Pôster de The Resident

Créditos da imagem: Divulgação/ Fox

Séries e TV

Crítica

The Resident - 1ª temporada

Fox investe no filão das séries médicas e tenta oferecer uma perspectiva nova para o exausto formato

20.08.2018, às 16H32.
Atualizada em 20.08.2018, ÀS 16H45

O episódio piloto de The Resident informa para o público, logo nos primeiros minutos, que os erros médicos são grande parte da mortalidade hospitalar nos EUA. Isso justifica também o teaser da temporada, quando vemos o respeitado Dr. Bell (Bruce Greenwood) cometer um grande erro na sala de cirurgia; erro que é mascarado por uma manipulação hierárquica que coloca os residentes e internos nas mãos dele, criando uma rede de cumplicidade que é vendida para o espectador como o centro dramatúrgico da série. The Resident compreende a força da correnteza e se apressa em evidenciar que está lutando pelo mínimo de originalidade.

A televisão americana (e, talvez, até mundial) está saturada de séries médicas. Quando Grey’s Anatomy estreou, anos atrás, ela já vinha sob um certo estigma de recorrência, justamente porque ER já tinha feito uma longa e bem sucedida carreira. Há uma outra gama de exemplos importantes, mas o sucesso de Grey’s significou vida longa e a referência do público deixou de ser ER e passou a ser o que veio depois. Natural que, por causa do sucesso, a série também acabasse sendo replicada várias vezes. O mesmo para House, que mesmo dentro de uma métrica um pouco diferente, acabou engolindo outra fatia do público. Conseguir se sair bem no meio desse imbróglio era para bem poucos.

A Fox, mesmo assim, resolveu rivalizar com a também bem sucedida The Good Doctor e trouxe para o ar The Resident. É até curioso que The Good Doctor repita um tipo de título que atrai o público que já gostava das outras séries que também o tinham; e que The Resident foque nos signos que fizeram de Grey’s parte do que ela é hoje em dia (até a logomarca do programa é parecida com a da série de Shonda Rhimes). Como é típico desse tipo de recorrência, eles tentam oferecer uma nova perspectiva enquanto replicam códigos que são supostamente eficientes nesse tipo de dramaturgia. É o oportunismo que faz da TV o que ela é hoje.

The Bad Doctors

Numa série sobre negligência médica, a profissional mais interessante é uma enfermeira. Isso é até lógico, já que são os médicos quem protagonizam os piores casos. The Resident, contudo, não é sobre ela. A história começa como começam todas as do gênero: o jovem residente Devon Pravesh (Manish Dayal) chega ao hospital para seu primeiro dia e lá conhece o arrogante e ambicioso Conrad (Matt Czuchry), que aproveita suas habilidades geniais para ser, também, insuportável. Inicialmente, a série passa a ideia de que os dois serão rivais, mas esse antagonismo vai se perdendo pelo caminho pouco a pouco. Essa falta de foco, inclusive, é o grande problema de The Resident.

O Dr. Bell é uma celebridade médica que sofre de uma doença degenerativa que prejudica seus movimentos. Ele não deixa que isso atrapalhe sua reputação e os pacientes é que pagam. Ele vem no radar da enfermeira Nicolette (Emily VanCamp) faz muito tempo. Ela é uma enfermeira diferente... Como com todo protagonista de série médica, ela sabe de tudo, mesmo se recusando a tornar-se uma doutora. Ela tem um romance com Conrad e quer mudar as coisas no hospital. Mas, o Dr. Bell – que começa como a verdadeira ameaça – tem o cargo transferido para a oncologista Lane (Melina Kanakaredes), afinal de contas, o season finale precisa aniquilar alguém – e não pode ser ele.

The Resident começa com uma importante discussão sobre os erros médicos, já que como todos sabemos, alguns desses erros são cometidos sem más intenções, como parte do processo de crescimento de um profissional. Contudo, o foco se torna o erro criminalizado, voltado para o oportunismo financeiro, o que para o público americano é emblemático. Nos primeiros episódios há uma série de situações dramáticas provocadas pela ambição desmedida dos planos de saúde e clínicas especializadas. Quando a série foca nisso, ela consegue fugir das obviedades que a igualam a todas as outras produções do gênero. O problema de The Resident é sua atração pelo folhetim.

Da metade da temporada em diante, os roteiros viram uma novela incontrolável. Lane e Bell viram vilões chapados e Conrad, Nicolette e Devon se unem para tentar derrotar os malvadões. Vale tudo, como era de se esperar. Armações, intrigas e até armadilhas para colocar na cadeia personagens inocentes. Isso sem falar nos clichês que envolvem paternidades inesperadas e lugares na presidência do conselho. The Resident começa com uma voz interessante e nova, mas termina juntando-se ao coro e cantando junto um monte de velhas canções. Seu elenco cheio de rostos conhecidos das séries vai do medíocre para o correto e não segura as pontas como se esperava.

Precisamos admitir, contudo, que seu ritmo intenso e suas reviravoltas causam uma impressão de segurança e qualidade. O público é capaz de dar à atração muitos anos de vida e isso não é um problema, pelo contrário. The Resident só não tem uma noção exata sobre si mesma: ela é uma boa ideia que não suportou a pressão das próprias referências. Caiu no lugar comum, onde nem é tão desconfortável estar, enfim.

Nota do Crítico
Bom

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