Seguir a apoteótica segunda temporada com uma leva de episódios repleta de experimentação, riscos e histórias partidas no meio foi uma decisão pra lá de arriscada para O Urso. O terceiro ano da série de culinária do FX merece sua parcela de reconhecimento, e é compreensível que os criadores Christopher Storer e Joanna Calo tenham decidido ousar mais quando sabiam que uma quarta temporada já estava garantida. O que é difícil de saber, porém, é se a atitude quase envergonhada que a série adotou agora já era prevista antes da recepção mista do ano passado.
Enquanto Carmy (Jeremy Allen White) passa a reconhecer, cada vez mais, que a forma imprevisível, absolutista e dissonante com a qual estava conduzindo o restaurante The Bear era mais prejudicial do que benéfica, O Urso faz o mesmo. A nova temporada faz – para usar termos gastronômicos – o feijão com arroz que transformou a série num sucesso para começo de conversa. O drama é mediado pelo calor confortável das relações, o frenesi do dia-a-dia oferece espaço para humor, participações especiais de atores famosos surpreendem aqui e ali, e episódios focados em apenas um personagem (a vez agora é da Sydney de Ayo Edeberi, e o resultado é um dos melhores capítulos da temporada) são equilibrados com episódios grandiosos que reúnem praticamente todo o elenco.
E, como feijão que arroz que é, a quarta temporada de O Urso não tem muito a adicionar em cima disso tudo. Há capítulos fantásticos, como o do casamento da ex-mulher de Richie (Ebon Moss-Bachrach), que deixarão fãs da série sorrindo de orelha a orelha, e o fluxo geral da temporada flui de maneira natural e bem-vinda, conferindo à série o sentimento de progressão ausente na temporada passada, ainda que – especialmente devido à decisão de sempre lançar todos os episódios de uma vez – partes da narrativa se percam em meio ao todo.
A verdade é que a nova temporada, uma que retorna o foco para o interior da cozinha e ao que move os personagens ali dentro, sofre praticamente apenas por não conseguir igualar o sucesso das duas primeiras. Se ali o aproveitamento era de 100%, e cada minuto parecia necessário, urgente e valioso, aqui estamos operando em 70%. Para cada três pratos deliciosos, sai uma refeição insossa da cozinha de Storer e Calo.
Não ajuda que o final da temporada – um que pode ter sido o final da série, mas chutamos que não – seja tão pouco satisfatório. O capítulo que encerra o quarto ano de O Urso tira o pé do acelerador e foca em apenas algumas cenas com o trio principal, e por mais que este seja uma exibição maravilhosa das atuações de Allen White, Moss-Bachrach e Edeberi, o finale termina com pontas soltas demais. Se não viesse após uma terceira temporada que literalmente acabou com um “Continua…”, talvez essa jogada fosse mais perdoável. Aqui, ela se revela frustrante.
Sabemos que o plano original de Storer para a série, um que foi alterado devido ao sucesso de audiência e premiação, era de três temporadas. O trecho da história que foi dividido é justamente o que se encerra aqui, e o que vier a seguir (a renovação para a quinta temporada ainda não veio, mas Storer já disse que há ideias) será algo completamente novo. No momento, isso parece ser exatamente o que O Urso precisa.
O Urso
Criado por: Christopher Storer
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