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Dinastia | Série dos criadores The OC e Gossip Girl aposta no tom caricatural

Remake da série clássica não atualiza o gênero e já chega datada

09.11.2017, às 13H17.
Atualizada em 09.11.2017, ÀS 15H01

Josh Schwartz e Stephanie Savage tem um trabalho consistente a frente de séries novelescas duradouras e relevantes midiaticamente. Josh é o criador de The OC, que mesmo com somente quatro temporadas foi muito marcante para a cultura pop. Savage foi uma das roteiristas e produtoras desse programa e quando ele terminou, os dois adaptaram a série de livros Gossip Girl, sob a tutela de uma fama de que ambos falavam sobre o mundo dos ricos de uma forma apropriada e lucrativa.

O trabalho de Schwartz e Savage nesses dois programas foi o que os estabeleceu como “conhecedores do nicho”. Eles passaram por The Carrie Diaries também – uma série elegante e terna sobre descobertas – mas embora o texto fosse mais apurado, a série não tinha a marca registrada que lhes abriam portas. The OC, que levava um garoto pobre para viver entre os ricos, resguardava parâmetros humanos menos eloquentes e que foram perdidos em Gossip Girl, que se transformou numa overdose de problemas enfadonhos sobre a nobreza novaiorquina. A sensação é de que com Dinastia, a sua nova investida, qualquer luz de realidade tenha se perdido de vez.

Os ricos de The OC eram a pária do show, vistos sempre por uma ótica cínica pelos protagonistas. De certa forma isso fazia com que a identificação do público fosse mais imediata justamente porque nós, aqui do outro lado, também olhamos para eles com olhos desconfiados. Em Gossip Girl isso se perdeu um pouco pelo caminho, para então se tornar inexistente no remake de Dynasty. É como se a nova produção fosse uma reunião de todos as obviedades do gênero, mas com o agravante de não ter um só personagem capaz de gerar empatia.

Dinastia Equivocada

O remake segue exatamente a mesma trama da série original, que ficou no ar entre 1981 e 1989: a disputa entre Fallon (Elizabeth Gillies), herdeira da dinastia Carrington; e Crystal (Nathalie Kelley), nova esposa do patriarca da família. A ideia na época da série original era falar sobre gente rica e seu produtor era ninguém menos que Darren Star, criador de hits como Barrados no Baile e Sex and the City. O nível de verossimilhança era baixo e a taxa de compreensão do público, alta. Assim como em Dallas (principal concorrente do programa), personagens mortos voltavam sendo vividos por outros atores e ninguém estranhava, filhos perdidos surgiam do nada, parentes problemáticos apareciam aos montes e o troca-troca de parceiros era insano. O choque era mais importante que a coerência.

A Dinastia do passado era, contudo, tomada de estrelas. A produção atual é tomada de atores regulares e com um texto tão rasteiro - o ar de produção tipo B é enervante. Tudo é muito bem produzido, mas a versão atual não tem um só diálogo normal, rotineiro, todas as cenas são sobre armações, intrigas, regados de um tom de cinismo, ironia e malícia. Não há nenhuma preocupação de apresentar nada. Dois episódios e a sensação é de que você está vendo a série há 10 anos, exatamente porque os recursos já nasceram desgastados... Crime, identidades secretas, parentescos sombrios, prisões, escândalos... Não há nenhum investimento humano nos personagens e o resultado disso é que não dá para torcer por ninguém... É só um bando de gente rica querendo destruir os outros porque estão entendiados.

A culpa não é só do tempo... Revenge, por exemplo (que inclusive nasceu de ooutra cria de The OC), era muito mais bem sucedida em fazer o espectador se ligar aos motivos de sua protagonista e mesmo de sua vilã. Dinastia não exercita carisma, não cria tensões, não conquista, ela prefere explodir coisas mesmo que ninguém tenha tido tempo de saber como aquilo afeta a trama. A trilha sonora, entretanto, é esmerada (como é típico dos trabalhos de Josh), mas como não há nenhuma situação emocional, as tentativas de comover são constrangedoras. Ofensas, embates verbais cheios de ameaças e vulgaridades são o carro-chefe da dramaturgia. Mas, sem que o conflito seja preparado esses confrontos não tem nenhuma força.

Esse mar de remakes e revivals são capazes de produzir bons resultados, mas Dinastia não é um exemplo disso. Os criadores mexeram, trocaram sexo de alguns, mataram antes quem morria mais adiante, mas nem mesmo o humor de algumas novelas contemporâneas como Empire a série tem. Para os anos 80, com seus exageros visuais e dramáticos, esse tipo de narrativa podia ser infálivel. Agora, tudo só soa datado, forçado, superficial, como se a série em si fosse um personagem rico e entediado que ela mesma relata. 

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