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Créditos da imagem: the sinner/divulgação

Séries e TV

Crítica

The Sinner: Segunda Temporada

Na tentativa de aumentar o choque, segunda temporada tropeça na condução dos eventos

10.11.2018, às 10H35.
Atualizada em 10.11.2018, ÀS 10H53

Quando The Sinner estreou sua primeira temporada, ela anunciava seu diferencial com uma premissa curiosa: uma mulher com uma vida aparentemente normal, comete um crime brutal num acesso de fúria aparentemente aleatório. Aos poucos, o background da personagem foi explicando suas motivações e elas ilustravam de forma metafórica a relação da história com o título da série. The Sinner é sobre passado, sobre contenção de sentimentos e também sobre culpa. Mais sobre culpa interiorizada, como se o sofrimento fosse uma vergonha, muito mais do que a culpa gerada pelo ato hediondo cometido logo nos primeiros minutos de narrativa.

Dessa vez a culpa ganhou uma prateleira solo no arsenal da série, que transformou-se numa pseudo-antologia quando os produtores resolveram trazer Harry Ambrose (Bill Pullman) de volta. O personagem virou a costura entre os casos investigados, sempre mantendo sua oscilação entre frieza e envolvimento, sendo o tipo de protagonista que representa o novo vício da teledramaturgia seriada: homens perturbados, obcecados pela carreira, negligentes com suas vidas pessoais e que escondem segredos escabrosos sobre si mesmos. Então, a série retornou para mais um ano de comportamentos humanos limítrofes e mistérios prontos para serem desvendados.

A mulher comum que se torna uma assassina dá lugar a um pré-adolescente que também mata logo na sequência inicial. O pequeno Julian (Elisha Helig), que está numa aparente viagem de lazer com os pais, serve um chá que ele mesmo fez para o casal que passara consigo uma noite num quarto de hotel. Imediatamente, o chá se revela um poderoso veneno que mata a mulher e o homem que logo descobrimos não serem os pais do garoto. A partir daí as perguntas se instalam e o pequeno assassino é detido, instigando a população daquela que vem a ser a cidade natal de Ambrose. Segredos, passados enterrados em anos de negação, traumas... The Sinner veio para seu segundo ano disposta a chocar.

Pecadores

A série voltou reforçando todas as características que a fizeram notória no primeiro ano. A narrativa tem um ritmo lento, a direção é sombria e o texto estabelece as ligações entre passado e presente, sublinhando a maneira como as ações do presente são dominadas de pesar e culpabilidade. The Sinner não é uma série fácil de assistir, já que a clara intenção dos envolvidos é mostrar como o ser humano é afetado negativamente pelo lixo que vai jogando para debaixo do tapete. É uma série com gente extremamente infeliz fazendo coisas que só piorarão essa infelicidade. De fato, é exatamente essa atração pela dor que acaba atrapalhando os planos da produção.

Esse ano Carrie Coon se juntou ao elenco como a mãe do menino Julian e a narrativa do jovem assassino se encontra com uma storyline sobre uma espécie de culto alternativo, em que pessoas são conduzidas por um líder a passarem por “sessões” que encenam os piores traumas de suas vidas. Esse culto e o crime cometido por Julian atravessam a trama como conectores diretos dos mistérios que precisam ser desvendados na finaleElisha Carrie cumprem suas funções muito bem: são enigmáticos e evasivos na maioria do tempo. Indiretamente, fizeram coisas horríveis para se manterem juntos e se culpam por isso do primeiro ao último episódio.

Novamente os flashbacks ajudam a compor a narrativa e se intercalam com o presente. Eles são importantes para desvendarmos mais do culto onde a personagem de Carrie está inserida. Porém, é como se estivéssemos vendo a mesma história sobre cultos ser contada pela milésima vez. Líder sombrio e cativante, abusos, métodos de tortura psicológica, denúncias... Tudo vai para onde já sabemos que vai. 

Do outro lado, Heather (Natalie Paul) é a oficial da polícia local que ajudará Ambrose nas investigações e ela mesma também tem seus esqueletos no armário. Mais uma vez os roteiros se esforçam muito para estabelecerem o caminho até o culto como o único possível para o nosso entendimento. Então, conforme vai se aproximando da finale, as tragédias vão se acumulando e não necessariamente tem suas explicações condizentes com o que foi estabelecido como maior suspeita. Histórias assim tendem a tentar nos dar a resposta menos prevista. Isso já é parte do gênero. Mas, as respostas de The Sinner abraçam o previsível quando avaliamos a preparação feita para o fim; e resolvem ser surpreendentes na busca por mais choques e traumas. A grande falha está no fato de que exatamente por buscarem tanto a resposta menos clara, os roteiros deixam Ambrose  pouco relevante na resolução dos acontecimentos, o que distorce um pouco os intuitos da narrativa e deformam o resultado final. Ele é quase um investigador que não descobre nada, já que são os envolvidos que entregam as soluções e segredos. Vale o choque, mais que a condução até ele, o que faz a série parecer só uma galeria de violências aleatórias.

Existe uma elegância inegável na preparação de The Sinner, uma compreensão de como suavizar o peso do clichê das “séries de mistério” com cenas apoiadas no talento de seus atores (que é imenso). Contudo, todos sabemos que a métrica é a do mistério/suspeito/“nada é o que parece”/“a culpa é de quem você menos espera”. Espectadores mais atentos sabem disso e sabe-lo não significa que a jornada é menos prazerosa. O elemento humano maior da série se sobressai: a culpa desestrutura o curso da vida como um vírus assintomático. Julian vai carregar a própria e à sua volta estão espelhos de um futuro pouco promissor. A percepção disso é a que mais faz The Sinner crescer.

A segunda temporada já está disponível no Netflix.

Nota do Crítico
Bom
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Onde assistir:
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