Nada Suspeitos não é nada a não ser uma imensa perda de tempo

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Séries e TV

Crítica

Nada Suspeitos não é nada a não ser uma imensa perda de tempo

Inspirada nas tramas de mistério revigoradas por Entre Facas e Segredos, série da Netflix é uma paródia ruim sem nenhum atrativo verdadeiro.

Omelete
4 min de leitura
22.08.2022, às 12H42.
Atualizada em 22.08.2022, ÀS 13H05

Embora as referências da geração atual sejam outras, é difícil encontrar quem não tenha ouvido falar de Agatha Christie, a maior escritora de mistérios policiais da história. Mesmo que o mais desavisado não conheça o nome, ele conhece o gênero, o estilo, a narrativa; ele é capaz de reconhecer a estrutura de uma dessas histórias, que sempre inclui um crime misterioso, um detetive e um monte de suspeitos. Ainda que Sherlock Holmes vá muito mais distante que Agatha, ela funciona como uma espécie de estabelecedora de tudo que o sabemos sobre esse formato.

Em 2019, o diretor Rian Johnson conseguiu conquistar indicações ao Oscar por conta do divertido Entre Facas e Segredos, que brincava com todo esse universo e apostava num texto ágil e em atuações de grandes nomes do cinema. É importante que consideremos o fato de que se todas as histórias vão seguir mais ou menos pelo mesmo caminho, os detalhes são valiosos para tirar o produto final do lugar-comum. Nesse caso, a direção, a edição, podem ajudar muito o texto a funcionar melhor, ainda que não seja tão bom.

Nada Suspeitos chegou até a Netflix sob a tutela de dois nomes que praticamente a resumem: Leandro Soares e César Rodrigues. A dupla é oriunda do Vai Que Cola, o sucesso do Multishow que misturou alguns códigos do Sai de Baixo (programa de 1996 gravado num teatro) com um humor escrachado e caótico, demarcado por muitos gritos e nenhum compromisso com os roteiros. O forte do formato do Vai Que Cola é a eficiência em manter um elenco grande, dentro de praticamente um mesmo cenário, contando uma história que depende do carisma dos atores para funcionar.

A trama de Nada Suspeitos é extremamente básica, como habitual no gênero. Três mulheres procuram um playboy milionário em sua mansão, acompanhadas de suas famílias, para confrontá-lo. Na mesma noite dessa reunião, o homem morre assassinado, e enquanto segue a tentativa de entendimento do que vai acontecer com a herança do sujeito, todos decidem permanecer na casa, ao mesmo tempo em que são investigados por um detetive que não conseguiria prender nem a respiração se quisesse. No imenso elenco temos nomes de peso como Marcelo Médici, Fernanda Paes Leme, GKay, Rômulo Arantes Neto, Duh Moraes, Thati Lopes e Silvero Pereira. Com atores como esses, pareceria impossível não manter ao menos o carisma do enredo. Infelizmente, nem isso salva a série do desastre.

Nada mesmo

Os nove episódios se arrastam pela temporada, respeitando a linguagem pela qual os criadores Leandro e César são conhecidos. O humor oscila entre ser físico, tosco, ingênuo e, em poucas pitadas, referencial. As piadas que mais funcionam são aquelas que trazem detalhes da cultura pop, citam filmes, celebridades, memes, escapam da fórmula paródica que parece ser emulada a cada 10 linhas do texto. É uma comédia, e as comédias se descolam mais intensamente da realidade. Contudo, as situações são abobalhadas, carecem do mínimo sentido e o pior; não são engraçadas.

Saber quem matou o tal personagem não tem nenhuma importância, nenhuma das situações gera nenhum senso de perigo e as relações entre os suspeitos são completamente superficiais e desinteressantes. É importante reforçar que não estamos diante simplesmente de um preconceito ou uma “má vontade” com o tipo de humor promovido por esse tipo de obra. De certa forma, essa é uma linguagem confortável, honesta com seus objetivos, mas que não tem escopo e justificativa no mercado. Parece um episódio do Vai que Cola, mas não é; parece uma paródia de Entre Facas e Segredos, mas não é... Até a forma como o título da série aparece na tela – com uma fonte infantil sendo coberta de sangue – entrega a pobreza conceitual do produto. É como se ele só estivesse cumprindo uma cota, uma cláusula, existindo por existir mesmo sem nada a dizer.

Ninguém do elenco se salva – e nem poderia com o tipo de texto que é oferecido pelos criadores. Mesmo assim, Marcelo Médici dá tudo de si para tornar crível aquele detetive e aquela sistemática que nada tem a ver com a identidade do nosso país. A série, aliás, não se entende com isso em momento algum e tudo parece deslocado, da polícia até a tosca presença de um mordomo. Silvero Pereira é sempre austero e elegante em cena, mas surpreende que tenha topado estar ali só para cumprir a exigência do humor gay. Todo o restante desse elenco é correto, não atrapalha os objetivos da direção, mas tampouco parecem dirigidos.

Há um absurdo gancho para a segunda temporada que só estica a falta de verossimilhança até o limite do suportável. Nada Suspeitos é outra infeliz incursão da nossa dramaturgia no streaming; uma produção que só depõe contra nosso talento, o que não é certo e nem justo. Podemos fazer melhor que isso, sem dúvida nenhuma. 

Nota do Crítico
Ruim
Nada Suspeitos
Em andamento (2022- )
Nada Suspeitos
Em andamento (2022- )

Criado por: Leandro Soares e César Rodrigues

Duração: 1 temporada

Onde assistir:
Oferecido por

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