Zoey's Extraordinary Playlist consegue se segurar em temporada desafiadora

Créditos da imagem: NBC/Divulgação

Séries e TV

Crítica

Zoey's Extraordinary Playlist consegue se segurar em temporada desafiadora

Mudanças de elenco e baixa audiência não afetam a qualidade da série

19.05.2021, às 16H29.
Atualizada em 01.07.2021, ÀS 15H03

Diferente da abordagem de Ryan Murphy em Glee, série referência no gênero do musical televisivo, Austin Winsberg não quis fazer de Zoey's Extraordinary Playlist uma máquina comercial de música e espetáculo. Enquanto as vozes e os arranjos que compunham o repertório de Glee eram calculados para venderem milhões, na série de Winsberg a música é só um meio de acesso aos personagens. Ainda há a criação de novos arranjos e de coreografias, mas até mesmo a escalação da série foi pensada na dramaturgia.

Com exceção do trio Max (Skylar Astin), Simon (John Clarence Stuart) e Mo (Alex Newell) - que tem vozes muito potentes e um estilo de performance que remete a grandes musicais - o resto do elenco tem boas vozes e vozes medianas, com destaque para a própria Jane Levy, que, mesmo sendo a protagonista, não tem o timbre dos mais agradáveis. É bastante provável que os envolvidos estejam satisfeitos com essa vibe off-Broadway, e façam disso o próprio conceito em que tudo se baseia.

Por razões que podem ter a ver também com essa falta de “senso de espetáculo”, a série ainda sofre para garantir sua longevidade. As saídas de Peter Gallagher e Lauren Graham na segunda temporada colocaram a produção numa posição delicada; os números não sustentam uma audiência relevante para a NBC, mas Zoey's se sai bem no consumo pós-exibição na TV. Austin Winsberg agora toma uma decisão arriscada: encerra a segunda temporada com uma grande virada e torce para o melhor, que talvez nunca chegue.

Modo Repeat

Com a saída de Gallagher, que fez o pai de Zoey, a perda impõe um período de luto na trama. Da mesma forma, conflitos de agenda tiraram Lauren Graham, e os produtores precisaram abrir mão de Joan, uma personagem que era essencial para a interlocução com a protagonista, numa relação de mentoria que acabou funcionando – e se encerrando – do mesmo jeito que em Supergirl, quando Calista Flockhart deixou a série e provocou um dano que jamais foi sanado.

A energia da temporada começa baixa, portanto. Mesmo assim, Winsberg e sua equipe se esforçam e conseguem, depois de algumas semanas, restaurar o carisma da série. Para isso, uma parceria inteligente entre Max e Mo é providenciada logo na primeira metade da temporada. Aumentar o tempo de tela de Alex é uma solução certeira. Além de tudo que Mo representa em termos de gênero, o personagem é intenso, tem tiradas imperdíveis e não desperdiça uma só cena em que esteja. O restaurante que ele e Max abrem também ajuda a construir uma subtrama divertida e funcional para promover um espaço onde os personagens podem se encontrar e onde os números ouvidos por Zoey podem ter mais grandiosidade.

Outra perda sentida foi a de Howie (Zak Orth), o enfermeiro do pai de Zoey, que além de ter uma bela voz, era carismático e poderia facilmente ter sido mantido no elenco. Sem Peter Gallagher e sem Orth, o núcleo da família de Zoey sofre com os desfalques. Aos poucos, a inserção de Bernadette Peters para contracenar com Mary Steenburgen evita a apatia da matriarca da família e na segunda metade da temporada, um episódio espertíssimo que mostra as canções dos personagens sendo trocadas entre eles aborda a depressão pós-parto de Emily (Alice Lee) de um jeito inesperado e comovente. Zoey's Extraordinary Playlist aos poucos reencontra seu caminho.

Modo Repeat All

Essa segunda leva de episódios depois do hiato recupera a força de quase todos os núcleos. Ideias ruins como a da banda de garagem que Zoey conheceu são abandonadas, e outro acerto é a trama entre Mo e seu namorado bombeiro, o que abriu uma série de diálogos valiosos sobre a pressão dentro da própria comunidade LGBTQI+ no que diz respeito às questões de heteronormatividade.

Contudo, há um aspecto importante do DNA da série que precisa ser superado de uma vez por todas: o triângulo amoroso entre Max, Simon e Zoey. É perfeitamente compreensível que os roteiristas pensem que mitos são criados a partir de históricos triângulos, como “Joey-Pacey-Dawson” ou “Felicity-Ben-Noel”. Mas não só os tempos são outros, como também é preciso aceitar que determinado impasse pode não ter o mesmo apelo. A história entre Zoey, Simon e Max é construída de uma maneira que deixa evidente que não importa o que aconteça, Zoey e Max vão sempre terminar juntos. Isso é péssimo para Simon, já que o personagem parece o tempo todo à mercê dessa realidade. Simon tem até mesmo uma ótima envolvendo diversidade no ambiente de trabalho, o que só reforça que ele precisa mesmo é de investimento individual.

Chegamos ao ponto em que já está cansativo ver Zoey indo de um para o outro, com episódios descartáveis que recorrem a bobagens como a personagem do passado encomendada para provocar ciúmes, ou a mudança repentina de cidade. Com tão poucos personagens, é natural que os roteiros compliquem as relações (afinal Zoey precisa continuar tentando resolver os conflitos que as canções apresentam), mas talvez seja o momento de ampliar o alcance dessas habilidades sensitivas para além dos que fazem parte de suas relações.

Entretanto, se levarmos em consideração os últimos 30 segundos do season finale, as ideias de Austin Winsberg sugerem um futuro arriscado. É uma pena que a temporada não tenha terminado à altura do desfecho do primeiro ano. Zoey's Extraordinary Playlist precisa de um lugar na TV; é uma série sensível, inteligente, engraçada e cheia de diversidade. Mas é como se os produtores e o elenco estivessem ouvindo os violinos vindos lá do fundo. Se a renovação não vier, não só não teremos um final, como ficará para sempre em evidência o pior dos cenários: Zoey's Extraordinary Playlist deu à sua protagonista o poder especial de ouvir o coração dos outros e terminará tirando dela - ao menos em alguma instância - aquilo que a tornava única.

Nota do Crítico
Ótimo
Zoey's Extraordinary Playlist
Em andamento (2020- )
Zoey's Extraordinary Playlist
Em andamento (2020- )

Criado por: Austin Winsberg

Duração: 2 temporadas

Onde assistir:
Oferecido por

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