela com esses personagens, e até mesmo como são essas relações em um mundo que não é tão baseado em fantasia.
OMELETE: Então, o que vocês gostam de fazer é deixar alguns "easter eggs" e personagens que possamos reconhecer ao fundo – não como os principais, mas ali para todo mundo identificar?
MUTO: Sim, alguns deles nunca serão reconhecidos diretamente, e outros podem nem ser baseados no elenco original. Algo que gostávamos na série original era que ela parecia infinita, que poderia haver um reino que ainda não tínhamos visitado ou outro grupo de personagens que ainda não tínhamos encontrado, mas você tinha a sensação de que o mundo era maior e que havia infinitas de personagens por aí vivendo suas vidas. Então, mesmo nesta versão da série, onde poderíamos fazer uma relação direta de um para um com todo o elenco, é mais fácil deixar que as coisas existam pelo mundo, e ter versões alternativas do Povo Doce ou do Povo de Fogo – cantos do universo que nunca conhecemos na série original. Tivemos que fazer isso muito mais vezes nesta temporada, porque havia tantos episódios aqui que pensamos: “Não temos personagens suficientes, realmente temos que ir aos nossos designers de personagens e conseguir muito mais conceitos, apenas para popular esta cidade, para que não pareça vazia". Há alguns que aparecem e nem falam, que são mais homenagens do que easter eggs. Há uma versão alternativa da Dona Tromba, por exemplo, mas a dubladora original faleceu, e eu não queria escalar outra pessoa para o personagem. Então só queríamos vê-la de novo.
OMELETE: E qual você acha que é o maior desafio na produção de Fionna e Cake?
MUTO: O maior desafio é, basicamente, ter que recomeçar a produção do zero a cada vez, por causa de como esse desenho animado funciona. É quase como se a segunda temporada também tivesse que ser a primeira temporada. [Risos] São os mesmos personagens, em muitos aspectos, mas o impulso que você costuma ter em uma série de longa duração, onde você vai direto da pós-produção para a escrita e para a produção da próxima temporada… nós não temos isso em Fionna e Cake, porque no streaming fazemos a temporada inteira antes de termos qualquer notícia de renovação. Criativamente, acho que o maior desafio foi para onde ir a partir do final da primeira temporada, porque temos que escrever cada temporada como uma série completa, já que não sabemos se haverá uma continuação. Então tem que haver o potencial para mais, mas não a necessidade de mais. Você não quer deixar um grande gancho, não quer que pareça não resolvido, mas também não quer que pareça tão fechado que não haja potencial narrativo caso você retorne. Acho que esse é o maior desafio: como escrever para esse novo formato que o streaming dita.
OMELETE: Eu entendo. Acho que você já respondeu um pouco a minha próxima pergunta, mas deixe-me fazê-la para ter certeza: Se você tivesse que pensar sobre isso agora, hoje, quantas temporadas você diria que esta história duraria? O céu é o limite, ou você tem algum final já em mente?
MUTO: Bom, quando apresentamos a ideia de mais temporadas de Hora de Aventura [para o estúdio], elas eram sempre seguindo diferentes grupos de personagens ao invés de continuar seguindo Finn e Jake, porque isso parecia o mais interessante para nós. Você poderia contar histórias diferentes, com personagens diferentes, que têm perspectivas diferentes das de Finn e do Jake. Isso me parece mais interessante do que atingir um certo número de episódios ou temporadas, porque contamos tantas histórias na série original que o desafio se tornou: "Estamos nos repetindo? Já fizemos isso antes?". Ainda temos esse tipo de conversa agora, mas se os personagens principais têm uma perspectiva diferente, a maneira como eles abordam as coisas é bem diferente, e a série muda por isso. Eu gostaria de continuar fazendo Fionna e Cake enquanto houver esse potencial, enquanto houver a chance de fazer uma temporada sobre a Marceline e a Princesa Jujuba, ou a Princesa de Fogo. Eu poderia citar vários nomes, mas a chance de qualquer uma delas ser produzida é difícil de prever. Não estamos na posição de ditar o que o futuro reserva, sempre temos que convencer as pessoas sobre as nossas ideias para o futuro de Hora de Aventura. E acho que agora, cada vez mais, esse impulso pode ser traduzido em várias séries diferentes. Temos a série Side Quests, e outras coisas em desenvolvimento. E há um certo alívio de não ter apenas uma série carregando o legado de Hora de Aventura, porque estamos mostrando ao público, e ao estúdio, que essa franquia pode ser várias coisas diferentes simultaneamente, e não precisa haver aquela versão monolítica da história.
OMELETE: Adorei essa resposta! Como minha última pergunta, gostaria de falar um pouco sobre o multiverso, porque cada multiverso em Hora de Aventura é cuidadosamente desenhado para ter sua própria identidade. Você pode nos contar sobre a criação desses mundos diferentes? Como é o processo?
MUTO: Esse é um grande desafio, porque as pessoas sabem o que o multiverso é, agora, na ficção. Não que esse conceito não tenha existido sempre, mas agora ele está em lugares o suficiente para que você não precise gastar muito tempo explicando. E o multiverso pode ser qualquer coisa – mas, se pode ser qualquer coisa, o que realmente importa? Pode ser apenas uma piada pontual, algo visualmente interessante, mas pode também apenas um truque. O que torna o multiverso interessante é como podemos relacioná-lo a este elenco de personagens, e se eles podem tirar algo de bom de suas visitas a essas realidades. Você pode fazer um mundo onde todos são homens das cavernas, ou um mundo onde todos são vampiros. Mas o que faria mais sentido para esta história? Um mundo de vampiros, porque sabemos qual é a relação da Marceline e do Simon com vampiros na série original, e isso tem potencial narrativo. Acho que, ao lidar com o multiverso, você precisa tomar cuidado para manter as coisas inteiramente relacionadas aos personagens principais. E nunca pensamos nisso como se houvesse um número infinito de universos, onde cada escolha cria um universo diferente, porque isso parece demais. Sempre tentamos manter o número que visitamos mais contido, e tornar as diferenças mais gritantes, para não lidar apenas com gradações como "semáforos são vermelhos ou verdes" ou "a ponte Golden Gate é azul" – coisas sutis assim são menos interessantes. Os multiversos que visitamos nesta temporada são, em sua maioria, os mesmos que vimos na primeira temporada, e por sua vez esses foram configurados na série original, por causa do Prismo. A ideia de que um desejo cria uma dimensão diferente foi algo que tentamos levar adiante – se existe um mundo populado inteiramente por bebês, de onde isso veio? Bom, é um desejo que o BMO teria feito, porque ele ama bebês e gostaria que todos fossem bebês para sempre. Nós nunca diríamos isso explicitamente no episódio, mas essa seria a lógica interna. E também não passamos um episódio inteiro lá, porque isso seria irritante, é só uma piada.
OMELETE: Perfeito. Muito obrigada pelo seu tempo e por responder nossas perguntas!
MUTO: Foi um prazer te conhecer! Tenha um bom dia.