[Cuidado com possíveis spoilers do final da primeira temporada de Demolidor: Renascido]
Do começo ao fim, Demolidor: Renascido foi uma série sobre Nova York, e sobre os problemas modernos que assolam grandes metrópoles e seus cidadãos. Violência policial, políticos que pouco se importam com os sistemas que devem proteger, atos de violência aparentemente aleatórios e assim vai. O ótimo finale da primeira temporada junta tudo isso.
- CCXP25: ingressos à venda para todos os dias! Garanta o seu para viver o épico!
- gamescom latam 2025 | Ingressos à venda! Garanta seu lugar no maior evento de games do Brasil
O plano de Fisk (Vincent D’Onofrio) enfim fica claro. Ele sabe, sim, o que Vanessa estava fazendo no porto de Red Hook, e eventualmente Matt (com a ajuda de Karen, já que a personagem de Deborah Ann Woll retorna ao ouvir sobre Poindexter) também descobre. Red Hook é um freeport, uma zona livre de impostos ou taxas que, apesar de estar em solo americano, não faz parte da jurisdição de Nova York e nem dos Estados Unidos. Ou seja, é o lugar perfeito para lavar dinheiro, comercializar obras de arte e lucrar sem precisar pagar nada ao governo.
Foi por isso que, como vemos num flashback, Vanessa (Ayelet Zurer) convenceu Poindexter (Wilson Bethel) a voltar à ativa, tirando primeiro seus remédios e depois facilitando sua fuga do hospício com a missão de matar Foggy. O caso que o falecido advogado vivido por Elden Henson estava advogando envolvia Red Hook, e na pesquisa, ele descobriu a verdade sobre o local e ia pedir para que as acusações contra seu cliente fossem descartadas. Se Red Hook não é da jurisdição dos EUA, um tribunal dos EUA não pode julgar o que aconteceu lá.
É por isso que Fisk quer renovar o lugar e criar um negócio lá – gerido não pela prefeitura mas por empresas privadas –, se Vanessa estava movimentando milhões, ele pode mover bilhões. Matt e Karen descobrem isso depois que ela retorna, mas o reencontro dos dois não vem de maneira fácil. Matt começa o episódio no hospital se recuperando do tiro que levou por Fisk, e até confunde Heather (Margarita Levieva) com Karen – não é difícil acreditar que Heather aceita a proposta de chefiar o departamento de saúde mental de Fisk depois; Matt não ajuda.
Fisk aproveita o estado vulnerável de Matt para eliminar seus inimigos. Ele envia Buck (Arty Froushan) para matá-lo, e encaminha um blackout em Nova York para encobrir o assassinato e iniciar a fase final de seu plano. Depois que Sheila (Zabryna Guevara) entrega Gallo (Michael Gaston), ele decide tirar todos os obstáculos do caminho – a morte do Comissário, cuja cabeça é esmagada pelo prefeito, é genuinamente chocante – e iniciar um estado policial em Nova York, com lei marcial, toque de recolher e a ordem de matar vigilantes sem medo.
Matt consegue escapar do hospital, e depois a força-tarefa o persegue até sua casa. Quando ele chega lá, quem está esperando por ele? Frank Castle! Jon Bernthal é instantaneamente mais carismático aqui, mostrando como o Justiceiro pode ser imprevisível. Bastou receber uma ligação de Karen, por quem ele claramente tem sentimentos e se sente em dívida, e Frank não só fez a barba e cortou o cabelo, como ganhou foco novamente. Tudo que ele precisa é uma missão.
A divertida interação dos dois (Frank pergunta: “por que você levou uma bala por aquele cara?” Matt: “Boa pergunta”.) é interrompida pela força-tarefa. Juntos, Demolidor e Justiceiro derrotam os dois, com Castle agindo de forma mais violenta do que nunca. A forma como ele mata os homens inspirados por ele é simplesmente brutal e poética – especialmente quando vemos que alguns estão vestindo a caveira. Sobra apenas o líder do grupo, que é revelado como o assassino do Tigre Branco. Frank tenta convencer Matt a matá-lo, mas o Demolidor se recusa e os dois pulam pela janela antes de uma granada explodir o apartamento (RIP para um apartamento dos sonhos), levando o policial junto.
