Cena de O Eternauta (Reprodução)

Créditos da imagem: Cena de O Eternauta (Reprodução)

Séries e TV

Crítica

Com Ricardo Darín, O Eternauta diminui a ação das HQs - mas aumenta a tensão

Série da Netflix faz mudanças chave para adaptar parte da obra em 6 episódios

Omelete
4 min de leitura
02.05.2025, às 15H53.

Já sabia da importância histórica da HQ argentina O Eternauta, criada por Héctor Germán Oesterheld e desenhada por Francisco Solano López entre 1957 e 1959. Porém, nunca tinha lido a obra até poucos dias atrás. Isso porque, além da versão original, o próprio autor se lançou a recriar a HQ em 1969 e depois ainda vieram sequências e spin-offs, com novos autores e desenhistas, o retorno de Solano López... enfim, uma bagunça digna de um viajante no tempo. Sem saber muito bem por onde começar, posterguei minha viagem a este universo até o início do ano, quando a editora Pipoca & Nanquim lançou a HQ por aqui, em timing perfeito com a estreia da série na Netflix

E preciso dizer que valeu a espera. 

Apesar de ter um estilo pesado, com muito texto, vários diálogos e recordatórios que começam em um quadro e terminam em outro, e uma história cheia de "sacadas geniais" por parte de seus protagonistas - sinal dos tempos em que foi criada -, a aventura é emocionante. Mesmo assim (ou talvez por causa de tudo isso), foram algumas semanas para conseguir terminar o livro.

Imaginava, também, que a aguardada série da Netflix seguiria a mesma toada aventuresca, que o próprio autor diz ter emprestado de Robinson Crusoé. Mas depois dos quatro capítulos iniciais a que tive acesso antes da estreia, uma coisa já estava clara: O Eternauta (2025) criado pelo cineasta Bruno Stagnaro (da cultuada série Okupas) e seu co-roteirista Ariel Staltari (que faz parte do elenco de O Eternauta) é bem diferente da HQ. Não em conteúdo, mas em foco. 

A história começa igual. Um grupo de amigos que se reúne sempre para jogar truco (a versão argentina do jogo) e tomar uísque escapa da morte por sorte, perspicácia e um espírito acumulador do dono da casa onde a jogatina acontece. Eles são alguns dos poucos sobreviventes daquela estranha neve que caiu sobre Buenos Aires (e, depois descobrimos, no mundo inteiro) durante o verão, matando instantaneamente quem por ela era tocado.

Juan Salvo (Ricardo Darín) deixa de ser o dono da casa, como nas HQs, mas ganha ainda mais protagonismo e novos desafios. A trama, por exemplo, é transportada para os dias atuais, e ele agora é um veterano da Guerra das Malvinas, divorciado, que precisa achar a filha que estava na casa de uma amiga durante os eventos apocalípticos. Até por isso, Salvo passa boa parte do tempo sozinho, andando pelas ruas da capital argentina. 

Na HQ, a presença de um professor de física no grupo de truco faz com que tudo seja prontamente explicado ao leitor, mas na série - ainda mais em 2025! - este excesso de exposição não funcionaria. Vivemos em uma época diferente. O futuro pós-apocalíptico infelizmente está muito perto de nós, e já sabemos tudo o que pode nos levar a ele. À equipe técnica de O Eternauta, basta garantir que a neve que cai sobre Buenos Aires seja sufocante como as máscaras velhas que os sobreviventes usam, pintando de branco a mancha da morte que toma a capital portenha. 

Certamente não são mudanças que maculam a história de Oesterheld e Solano López, cujo foco principal é mostrar que a verdadeira força da humanidade está no coletivo. Aliás, o tema é certeiro demais. Neste momento em que vivemos cada vez mais afundados em celulares, a série aponta na discussão do analógico e do social. E claro que a nossa experiência recente com a pandemia de Covid-19 também vai reverberar forte na cabeça de muita gente. Afinal, de uma hora para outra, tivemos que nos fechar em casa, com medo de algo que estava no ar, e só conseguimos sair nas ruas usando máscaras. Assim como os personagens.

Cenários digitais e físicos são muito bem utilizados pela série, e quase tudo é tecnicamente perfeito, com exceção de algumas tomadas dos cascudos (os insetos gigantes e mortais que atacam os humanos), que nem sempre surgem de forma orgânica. Há também um problema na atuação dos "homens-robô", que nem sempre aparecem na tela tão sem-vida quanto a HQ os descreve. Mas o que mais senti falta foi da ação, principalmente porque estava esperando ansiosamente pela batalha do estádio do River Plate. Infelizmente, o Monumental de Nuñes aparece apenas de longe, todo aceso, como um "teaser" do que pode vir pela frente.

Ao fim do último episódio, Juan Salvo entende o que são seus "apagões" - ou seja, estes seis episódios foram apenas a introdução do que vem pela frente.Segundo o próprio Darín, os roteiros da sequência já estão sendo escritos e a expectativa só aumenta. Vamos lembrar que, na Argentina, o Eternauta é um ícone contra a ditadura, comumente visto em grafites pelas ruas. Oesterheld e suas filhas foram sequestrados e jamais encontrados durante este violento capítulo que vivemos na América do Sul. Somar tudo isso com a figura de Darín faz com que O Eternauta seja o projeto audiovisual mais importante do país vizinho em muito tempo. 

A nós, espectadores, só resta esperar. Ou viajar no tempo, como o Eternauta.

Nota do Crítico
Ótimo

O Eternauta

Criado por: Bruno Stagnaro

Onde assistir:
Oferecido por

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