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Séries e TV
Crítica

Party Down ganha maturidade, mas segue tendo o fracasso como melhor artifício

Espera de mais de uma década pela 3ª temporada gera exercício nostálgico produtivo

Omelete
4 min de leitura
MC
27.04.2023, às 19H20.
Atualizada em 28.04.2023, ÀS 18H43
Ryan Hansen, Zoë Chao, Martin Starr, Adam Scott e Tyrel Jackson Williams EM

Créditos da imagem: Party Down/Lionsgate+/Reprodução

Ainda que seja o objetivo, o sucesso raramente é uma realidade em Party Down. Desde a primeira temporada, não importa se os funcionários do pior buffet de Los Angeles têm uma galinha de ovos de ouro na mão ou a chance de um êxito mínimo qualquer: o fracasso geralmente vem e eles, a contragosto, acabam vestindo aquela gravata borboleta rosa de novo. E de novo.

Em qualquer outro contexto, a repetição poderia ser desgastante, mas em uma comédia ácida, com personagens tão pouco conscientes de si e dos seus absurdos, a reprise é menos um ônus, e mais uma punchline bem-sucedida. Por isso, não é nem um pouco frustrante reencontrar Henry (Adam Scott), Ron (Ken Marino), Kyle (Ryan Hansen) e Roman (Martin Starr) carregando bandejas e servindo aos ricos e famosos na 3ª temporada da série, mais de uma década depois do seu “final”. Na realidade, para além da recompensa nostálgica, a função básica de qualquer revival, é até adequado que seja assim. Party Down é, por essência, um comentário sarcástico sobre a indústria, inclusive considerando sua faceta cíclica e cínica, e algumas coisas apenas não mudam. A rejeição constante é com certeza uma delas.

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Ironicamente, esta é a mesma razão pela qual a série não pode se dar ao luxo de parar no tempo. Para manter seu olhar sobre Hollywood relevante, não só era preciso reconhecer que agora as redes sociais desempenham um papel central para qualquer um que sonhe com uma carreira no showbiz — seja para fazer o nome de alguém, seja para cancelá-lo —, como também era imprescindível repensar algumas de suas antigas muletas. Felizmente, o roteirista John Enbom faz da necessidade uma oportunidade de renovar Party Down, na mesma medida que ri dos seus antigos exageros.

É assim que ele adiciona Sackson, por exemplo. O personagem do divertido Tyrel Jackson Williams compete com Kyle no quesito falta de noção, e traz uma perspectiva da geração Z num meio dominado por pessoas que, por mais otimistas que possam permanecer, já sentem o peso da idade e dos anos de decepções. De forma análoga, Enbom aproveita o estado de vigilância coletivo para puxar o tapete de uns de seus protagonistas com um aceno a um momento memorável da 2ª temporada, que talvez fosse muito delicado para ir ao ar hoje.

É importante frisar, no entanto, que esse exercício de atualização não implica em nenhum tipo de descaracterização, porque Party Down continua se arriscando. Veja, em um dos melhores episódios dessa temporada, Nick Offerman interpreta um líder neonazista que, em um lapso de gentileza, é a única pessoa a reconhecer e entender as criações da chef interpretada por Zoë Chao. Ela, então, é deixada em uma posição delicada: aceitar ou não o raro elogio. Embora não existam dúvidas sobre o caráter do seu interlocutor, é hilário ver seu embaraço e sua indecisão sobre atender seu ego ou seus valores. Quer dizer, a série ainda navega por temas que podem ser sensíveis, mas o faz com mais segurança e sem perder a graça. Porque a verdade é que a reacomodação na correção política e nos discursos dos anos 2020 beneficia e muito a comédia.

O olhar sexista, antes tão presente na série — ora como uma piada incômoda, ora como um apelo desesperado por audiência —, agora não se encaixa mais. Então, enquanto o espectador é poupado de alguns constrangimentos, como a recorrência de figurantes nuas sem qualquer razão, Roman é ressignificado como uma pessoa amarga sim, mas não um incel. Nesse sentido, mesmo a ausência de Lizzy Caplan por uma infeliz incompatibilidade de agendas é bem aproveitada. Sem o vai e vem do relacionamento entre Casey e Henry, uma dinâmica elementar do seriado, Party Down introduz mais uma personagem particular com Evie, a produtora bem-sucedida de Jennifer Garner.

Mais do que não tratá-la como uma simples réplica de Casey ou um tapa-buraco — o que, convenhamos, era o mínimo —, Party Down apresenta com ela um contraponto interessante aos demais personagens, não só pela sua personalidade doce, mas principalmente por ser uma das poucas pessoas que chegou lá. É a sua presença que coloca Henry para se questionar, mais uma vez, sobre suas ambições, e é com ela que ele tem pela primeira vez um lampejo de felicidade. Em outras palavras, Evie personifica uma maturidade que, embora os personagens não acessem com frequência, suas linhas faciais de expressão não deixam negar.

Até mesmo o mais esperançoso deles eventualmente admite o desgaste do tempo — aliás, em um momento surpreendentemente afetuoso. “Estou preso em um desenho animado”, Ron diz, diante de mais uma mancada. No final, não adianta: há um charme particular em acompanhar um grupo de personagens fadados ao fracasso. Senão para não se sentir só, para vê-los levantando e tentando de novo.

Party Down está disponível no Lionsgate+

Nota do Crítico

Party Down

Em andamento (2009- )

Criado por: John Enbom, Dan Etheridge e Paul Rudd
Duração: 3 temporadas
Onde assistir:
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