Empire | 5ª Temporada segue se apoiando nos mesmos vícios narrativos

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Empire | 5ª Temporada segue se apoiando nos mesmos vícios narrativos

Relevância da série se perde na fórmula

12.01.2019, às 18H12.
Atualizada em 04.02.2019, ÀS 19H29

Parece que foi há muito tempo, mas um dia Empire foi considerada um dos grandes lançamentos da Fox, um dos mais premiados em seu ano de estreia, com uma carreira promissora na TV. Astros foram lançados ao mundo e a música alcançou metas que o canal jamais pensou alcançar depois de Glee, seu primeiro musical bem sucedido (embora, essencialmente, Empire não seja um musical de verdade). Empire se valia de um universo musicado, voltado ao R&B, um gênero em ascensão plena nos Estados Unidos, que sempre estão ansiosos por novos queridinhos para adorar. Contudo, a conceituação da série só tinha um problema: ela era um drama destinado a se cansar.

Quando a HBO lançou The Sopranos, lá no final dos anos 90, ela trouxe claridade para os dramas familiares. Contudo, essa luz parece ter ficado restrita aos modelos privados. Insistente na escaleta de 20 ou mais episódios por temporada, a TV aberta se colocava numa cilada: precisar criar arcos constantes para preencher o número tão opressor de episódios. Então, depois de um primeiro momento onde todas elas são muito originais, chega a hora de cometer sempre os mesmos erros. Da segunda temporada adiante tudo é sobre matar alguém, se vingar de alguém, controlar as empresas ou se deparar com parentes perdidos que nunca foram mencionados. Empire, em especial, abusa grotescamente de todos esses chavões.

Já faz algum tempo que todos os finais de temporada se resumem a um cliffhanger violento. O final da quarta temporada insinuou uma chacina, mas, como era de se esperar, apenas Anika (Grace Byers) se despediu da trama. O gancho mesmo, que envolvia Hakeem (Bryshere Gray), foi só uma daquelas farsas dramatúrgicas que quando são reveladas transformam o evento num “trauma” e o personagem em questão passa o resto do ano sendo o “mala” da vez. Hakeem, que sempre foi um dos personagens mais arrogantes e desagradáveis da série, entrou numa storyline que só ajudou a aumentar essa impressão. E é impressionante, de verdade, a quantidade de vezes em que os roteiristas lançam mão do plot “quem comandará a Empire”. Quando a quinta temporada começa, é como se estivéssemos revendo a quarta.

Outra curiosidade sobre os métodos da série é que ela não tem mais métodos. Mostrar alguém morto na primeira cena para depois mostrar no curso dos episódios como aconteceu é um recurso que How to Get Away With Murder copiou de Damages; e que nunca nem fez parte das propostas de Empire. Mas, para manter o interesse do público vale tudo, e durante esses 9 episódios antes do hiato, precisávamos tentar descobrir quem estava no caixão que Lucious (Terrence Howard) observa tão dramaticamente. A resposta para isso até que vem, mas com tantos ganchos falsos no currículo, é difícil saber se o sacrifício será realmente feito.

São tempos tão difíceis para a produção que até o charme de Cookie (Taraji P. Henson) ficou perdido em meio a tantas recorrências. Ela ainda é a melhor coisa da série, mas além do relacionamento com Lucious já ter se desgastado demais, a trama do “Cookie vai mostrar como se produz um sucesso” já foi reciclada até o limite. O roteiro central quer mostrar que talvez a família consiga construir uma nova empresa e largar o osso da Empire de uma vez por todas. Mas, como vamos lidar com a incoerência que seria manter essa ideia quando o nome da série é o nome da esfarrapada produtora de hits? Então, como se estivessem debochando do público, os roteiristas surgem com mais parentes perdidos, sedentos de vingança, para que a família Lyon nunca desista de “salvar” a moribunda gravadora.

Nem tudo está perdido, e há algum investimento em questões políticas e sociais interessantes. O próprio Hakeem,surge com uma boa discussão sobre armamento. Jamal (Jussie Smolet) está num relacionamento estável com um repórter soro-positivo e há boas cenas sobre como uma relação sorodiferente pode ser discriminada. Cookie também se vê envolvida numa cilada ao lidar com a relação abusiva de um dos sobrinhos com a mãe e ver a trama de uma mulher sendo agredida não pelo amante ou  marido, mas sim pelo filho, deu ao momento uma certa seriedade. É claro que no final das contas todos esses plots são enfraquecidos pelos clichês que os acompanham, mas são válidos do mesmo jeito.

Enfim, o pior é ver como essa sensação de repetição constante já afeta até música, antes sempre tão festejada. Os personagens ficam falando em como esse ou aquele personagem é incrível, novo, original e quando as canções tocam é como se estivéssemos ouvindo sempre a mesma. E vendo a mesma cena também, já que em todo show ou mera apresentação um “escândalo” acontece para supostamente nos surpreender. Empire chegou até um arremedo de si mesma, incapaz de ressurgir em meio a seus recursos dramáticos urgentes. A irrelevância absoluta é o que a constitui nesse momento e uma última temporada é tudo que ela precisa para descansar em paz. O disco está arranhado, é hora de jogá-lo fora. 

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