Locke & Key (Netflix/Divulgação)

Créditos da imagem: Locke & Key (Netflix/Divulgação)

Séries e TV

Crítica

Locke & Key sabe hora de parar, mas não se preocupa em se corrigir no último ano

Série traz final coerente para a jornada da família Locke e suas chaves mágicas

Omelete
4 min de leitura
12.08.2022, às 17H26.

Em uma indústria em que a audiência costuma mandar mais que a criatividade, é sempre válido reconhecer histórias que compreendem a própria extensão e sabem quando chega a hora de acabar. Locke & Key é um desses bons exemplos. A trama da Netflix chega à sua terceira e última temporada sem abandonar as más escolhas que fez no caminho, mas compensando suas falhas com uma história coesa, que encontra um fim crível dentro do universo que ela mesmo criou.

A série se baseia na HQ homônima escrita por Joe Hill e ilustrada por Robert Rodriguez e conta a história da família Locke, que após o assassinato do pai se muda para a antiga casa da família na pacata cidade de Matheson. Lá, os irmãos começam a descobrir chaves mágicas que possuem habilidades únicas, como abrir portas para qualquer lugar e até viagem astral. Na primeira temporada, o inocente Bode (Jackson Robert Scott) liberta acidentalmente Dodge (a brasileira Laysla de Oliveira), um demônio preso no poço da casa, que se torna a grande vilã da série. Com o objetivo de controlar todas as chaves, ela inicia uma caçada contra os Locke e obriga os irmãos a lutarem contra ela.

Após ser parcialmente derrotada na primeira temporada, a vilã retorna no corpo de Gabe (Griffin Gluck), um dos amigos de Kinsey (Emilia Jones). A trama então adota um ar mais complexo, com o demônio mostrando seus primeiros sinais de sentimento humano ao ser pego na dualidade de amor e ódio contra Kinsey. Com um grande final, a trama do segundo ano se encerra com o vilão principal derrotado e uma nova ameaçada ainda mais perigosa surgindo — o Frederick Gideon de Kevin Durand.

O terceiro ano retorna com um início muito arrastado e um novo vilão sem objetivos claros em um primeiro momento, causando um ruído desconfortável, como se ele estivesse ali apenas para que a temporada ter um vilão para chamar de seu. As coisas melhoram quando ele descobre como fundir o mundo humano e o dos demônios, fato seguido pela aparição de uma Dodge de outra linha do tempo. Ainda assim, o antagonismo perde espaço para a trama envolvendo a relação familiar dos Locke, já que a família retorna com Tyler (Connor Jessup) sem memórias da magia das chaves e a mãe Nina (Darby Stanchfield) assombrada pelas memórias da sua dependência alcoólica.

Mas independentemente do núcleo que ganhe foco em cada episódio, a ingenuidade seletiva da família Locke continua sendo um grande desafio para o espectador que se aventura a acompanhar a série. Algumas escolhas do roteiro colocam o elenco em situações que parecem ter sido criadas para desafiar a suspensão de descrença do público, como em cenas em que derrotar os inimigos é uma escolha óbvia, simples e rápida, mas os personagens preferem correr para outro lugar por qualquer outro motivo. Talvez, se a série fosse voltada para o público infantil, isso nem sequer seria um problema, mas com classificação indicativa para maiores de 16 anos, espera-se algo mais crível e maduro nesse sentido.

Há momentos em que cenas mal dirigidas também colocam em risco a experiência do espectador, como quando o grupo de adolescentes amigos de Kinsey desovam o corpo de Eden (Hallea Jones) no mar como se não fosse nada. A personagem teve desenvolvimento nas temporadas anteriores e existia uma história entre eles, mas isso dá lugar a um sentimento de indiferença quando eles arremessam seu corpo do penhasco. Essa falta de empatia torna o desfecho da personagem, que poderia ser algo memorável, em apenas mais um momento descartável da série.

Ainda assim, a trama principal focada na relação dos Locke com as chaves e o mundo dos demônios tem um encerramento coerente, apesar de não ser nada empolgante. A série compensa colocando o desfecho das chaves em um fim aparentemente definitivo e encerrando a história da mesma maneira que começou: jovens normais explorando uma nova fase da vida.

Carismática e envolvente, Locke & Key consegue entregar três anos coerentes e com poucos furos, fechando um ciclo de maneira aceitável e sem ofender a afeição dos fãs pela série. Com pouca ou quase nenhuma possibilidade de ganhar um spin-off sequencial, a trama compensa abrindo caminho para quem sabe um derivado prequelar. Reconhecendo sua dimensão, a produção termina no alto, sem perder oportunidades de testar seus limites.

Nota do Crítico
Bom
Locke & Key
Encerrada (2020-2022)
Locke & Key
Encerrada (2020-2022)

Criado por: Carlton Cuse, Meredith Averill e Aron Eli Coleite

Duração: 3 temporadas

Onde assistir:
Oferecido por

Omelete no Youtube

Confira os destaques desta última semana

Omelete no Youtube

Confira os destaques desta última semana

Ao continuar navegando, declaro que estou ciente e concordo com a nossa Política de Privacidade bem como manifesto o consentimento quanto ao fornecimento e tratamento dos dados e cookies para as finalidades ali constantes.