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Na 2ª temporada, Fallout retém sua força ao contestar lealdades

Retorno da série é sobre o que fazer num mundo impossível de se salvar

Omelete
4 min de leitura
16.12.2025, às 11H00.
Walton Goggins em cena de Fallout (Reprodução)

Créditos da imagem: Walton Goggins em cena de Fallout (Reprodução)

Em minha crítica da primeira temporada de Fallout, falei sobre como a série do Prime Video ia de encontro ao discurso da franquia de videogames ao retratar uma distopia criada pela cultura do corporativismo, guiada por preceitos de dominação e monopólio que são tão novos quanto andar para a frente. Conglomerados são impérios, e CEOs estão tão preocupados com o bem estar do homem comum quanto Júlio César na Roma antiga – ou, em outras palavras, “a guerra nunca muda”. Mas o que você faz quando percebe que a guerra nunca muda?

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O primeiro episódio da segunda temporada de Fallout indica que essa é justamente a pergunta na mente de Graham Wagner e Geneva Robertson-Dworet, a dupla de showrunners da série, que assina o roteiro do capítulo. Cada canto do universo que os dois construíram no primeiro ano tem uma resposta a dar, e Fallout se energiza nessa retomada ao mergulhar nesses pontos de vista.

Primeiro, é claro, temos Lucy (Ella Purnell) e Cooper (Walton Goggins). Quando os reencontramos, eles estão a caminho de New Vegas, no rastro do pai da moça, Hank (Kyle MacLachlan), que se debandou para a antiga Cidade do Pecado após ser desmascarado e rejeitado pela filha como – essencialmente – um supremacista genocida. A dinâmica dos dois, aqui, é uma evolução natural daquela que vimos na primeira temporada: Cooper é meio guia, meio professor, conforme Lucy vai se aclimatando às agruras do mundo pós-apocalíptico, onde sua “regra de ouro” vale de muito pouco.

Por outro lado, Wagner e Robertson-Dworet tratam de nos dizer, logo de cara, que a visão de mundo da protagonista está se transformando – mas talvez não do jeito que o público mais cínico, ou mesmo o próprio Cooper, poderia esperar. Aqui, Lucy é uma idealista por escolha ativa, ao invés de um peixe fora d’água. Diante da crueldade das relações que se desenrolam no Ermo, ela ainda elege tentar ser melhor, porque a alternativa (como ela diz neste episódio, muito mais eloquentemente do que teria feito na primeira temporada) é não acreditar em nada, não fazer nada, não tentar nada. A alternativa é Cooper.

Em outro canto da história, dentro do Abrigo de onde Lucy saiu, as burocracias continuam de pé após um período de caos. Betty (Leslie Uggams) pacifica os residentes do Abrigo 33 com lanchinhos e clubes insignificantes, a violenta Stephanie (Annabel O’Hagan) foi elevada a uma posição de poder, e o desaparecimento de Norm (Moisés Arias) continua sendo encoberto enquanto ele busca uma forma de escapar de seu predicamento aparentemente impossível. No subterrâneo, enfim, as coisas seguem imutáveis – desde que todo mundo subscreva à ordem, e talvez haja quem não queira mais fazer isso.

É bacana observar como Fallout lida com esse núcleo de sua narrativa, porque ele tinha tudo para ser modorrento como a vida das pessoas que ele retrata (como a vida de todos nós, que seguimos sujeitos às burocracias do contemporâneo). Wagner e Robertson-Dworet não só quebram a monotonia com bom humor afiado, no entanto, como também fazem desses indivíduos e seus cabos-de-guerra entre conformismo e rebeldia o próprio coração da história que estão contando.

Justin Theroux como Mr. House em Fallout (Reprodução)
Justin Theroux como Mr. House em Fallout (Reprodução)

Sim, claro, Mr. House (Justin Theroux) é uma adição excitante à sátira corporativista da série, uma face humana para a ideia da inovação pela inovação, progresso pelo progresso (para quem? a custo de quem?). E sim, claro, o diretor Frederick E.O. Toye (Lost, Fringe, Westworld, Watchmen) filma com carinho absurdo o design de produção espetacularmente inventivo de Howard Cummings. Mas, no fundo, é tudo sobre os dilemas desses personagens, que sabem que estão na distopia, e não encontram maneira de escapar dela.

Não fosse essa angústia, e a sensação verdadeira de compartilhar dela, Fallout teria muito pouco no que se apoiar.

*O primeiro episódio da temporada de Fallout já está disponível no Prime Video. Os capítulos seguintes (de um total de 8) serão lançados semanalmente, sempre às quartas-feiras.

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