Na rua, os dois encontram Karen, que depois leva Matt para investigar os antigos arquivos da Nelson, Murdock & Page e enfim descobrir a verdade de Red Hook. Frank não os acompanha, mas leva uma dura de Karen que sabe que ele tem um senso de justiça. Ao ouvir no rádio que roubou dos policiais sobre a ordem de se reunir com Fisk em Red Hook, onde o prefeito mata o Comissário na frente dos membros da força, o Justiceiro se dirige até lá e recebemos uma das melhores cenas de Renascido.
O Justiceiro é um personagem polêmico e fascinante. Sua natureza vingativa, de atirar primeiro e perguntar depois, inspira policiais na vida real e nos quadrinhos a agir da pior maneira, encorajando a ideia violenta de fazer justiça com as próprias mãos. Renascido se colocou em rota de colisão com essas discussões a partir do momento que mostrou os policiais tatuados com a caveira. É o equivalente a brasileiros que veem o Capitão Nascimento de Tropa de Elite como herói e usam o símbolo do BOPE.
O resultado disso não está à altura do potencial dramático de colocar o Justiceiro frente a frente com seus seguidores. Como mostra a cena pós-créditos do episódio, ainda veremos mais de Castle na segunda temporada, e num especial escrito pelo próprio Jon Bernthal, então há tempo para tal, e a aparente resistência da série em encarar com tudo essas ideias tão delicadas é perdoada devido ao impacto da imagem que é gerada. Frank chega em Red Hook com tudo. Ele mata inúmeros policiais corruptos antes de ser capturado quando meia dúzia de homens enfim conseguem, juntos, prendê-lo. Quando o Justiceiro acorda, vemos a arrepiante cena dele preso a uma cadeira enquanto é cercado por policiais vestidos exatamente como ele.
Bernthal é fantástico na cena. Ainda que ele não entre no debate, Frank deixa claríssimo que não é um exemplo. Ele é movido por dor, por cicatrizes que nunca curam e humilha verbalmente a todos em sua volta. Como resposta, Castle é espancado e preso numa das jaulas que Fisk faz para vigilantes e adversários políticos em Red Hook – incluindo o Espadachim de Tony Dalton. Ele escapa de lá na cena pós-créditos, quando quebra o braço de um guarda que é seu fã para roubar suas chaves, e ver como o Justiceiro lida com a experiência de ver o que ele criou precisa ser um dos grandes focos da próxima temporada. Não há como a série continuar sua exploração de violência policial sem isso.
No geral, o tema foi bem debatido na primeira temporada, mas é a parte política que realmente arrepia. Especialmente dado os acontecimentos recentes nos EUA, a vitória temporária de Fisk – Matt e Karen até vão a Red Hook, mas não há como o Demolidor, ainda baleado, enfrentar a força-tarefa inteira – vem com um gostinho forte de uma realidade cada vez mais afundada no autoritarismo. A forma como Matt responde é fantástica e mostra o entendimento da série de suas temáticas.
Quando Matt diz para Karen que precisa recrutar um exército, pensei que essa era a deixa para a Marvel trazer de volta os Defensores. Não é o caso (com exceção da Jessica Jones de Krysten Ritter, não sinto falta dos outros, então tudo bem). Ao som da arrepiante “Everything in Its Right Place” de Radiohead*, uma música sobre como as coisas podem estar destruídas por dentro mesmo quando parecem perfeitas por fora, Matt Murdock finalmente reconhece a necessidade de mudar.
*”Burn the Witch”, música onde Radiohead fala sobre viver num estado totalitário, seria ainda mais adequada, mas é uma escolha fantástica.
O Demolidor precisa inspirar. A cidade que pediu por sua volta precisa que ele faça isso, e é o que Matt Murdock fará agora. Enquanto vemos Matt e Karen reunindo seus poucos aliados no Josie’s, o lugar onde a temporada começou, Demolidor: Renascido faz uma montagem com todos os nova-iorquinos que fizeram parte da narrativa, seja nas entrevistas do BB Report ou como figuras coadjuvantes aqui e ali, para simbolizar a grande ideia da série. Esta é uma história sobre uma cidade, e a força coletiva de seus
Comentários ()
Os comentários são moderados e caso viole nossos Termos e Condições de uso, o comentário será excluído. A persistência na violação acarretará em um banimento da sua conta.
Faça login no Omelete e participe dos comentários