Dakota Fanning em The Alienist

Créditos da imagem: TNT/Divulgação

Séries e TV

Crítica

The Alienist - 2ª temporada

Com uma temporada extremamente violenta, série retorna melhor e mais complexa

24.10.2020, às 14H44.

Quando The Alienist estreou em 2018 o trabalho de reconstrução de época que envolvia a identidade artística da série era seu maior atrativo. Não que houvesse um problema com a narrativa, mas, de fato, quando pareada com outros títulos do gênero, o que The Alienist tinha a oferecer era um lindo cenário em torno de uma história somente regular. A sombria Nova York do final dos anos 1800 ajudava a proteger a atração de comparações mais injustas. Contudo, a investigação criminal dentro do universo do seriado estava tão saturada quanto as narrativas oitentistas, os zumbis e os vampiros.

Ainda que bem cuidada visualmente e com as atuações elegantes de seus protagonistas, a série era apenas uma diversão segura, como um procedural que tomou vitaminas e cuidou melhor de sua saúde conceitual. Estava tudo certinho com The Alienist, mas ela era esquecível. As respeitadas habilidades do alienista Laszlo Kreizler (Daniel Bruhl) ao adentrar as psiques de seu alvos não estavam distantes do que se tornou uma recorrência também na nossa época. Há uma infinidade de outras produções em que o protagonista é o gênio da medicina, da polícia ou da ciência, que vai sempre resolver os casos no último minuto. House, Dexter e até mesmo o doutor de The Good Doctor são só alguns exemplos.

Sara Howard (Dakota Fanning) acabou sendo a dona das melhores expectativas desde o começo. A promissora personagem que começa como uma simples secretária e acaba se tornando a primeira mulher detetive da história americana, foi inspirada na figura real de Isabella Goodwin. As semelhanças entre Sara e Isabella são uma parte importante da obra de Caleb Carr (autor dos dois livros que serviram de base para as temporadas), mas a grande surpresa da versão seriada da trama é que Sara se tornou essencial, num movimento que talvez seja o mais ousado e mais funcional da adaptação. Afinal, quem é o Alienista?

A dianteira de Sara na posição de protagonismo, entretanto, não é mera coincidência. A segunda temporada da série (que se chama Anjo da Escuridão, um título dos mais cafonas) é completamente situada no universo feminino, escolhendo uma mulher como criminosa, enquanto seus crimes são investigados por outras, criando uma polarização interessante que revela o esforço de Caleb para escrever uma história mais complexa, que seja mais que apenas um jogo de gato e rato entre mocinhos e bandidos. A série, enfim, consegue a mesma façanha. As mais de 500 páginas do livro viraram 8 episódios que fazem suspense, horror e drama com ainda mais qualidade que no ano anterior.


A Alienista

Em inglês, o artigo definido “the” não concorda com gênero, ou seja, pode ser usado para homens e mulheres. O título da série, então, segue imaculado apesar de tantas mudanças de tom. Laszlo é chamado de alienista, mas o esvaziamento de sua presença nos episódios para dar lugar a sensibilidade de Sara faz com que a palavra acabe deslizando entre um e outro por várias vezes na temporada. De fato, é Sara quem presencia e converge todos os principais eventos. Esse é um detalhe que poderia descaracterizar a série, mas, em um planejamento que faz a maternidade e a misoginia aparecerem como camadas complementares, a posição de Sara não é nada menos que correta.

Não foi só o protagonismo que se reajustou, tampouco. Essa segunda temporada de The Alienist já começa com uma mulher inocente sendo executada na cadeira elétrica. A direção não se acanha... O incontável número de mortes chocantes entre os episódios é gráfico, explícito, até desconfortável. Nem bebês escapam da exposição. Enquanto tenta descobrir quem está capturando recém-nascidos pela cidade, Sara enfrenta perdas dramáticas, confrontos de extremo risco e reviravoltas realmente surpreendentes. Ao contrário do que aconteceu na primeira temporada, a interação direta com a “vilã” da história aumentou o ritmo da narrativa e possibilitou um enredo mais preocupado em esclarecer motivações. O que Caleb Carr pretendia era discutir a ideia equivocada da época de que mulheres não poderiam ter uma mente criminosa.

O mais fascinante desse ótimo ponto de partida é que mesmo tendo uma mulher como uma das piores assassinas de 2020, The Alienist construiu o drama de sua antagonista com o cuidado de manter as motivações no campo daquela mesma opressão, da mesma cobrança, das mesmas moléstias que as mulheres vem sofrendo historicamente e que volta e meia debocham da modernidade nos lembrando que ainda estão por aqui. É claro que a morte nunca pode ser relativizada, mas a questão da temporada é ver essa assassina pela ótica de Sara, que conhece e reconhece cada uma dessas mazelas.

Exibida pela TNT e recém-chegada na Netflix, The Alienist só deve ter uma terceira temporada depois que o novo livro de Caleb Carr sair. A expectativa é grande...A forma como as mulheres encerram essa jornada é poderosa. Merecemos continuar acompanhando essa história protagonizada por quem são, de fato, as verdadeiras alienistas.

Nota do Crítico
Ótimo
The Alienist
Em andamento (2018- )
The Alienist
Em andamento (2018- )

Duração: 2 temporadas

Onde assistir:
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