Não há nada de novo no formato de Modernos de Meia Idade. Dos três amigos que decidem morar juntos para passar o resto de suas vidas à temática voltada para o público LGBTQIAPN+, quase todos os elementos principais da nova série do Disney+ parecem batidos - e não é por acaso. A produção foi idealizada pela dupla Max Mutchnick e David Kohan, as mentes por trás de Will & Grace, série que virou hit entre os anos 1990 e 2000 ao abordar pautas voltadas para o público gay em uma época na qual a TV norte-americana ainda engatinhava em sua luta contra o conservadorismo. Dez anos antes, a clássica Super Gatas (The Golden Girls, no original) empílhou estatuetas do Emmy ao contar a história de quatro amigas da terceira idade que dividiam o mesmo teto. Com tantas referências anteriores, Modernos de Meia Idade parece chegar tarde para uma festa que já está lotada. Mas só parece.
Cientes de que não estavam reiventando a roda, Mutchnick e David Kohan encontram espaço para Modernos de Meia Idade ao reaproveitar clichês que (quase) sempre bombaram em produções hétero normativas. Os clichês da loira burra e do hétero metido/narcisista ganham nova roupagem para abraçar, como já disseram os próprios atores da série, o público gay de todas as idades. E a fórmula, mesmo que sem apresentar nada de novo, funciona.
Parte deste acerto se deve puramente à química do trio protagonista Bunny (Nathan Lane), Arthur (Nathan Lee Graham) e Jerry (Matt Bomer). Após a morte de um amigo em comum, Bunny decide convidar os outros dois para morar na mansão que divide com sua mãe, a antipática e sem papas na língua Sybil (Linda Lavin), para que não se afastem mais pelos percalços da vida. Os três abraçam os estereótipos de seus personagens sem vergonha alguma. Talvez o fato de ser voltada para o público LGBTQIAPN+ ajude a série a se safar com algumas piadas - Two and a Half Men, com seu humor heteronormativo e proposta semelhante, envelheceu mal mesmo pouco tempo após seu encerramento.
Modernos de Meia Idade certamente não é inovadora, mas tem muitos momentos hilários. Bunny, Arthur, Jerry e Sybil têm origens únicas e trazem um ar de familiaridade para quem já é fã do formato. O fato de ser lançada direto para o streaming também parece ter dado mais liberdade aos criadores, cujas piadas envolvendo o apetite sexual de seus personagens talvez não teriam espaço na TV aberta num país que vive nova onda de conservadorismo.
Embora seu humor seja fluído e o elenco enérgico, a série não vai mudar o cenário das sitcoms - mas nem é seu objetivo. Em vez disso, Modernos de Meia Idade oferece mais do que alguns momentos de gargalhadas: há momentos constragedores e emotivos, principalmente no episódio que aborda a morte de Linda Lavinde, que faleceu antes do encerramento das gravações. Para quem não sabe o que assistir nesta vasta opção de streamings, uma série agradável e de baixo risco pode ser exatamente o que o público está procurando.
Modernos de Meia Idade
Criado por: Max Mutchnick e David Kohan
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