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Crítica

Homeland - 5ª Temporada | Crítica

Com um ano menos apoiado em sua protagonista, a série volta para uma temporada mais política e equilibrada

08.01.2016, às 11H42.
Atualizada em 29.06.2018, ÀS 02H39

[Cuidado, possíveis spoilers abaixo!]

Em 13 de novembro de 2015, uma sexta-feira aparentemente tranquila nos arredores de Paris, um grupo de terroristas escolheu pontos específicos da cidade para executar ataques fatais contra inocentes locais. Os alvos foram um estádio de futebol, uma casa de shows e vários restaurantes. Ou seja, a máxima terrorista de aniquilar cidadãos comuns de forma aleatória encontrou sua crueldade máxima: aquelas pessoas foram mortas enquanto se divertiam e relaxavam. Mais tarde, o mundo ficou sabendo que a organização chamada Estado Islâmico é que estava por trás dos atentados, fazendo com que mais essa ferramenta do terror ficasse popular em todo o globo.

A quinta temporada de Homeland foi filmada bem antes dos atentados acontecerem. