O Rei da TV foca no Silvio Santos político em 2ª temporada mais convencional

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Crítica

O Rei da TV foca no Silvio Santos político em 2ª temporada mais convencional

Campanha presidencial em 1989, sequestro em 2001 e fraude em 2010 pontuam trama do retorno da série

Omelete
4 min de leitura
07.04.2023, às 18H29.
Atualizada em 07.04.2023, ÀS 18H40

Se o primeiro ano de O Rei da TV brilhava mais forte quando admitia eventuais imprecisões históricas como componentes de cenários farsescos e interpretativos, a segunda temporada da série sobre Silvio Santos abraça o desafio de enveredar por um caminho divergente (e mais delicado): ficcionalizar fatos mais recentes e vivos na memória nacional, encarando de frente o inevitável escrutínio que virá de espectadores tradicionalistas. Afinal, munidos de múltiplos registros históricos daqueles que são os episódios de crise mais midiatizados da vida do apresentador, esses podem amplificar o ruído que atrapalha a compreensão da produção como equilíbrio entre biografia, paródia e comentário artístico.

O resultado disso é que o novo ano da série do Star+ sublinha a dificuldade enfrentada pela produtora Gullane Entretenimento, pelos diretores Marcus Baldini (na primeira temporada) e Julia Jordão (na segunda), e pela equipe de roteiristas guiada por André Barcinski e Ricardo Grynszpan, no equilíbrio entre reprodução fiel de fatos e alterações necessárias para que uma biografia não autorizada tenha acesso a nomes e iconografias essenciais. Mais vulnerável e atarefada, portanto, a narrativa desse retorno acaba assume um formato menos ousado e mais convencional; o que nem sempre trabalha em prol de sua qualidade.

Depois de encerrar a temporada inicial com um gancho para a frustrada candidatura de Silvio Santos à Presidência do Brasil, em 1989, O Rei da TV retorna alternando foco entre a crise instaurada por uma fraude bilionária no Banco Panamericano, em 2010, com o mergulho do Homem do Baú na política nacional. Eventualmente, os desdobramentos dos dois episódios abrem caminho para uma terceira via narrativa: a intersecção entre a guerra de audiência travada por Globo e SBT no final dos anos 1990 e os sequestros de Patricia Abravanel e do próprio Silvio, em 2001.

A exemplo do que aconteceu na temporada de estreia, O Rei da TV inicia seus saltos temporais de forma didática, com letreiros que situam cada época, para depois adotar o corte seco como ferramenta de transição. Diferentemente de antes, entretanto, só José Rubens Chachá encarna o dono do SBT, o que deixa a cargo de direção de arte e fotografia o papel de rapidamente diferenciar cada faixa temporal. O desafio, que se inicia muito bem conduzido até a metade da nova temporada, acaba desaguando em um clímax um tanto quanto confuso — onde crise de audiência, sequestro e manobras financeiras recebem o mesmo peso dramático e se alternam sem que isso sempre faça sentido dramático.

Se essa dissonância acontece mais por questões de montagem e ritmo é porque há segurança na direção de Jordão em amarrar tematicamente todos os saltos no tempo. Embora retratem episódios distintos da trajetória de Silvio Santos, todos eles apresentam facetas complementares do apresentador, enquanto uma figura política. Mais do que retratar o poder de Silvio nos palcos, a segunda temporada de O Rei da TV quer analisar como ele o converteu em blindagem para muito além das câmeras, e o faz de maneira sucinta, mas competente.

O que definitivamente não muda em relação ao ano de estreia da série é a qualidade e segurança com a qual o elenco principal, em especial Chachá, habita seus personagens. Agora com mais espaço, Leona Cavalli assume o papel de bússola emocional da temporada, enquanto a jovem atriz Bárbara Maia desenvolve bem uma versão não necessariamente simpática, mas narrativamente essencial, de Patricia Abravanel. Indo além no número e na importância de recriações históricas da TV brasileira, a nova temporada ainda vê sua cena sendo roubada por incríveis interpretações de ícones como Elke Maravilha e Gil Gomes, além de participações de figuras políticas histórias como Paulo Maluf e o atual presidente, Luís Inácio Lula da Silva.

Mais uma vez olhando com sensibilidade artística para a nossa própria cultura popular, ainda que sem repetir essa prática com o mesmo arrojo de sua estreia, O Rei da TV segue envolvente e divertida (passagens como a dança de Jean-Claude Van Damme no Domingo Legal são irresistíveis) e com espaço e potencial para se estender por mais anos. Afinal, histórias reais ou não, protagonizadas por Silvio Santos, não faltam para serem adaptadas.

Nota do Crítico
Bom
O Rei da TV
Em andamento (2022- )
O Rei da TV
Em andamento (2022- )

Criado por: Marcus Baldini, André Barcinski e Ricardo Grynszpan

Duração: 2 temporadas

Onde assistir:
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