Séries e TV

Crítica

How I Met Your Mother - 9ª Temporada | Crítica

Um final coerente, mas nada lendário

02.04.2014, às 02H10.
Atualizada em 29.06.2018, ÀS 02H39

Cuidado! Essa crítica contém spoilers!

Não tenho muito orgulho de como conheci How I Met Your Mother. Era 2008, eu trabalhava para uma assessoria de imprensa e, infeliz, passava parte do dia procrastinando. Entre notícias de cinema e algumas fofocas, li que a surtada Britney Spears participaria de uma comédia à la Friends. Curiosa com o extenso título e saudosa do formato das sitcoms, resolvi assistir à série, que na época já seguia para a sua quarta temporada.

Do episódio-piloto ao finale do ano três se passaram apenas alguns dias. A estranha premissa - um pai contando para os filhos em 2030 uma história que começava em 2005 - funcionava por meio de uma intrigante fórmula feita de flashbacks e flashforwards. Os “amigos” da vez eram cativantes. De uma forma ou outra, conseguia me identificar com a romântica busca de Ted Mosby (Josh Radnor), com personalidade forte de Robin Scherbatsky (Cobie Smulders) e com o amor sincero de Marshall Eriksen (Jason Segel) e Lily Aldrin (Alyson Hannigan). Barney Stinson, o caricato personagem de Neil Patrick Harris, quebrava um pouco da atmosfera sentimental do programa, surgindo como uma nova fonte de bordões e memes lendários para a cultura pop - quantos “high-fives” (e até frozen “high-fives”) não dei desde então.

Com o passar dos anos, porém, a série criada por Carter Bays e Craig Thomas não conseguiu manter o nível das primeiras temporadas. Mesmo que tenha sido toda construída em torno do final apresentado em 31 de março de 2014, faltou consistência a How I Met Your Mother. O programa se tornou escravo do próprio conceito, buscando sempre uma nova estrutura “genial” para seus episódios, e o mistério em torno da mãe, inicialmente irrelevante, se tornou motivo de frustração conforme a série era renovada. Como se relacionar com os dilemas amorosos de Ted se sabíamos de antemão que nem Robin, nem Victoria (Ashley Williams), nem Stella (Sarah Chalke), nem Zoey (Jennifer Morrison) eram a misteriosa mulher da sua narrativa?

As tentativas de humanizar Barney foram igualmente decepcionantes. O mulherengo personagem precisava encontrar o amor de alguma forma e os roteiristas viram na química entre Smulders e Harris uma chance de salvar Barney de si mesmo. O destino dos personagens, entretanto, já estava estabelecido e o romance foi sabotado inúmeras vezes, resultando em uma “quadrilha” interminável - Ted amava Robin que não amava ninguém. Robin dormiu com Barney que se apaixonou por Robin que descobriu ainda amar Ted que amava alguma outra mulher que ainda não era a mãe…No final, os roteiristas pareciam ter aceitado os exageros de Barney Stinson, mas o personagem ganhou um novo desenlace moralizante.

Quando Cristin Milioti finalmente apareceu nos últimos instantes da oitava temporada, as coisas pareciam ter acertado seu rumo. A personagem-título tinha um rosto e teria 24 episódios para conquistar Ted e o público. Não foi o que aconteceu. A série mais uma vez quis mostrar uma linguagem inovadora e estendeu a trama do seu último ano ao longo de apenas uma semana, durante os preparativos para o casamento de Barney e Robin. Isso não seria problema, claro, levada em conta a velha fórmula, que permitiria ir e voltar na história de Ted e do amor da sua vida quantas vezes fosse necessário. A mãe, porém, foi deixada de lado por vários episódios e a relação dos dois ganhou mais espaço apenas nos momentos finais.

Ainda assim, o último ano teve bons momentos, focados na amizade dos cinco, resgatando um pouco do espírito das primeiras temporadas. A estrutura da série parecia ter voltado a funcionar sem exageros e cada “tio” que a mãe conhecia antes de Ted levava um sorriso terno ao rosto. Milioti conseguiu dominar o difícil papel de atender uma expectativa de nove anos, fazendo o máximo para aproveitar o pouco espaço que lhe foi dado. No episódio 19, apenas com os olhos, a atriz confirmou a suspeita levantada por fãs anos antes: sua personagem não fazia parte do final feliz.

Depois de uma temporada inteira preparando o casamento de Robin e Barney e novas recaídas/despedidas definitivas entre Robin e Ted, pareceu leviano confirmar o divórcio do casal, a doença da mãe e outros momentos importantes em algumas curtas cenas. O grande amor da vida de Ted se revelou pequeno perto de uma paixão anunciada no piloto da série. “Essa não é a história de como você conheceu a nossa mãe, é a história de como você tem uma queda pela tia Robin”, rebate a filha depois que a odisseia de Ted é concluída, notando a óbvia ausência da personagem-título em grande parte da narrativa. Se a busca de aprovação para uma nova relação do viúvo Ted já era o final escolhido pela série, gravado anos antes por conta do envelhecimento dos atores que faziam seus filhos, fica difícil explicar a insistência dos roteiristas na relação de Barney e Robin e nas tantas candidatas ao amor de Ted com outra palavra que não seja enrolação.

Ao contrário de outras sitcoms, How I Met Your Mother nunca teve medo de introduzir elementos dramáticos - o episódio da morte do pai de Marshall é um dos melhores da série nesse sentido. A ideia, segundo Thomas, sempre foi falar sobre as idas e vindas da vida e que as coisas nem sempre acontecem como imaginamos. Raciocínio que talvez explique a decepção causada pelas reviravoltas finais da série: a frustração do público é uma metáfora para as frustrações da realidade. A série, no entanto, acabou desgastada. Depois criar um profundo envolvimento emocional com os personagens, justamente por esse quê dramático da comédia, o público precisava de mais para aceitar o desfecho escolhido por Carter Bays e Craig Thomas. É a vida.

Nota do Crítico
Bom

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