Desorganizado, quarto ano de The Witcher escancara crise de propósito da série
Produção segue para sua última batalha com dificuldade de achar o caminho
A escalação de Henry Cavill para o papel de Geralt de Rívia foi um dos principais trunfos de marketing para a The Witcher da Netflix. Vivendo o auge de sua carreira em diversos blockbusters, o ator foi o combustível que fez a série se manter caminhando mesmo em suas horas mais confusas. Por esse motivo, o anúncio de sua substituição por Liam Hemsworth foi motivo de desconfiança. Ainda assim, o novo rosto do Lobo Branco assume o papel em um momento em que a série mostra que a troca é o menor de seus problemas.
As más escolhas se revelam já no primeiro episódio, quando vemos Liam recriar todas as principais cenas do personagem nas primeiras três temporadas. Como se tentasse bizarramente enterrar seu passado ao lado de Cavill, a série abusa do retcon enquanto personagens fora da trama contam as lendas do Carniceiro de Blaviken em voice over. Esse trecho — que toma um tempo considerável do episódio e sequer resume a série adequadamente —, é o primeiro indício de que a trama passa por uma crise interna para reencontrar o seu propósito e um final digno para os fãs da franquia.
Quando Lauren Schmidt Hissrich decidiu que sua série não seguiria à risca os livros de Andrzej Sapkowski, ela possuía um plano claro e consciente da sua versão. Porém, o turbilhão de eventos que acompanhou a troca de elenco parece ter mudado a direção dessa história, que agora adota um tom mais carismático do que sombrio e prioriza o humor à carnificina. Talvez como uma tentativa de conquistar um novo público ou só um jeito de se reinventar, a produção renuncia ao seu próprio espírito em uma aposta arriscada e até agora infrutífera.
Essa falta de rumo é ainda mais amplificada pelas diversas subtramas que, assim como a temporada, não encontram um propósito para estarem ali. É o caso, por exemplo, dos vários novos amigos de Geralt que, por mais bem escritos que tenham sido, não se encaixam com o universo que os recebe. No fim, todos esses rostos inéditos apenas tornam a trama ainda mais superlotada e abre pontas que o último ano certamente terá dificuldades para amarrar.
Do outro lado da câmera as coisas não ficam melhores. A direção de cenas perdeu qualidade e o mesmo vale para a coreografia das lutas. Chutes e socos que não encaixam, sendo possível ver os punhos indo para outra direção. Cenas sem emoção também tiram o brilho do que já foi uma das franquias de ação mais promissoras da atualidade. Quando falamos da qualidade gráfica vemos que este também não é o forte da nova temporada de The Witcher, porém, ela entrega uma experiência até que satisfatória em relação aos demais problemas do novo ano.
Ainda assim, a produção teve seus acertos, como no arco da Loja das Feiticeiras que tem Yennefer (Anya Chalotra) como fio condutor. O toque feminino contrasta bem com a guerra que elas enfrentam e se torna o grande destaque da temporada. Já entre os novos personagens, o Leo Bonhart de Sharlto Copley é um acerto como poucos. Com um texto simples, o ator trouxe tudo o que se espera de um assassino vazio de sentimentos e colocou suas cenas entre as melhores de toda a série da Netflix.
Por esses motivos, a trama de The Witcher precisa superar muitos obstáculos para se corrigir — isso se quiser entregar um final digno do que ela representa. Não é fácil lidar com substituições de elencos, muito menos adaptar uma fantasia medieval tão densa quanto a de Sapkowski, porém, também não é preciso escolher o caminho mais difícil como a série fez.
The Witcher
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