Esquecida pelo tempo, Jack Ryan encontra fim digno em sua quarta temporada
Série que consolidou John Krasinski como astro de ação se despede de forma agridoce
Lançada em 2018, Jack Ryan encerra a sua trajetória em sua quarta temporada deixando um sentimento agridoce. Após estrear louvada pela crítica como um dos grandes títulos do Prime Video, a série estrelada por John Krasinski (The Office, Um Lugar Silencioso) terminou como uma mera sombra do hit que prometeu ser – mesmo que sua despedida tenha sido, de fato, digna.
A primeira grande pedra no sapato de Jack Ryan foi a sua segunda temporada. Depois de um primeiro ano conciso e que soube trabalhar bem todos os elementos necessários para uma boa série de espionagem, a leva de episódios seguintes quase destruiu o bom caminho que havia pavimentado. O excesso de patriotismo norte-americano, misturado com resoluções pouco críveis para dar ao protagonista um estado de herói “clássico”, sufocou a narrativa e ofuscou as ótimas cenas de ação gravadas com muita pompa ao redor do mundo.
A segunda - e definitiva - pedra que desviou a atração de sua possível rota de sucesso veio em 2020. A pandemia de Covid-19 fez de Jack Ryan uma de suas muitas vítimas em Hollywood, atrasando a produção do terceiro ano e colocando a série no limbo do esquecimento. No caso do Prime Video, títulos como Hunters e Carnival Row também sofreram com um grande hiato entre uma temporada e outra, fazendo com que seus retornos fossem muito menos divulgados do que suas estreias.
Quando a terceira temporada de Jack Ryan estreou, em dezembro do ano passado, a pergunta mais pertinente a se fazer era: “quem ainda se importa?”. Sem o prestígio de outrora, a nova leva de episódios trouxe de volta várias das qualidades que fizeram do primeiro um sucesso global, priorizando o suspense investigativo ao invés de colocar o personagem de Krasinski como o paladino estadunidense que iria salvar o mundo dos russos malvados – mesmo que, em teoria, ele ainda o fosse. O problema é que, sinceramente, ninguém ligou.
Um adeus agridoce
Confirmada como a última temporada da série, a quarta leva de episódios estreou diferente de todas as outras. Enquanto suas antecessoras estrearam completas em um único dia, a derradeira chegou dividida em partes, com dois episódios estreando semanalmente. A quantidade diminuiu de seis para oito, deixando a narrativa acelerada e sem aquela sensação de que estamos vendo os personagens que aprendemos a amar (ou odiar) pela última vez.
Em sua última aventura, Jack Ryan se vê obrigado a lidar com os pecados de Thomas Miller (John Schwab), ex-diretor da CIA afastado do cargo na temporada anterior e que usava sua influência para orquestrar missões secretas que favoreciam apenas os poderosos. Para ir a fundo nesse mistério, ele abdica de sua recém-anunciada promoção como diretor adjunto da agência norte-americana para voltar ao front e caçar inimigos pelo mundo.
Assim como no terceiro ano, a quarta temporada prioriza a escalada do suspense para ir, aos poucos, dissecando o mistério envolvendo as ações de Miller e os reais responsáveis por trazer caos para o mundo. Mais uma vez ao lado dos ótimos Wendell Pierce (Jim Greer), Michael Kelly (Mike November) e Betty Gabriel (Elizabeth Wright), Krasinski prova mais uma vez que tem capacidade para carregar uma franquia de ação nas costas, mesmo que o texto ainda o puxe para baixo com diálogos batidos e irritantes insistências em fazer de Jack Ryan um mero escoteiro.
Uma prova de que as novas temporadas aprenderam com os erros da segunda foi deixar a transformação do protagonista em uma espécie de Rambo para trás. Da fatídica leva ficou apenas o carismático malandro Mike November, que serve como um ótimo contraponto para os certinhos Ryan e Greer.
Até mesmo o retorno surpreendente de Abbie Cornish como Cathy Mueller, após a personagem sumir da série a partir do segundo ano para voltar sem grandes explicações na quarta temporada, injeta emoção e tira o protagonista (e o espectador) de sua zona de conforto, para mostrar que Jack Ryan, apesar dos esforços dos roteiristas, não é o soldado perfeito.
A adição de Michael Peña como o agente infiltrado Domingo Chavez também trouxe um respiro para uma narrativa que parecia exausta em se apoiar apenas no carisma de seu protagonista. O problema é que uma leva tão curta parece não explorar como deveria o talento do recém-chegado, tão ou mais conhecido pelo público geral quanto o próprio Krasinski.
Voltando ao intertítulo escolhido para esta crítica, o sabor agridoce na despedida de Jack Ryan não significa que sua temporada final teve tantos erros quanto acertos. A questão é que, infelizmente, nem todo mundo vai assistir ao adeus digno de uma série que merecia muito mais do que recebeu em seus últimos suspiros.