Cena de Love, Death + Robots

Créditos da imagem: Netflix/Divulgação

Séries e TV

Crítica

Love, Death + Robots | 3º ano abraça o niilismo, mas sem perder a ternura

Maioria dos nove novos curtas da série antológica escrutinizam o valor da vida humana

Omelete
3 min de leitura
02.06.2022, às 19H50.
Atualizada em 02.06.2022, ÀS 21H25

Há algo de diferente na capacidade da ficção científica em usar aquilo que nos cerca para que enxerguemos melhor o que há dentro de nós, e a série antológica de animação Love, Death + Robots entende esse potencial como poucos produtos artísticos que temos. Em sua terceira temporada, a criação de Tim Miller (Deadpool),produzida ao lado de David Fincher (Se7en - Os Sete Crimes Capitais), traz amor, morte e robôs (é claro), mas os emprega majoritariamente em prol do niilismo e da crítica social. Abrindo mão de sutilezas em seu humor, mas tratando com delicadeza as questões existencialistas que ataca, esse novo ano consegue igualar o alto nível estabelecido na estreia da série — que teve o luxo de comportar 18 episódios —, mesmo que traga só nove curta-metragens inéditos.

Pode soar monotemático que seis deles sejam bem diretos em suas mensagens de escrutínio ao real valor da vida humana, mas a repetição de Love, Death + Robots se dá sempre por meio de variações cativantes em forma e conteúdo. Há o pacto faustiano de “Bad Travelling”, com sua animação caricaturizada, mas altamente fotorrealista; a espetacular e melancólica rendição em “The Very Pulse of the Machine”, com traço lisérgico e tomado de cores; a irrelevância irônica do extermínio de “Night of the Mini Dead”, que faz da sua expansividade frenética um recurso claustrofóbico; a gratuidade da violência e a imbecilidade de “Kill Team Kill”, um cartum satiricamente hiper-masculinizado; a dor de aceitar a própria insignificância em “Swarm”, com seu visual que comanda seguramente a ojeriza do espectador; e o horror cósmico lovecraftiano de “In Vaulted Halls Entombed”.

Para balancear o que poderia ser visto apenas como um rodízio de ficção científica fatalista, o novo ano da série da Netflix também dá vazão ao humor e à ternura, começando pelo retorno dos simpáticos protagonistas de “Three Robots: Exit Strategies” (do episódio de estreia da série, em 2019). Mais do que tirar onda com a paixão da internet por gatos, o trio agora é instrumentalizado em uma crítica irritantemente didática ao conservadorismo americano — mas, ainda assim, divertida. O fofo “Mason’s Rats” não opõe essa falta de sutileza, mas traz uma subversiva história de superação que também funciona como grato escape do niilismo predominante na temporada. E, por fim, o trágico, magnético, deslumbrante e angustiante “Jibaro” oferece um encerramento único, uma experiência sensorial e emocional tão singularmente afetiva que parece pertencer a uma categoria só dela.

Como em toda antologia que se preze, o novo ano de Love, Death + Robots traz pontos mais altos e mais baixos — com os principais destaques sendo a direção primorosa de Fincher em “Travelling”, a performance tocante de Mackenzie Davis (Blade Runner 2049) em “Machine” e o mergulho sinestésico pensado e realizado magistralmente por Alberto Mielgo (The Windshield Wiper) em “Jibaro” —, mas o grande mérito dessas novas histórias está na regularidade. Até quando abraçam o pedestrianismo, elas o fazem de forma consciente, piscando para o público.

Essa consciência artística, por si só, já eleva a terceira temporada muito acima do irregular segundo ano da série. Mas é na compreensão do niilismo não como ponto final, mas sim como ponto de virada — de alerta, se preferir — que ela se equipara à celebrada temporada inicial. Mais do que nos lembrar que nossa percepção de realidade pode ser um mero grão de areia no vasto deserto do universo, Love, Death + Robots quer que enxerguemos essa aparente insignificância como ferramenta de libertação. Como fio-condutor que torna este amontoado de nove episódios o mais coeso da produção até hoje, há o pensamento de que, talvez, seja apenas sem o peso que a auto-grandeza humana nos impõe que consigamos alçar voos e alcançar sonhos há anos projetados na ficção científica. Só talvez.

Nota do Crítico
Ótimo
Love, Death + Robots
Em andamento (2019- )
Love, Death + Robots
Em andamento (2019- )

Criado por: Tim Miller

Duração: 3 temporadas

Onde assistir:
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