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Crítica

IT: Bem-Vindos a Derry replica fórmula Marvel para expandir franquia de terror

Equipe dos filmes de IT - A Coisa usa a mesma estética e ritmo para criar um universo de monstros e assombrações na obra de Stephen King

Omelete
5 min de leitura
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26.10.2025, às 21H59.
Atualizada em 26.10.2025, ÀS 22H54

Há alguns anos, dizer que um filme ganharia uma série derivada, ou vice-versa, era a principal regra nos estúdios detentores de franquias. Menos de uma década depois, essa prática se tornou sinônimo de exaustão e carência e carência criativa. IT: Bem-Vindos a Derry é um caso que mistura as duas coisas, pois foi anunciado ainda na época da tendência, mas só estreou agora, quando a moda parece desgastada. Produzida pelo mesmo time que fez os filmes do palhaço Pennywise (Bill Skarsgard, de volta aqui), um dos maiores sucessos do terror moderno nas bilheterias, o seriado ganhou o selo HBO e traz consigo um valor de produção digno das séries da emissora.

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Essa fase de entressafra, quando a Warner parecia incerta em como capitalizar em cima desse sucesso, está visível nos primeiros episódios de Derry. Do início ao fim do primeiro ato, que passeia entre diferentes épocas na cidade titular, o roteiro se volta a todo instante para conexões com os filmes, que adaptam a grande obra de terror de Stephen King, referências aos personagens ou ambientes clássicos, e o faz de maneira explícita, para deixar evidente que é um produto de fãs para fãs. Devido à isso, a sensação inicial é que Bem-Vindo à Derry é o mais próximo de algo na fórmula Marvel que a HBO já realizou – algo que se enxerga como uma peça de um universo geral antes de ser uma história específica.

Os episódios contam a jornada de um grupo de crianças que testemunham formas diferentes da entidade que eventualmente assume o nome Pennywise. Além deles, também vemos um grupo do exército e investigadores cujo caminho é entrelaçado com os jovens, já que tudo em Derry acaba conspirando a favor de acontecimentos bizarros e aparentemente sem explicação. O fio condutor é a turma mais nova, que espelha de forma muito forte os protagonistas dos filmes, mas Derry não deixa de dar espaço para outros núcleos, já que para criar este universo compartilhado é necessário um mapa de pistas e conspirações que cheguem até a trama que todos conhecem pelo livro de Stephen King.

O trio Jason Fuchs, Andy e Barbara Muschietti é o responsável pelo desenvolvimento da série assim como foram dos filmes, e não à toa, toda a estética da telona é repetida e até extrapolada na telinha. Logo no início, vemos como a intenção deles é chocar e trazer um horror mais gráfico que o do cinema, quase como justificando a existência desse derivado através disso. A questão maior, porém, é que Muschetti e Cia apostam e muito em monstros criados a partir de CGI com pouco espaço para suspense e mistério. O objetivo é mostrar o máximo possível das formas que esta entidade maligna pode assumir – um demônio, um bicho com asas ou um palhaço. Neste caso, ainda que os efeitos e o design em si sejam interessantes, não há tempo o suficiente para que essas manifestações gerem um impacto genuíno. Assustador? Talvez, mas nada que vá ficar na mente como o visual de Bill Skarsgard como Pennywise ficou.

A decisão de esconder Pennywise, aliás, e só mostrá-lo a partir do meio da temporada seria excelente, se não fosse pelo fato da série dispensar qualquer sutileza nas referências ao personagem ou mesmo ao gênero de terror. Muito do que Muschetti acertou em IT: A Coisa foi na atmosfera que criou com as primeiras aparições do palhaço. Ele se revelava aos poucos, sua presença surgindo quase naturalmente, e assim a sensação de medo tomava conta da tela. Derry decide escantear essa construção, talvez pelo modelo de universo expandido para o fã, onde o criador assume que o que vale são referências, não necessariamente um novo exercício de gênero.

O elenco, particularmente quando se trata dos adultos, é um acerto. As crianças parecem desenhadas para replicar todos os estereótipos que vimos na telona. Mesmo que o núcleo dos adultos se limite a assumir os clichês de corrupção, agência secreta, racismo e os bons moços da década de 1960, todos eles o fazem com plena noção do que está em jogo. As crianças, por sua vez, talvez até pela comparação direta com o elenco do cinema (ou mesmo com Stranger Things e outras produções inspiradas em King), não têm muito espaço para criar química e agem mais como peões no tabuleiro montado por Muschetti para desenhar o quadro de um suposto universo expandido de Stephen King, algo que existe nos livros mas que aqui se comporta de maneira muito hollywoodiana.

As comparações com o MCU e outras iniciativas de franquias não soam descabidas quando vemos que todo o time aqui envolvido estava produzindo também Flash, da Warner, no caso dos Muschetti. Fuchs criou a história de Mulher-Maravilha com Zack Snyder, escreveu um roteiro para um filme do Lobo, escreveu Um Filme Minecraft e está listado para fazer o live-action de My Hero Academia na Netflix

Ou seja, todos esses nomes trabalham essencialmente com franquias e são parte desta parte contemporânea de Hollywood que respira sequências e derivados no processo criativo. Por isso, e especialmente pela forma como IT: Bem-Vindos a Derry dá preferência à sua mitologia em detrimento ao drama de personagens, é razoável enxergá-la como o mais próximo de uma série da Marvel que a HBO terá. Fosse essa mitologia criada com mais foco no gênero e no que faz o horror de IT ser tão fascinante, talvez ela funcionasse melhor, ainda que seja divertido encontrar as referências à obra principal e descobrir como Pennywise destruiu diferentes gerações.

Nota do Crítico

It: Bem-Vindos a Derry

Criado por: Jason Fuchs, Andy Muschietti e Barbara Muschietti
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