Grey’s Anatomy começa a 19ª temporada com uma descarada cópia de si mesma

Créditos da imagem: ABC/Divulgação

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Grey’s Anatomy começa a 19ª temporada com uma descarada cópia de si mesma

Incapaz de seguir em frente com novas histórias, Grey’s Anatomy assume suas limitações e começa a se recontar

Omelete
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10.10.2022, às 09H42.

A primeira sequência da nova temporada de Grey’s Anatomy é uma das mais emblemáticas dos últimos anos da série. Ela reúne, em pouco tempo, uma série de elementos clássicos que fizeram da produção um marco da nossa cultura pop... e faz isso nos provocando com a ideia de que esses elementos estão ali para sofrerem alguma espécie de mutação genética, o que – é claro – não é o que acaba acontecendo. Se tem uma coisa que a criação de Shonda Rhymes nunca vai conseguir fazer é zombar de si. Grey’s Anatomy se leva muito a sério, sempre.

Na sequência inicial, uma cara nova surge chegando atrasada ao Grey Sloan e enquanto ela passa pela frente do hospital, um caos generalizado está ali ao fundo, com galhos de árvores e carros capotados servindo quase como uma nova mobília de cena. É a forma irônica de dizer para o espectador que TALVEZ esse passado de associações com desastres e mortes trágicas esteja ficando para trás. O tornado que fez aqueles carros voarem até ali aconteceu enquanto não estávamos olhando; o importante agora é conhecer as pessoas que vão levar aquela história adiante.

A estratégia da showrunner Krista Vernoff é tão descarada que chega a chocar. Esse primeiro episódio da décima nona temporada foi escrito para reproduzir exatamente todos os códigos do episódio piloto da série. O curioso é que ao invés de abrir mais espaço para residentes que a gente já conhecia, o roteiro preferiu trazer gente nova, focar tudo nessas pessoas e manter os personagens clássicos vagando pelos corredores como se fossem ambulantes. As presenças de Meredith (Ellen Pompeo), Bailey (Chandra Wilson), Owen (Kevin McKidd), Amelia (Caterina Scorsone), Maggie (Kelly McCreary) e Richard (James Pickens Jr.) são fantasmagóricas.

Fomos preparados para isso quando a temporada anterior lidou com a possibilidade de perder seu programa de ensino e se formos pensar bem, não há nada que Krista possa fazer para garantir a longevidade da série do que inserir – de tempos em tempos – novos personagens. Seria bom se isso também representasse novas maneiras de contar histórias. O que acaba acontecendo é o oposto; com esses novos personagens repetindo as mesmas estradas que os antigos, fazendo com que a nossa simpatia por eles se esgote com uma inconveniente rapidez. É um ciclo que pagamos para seguir ainda que provoque vertigens.

O Mais do Sempre

O novo grupo de personagens inclui a Dra. Griffin (Alexis Floyd), que chega atrasada, tem um ataque de pânico e funciona como o elemento de insegurança que precisa estar ali para garantir o drama da cirurgia repentina. Depois, Link (Chris Carmack) dá um esbarrão em Jules (Adelaide Kane) e ela descobre que transou com um atendente sem saber que ele era um atendente (sim, isso mesmo, tal qual Meredith). É claro que também temos a obcecada pelo trabalho, meio insensível, chamada Mika (Midori Francis), que faz uma piada idêntica a uma piada feita por Christina. O Dr. Benson (Harry Chum, de Glee) é o arrogante que faz as vezes de Karev e Lucas Adams (Niko Terho) surge como a estrela da temporada ao ser apresentado como sobrinho de Derek.

Tudo que os fãs da série reconhecem está ali: a sequência da entrada na sala de cirurgia, as cenas de erros amadores e de insights geniais, o descanso em cima das macas nos fundos do hospital, a fascinação de conhecer mentores e o barulho dos celulares substituindo os pagers que chamam para atendimentos... Grey’s Anatomy foi construída nessas bases por alguns anos e agora parece disposta a repetir o sistema, em cada detalhe, no intuito de manter uma audiência incapaz de abandonar a produção e que permanece seduzida pelo que ficou para trás.

Se pode funcionar? Evidente que sim. De certa forma, ainda que Ellen Pompeo permaneça em alguns episódios como uma espécie de Rainha da Inglaterra, a série vai precisar que as pessoas gostem dos novos personagens. O futuro de Grey’s Anatomy é uma completa incógnita. Mas uma coisa é certa: esse é um futuro baseado em passado, com a ressuscitação de tudo que a série foi um dia, sob o risco de um resultado zumbificado, onde apesar de tudo parecer familiar, no fundo só estamos diante de um organismo morto que perambula atrás de cérebros (e corações). 

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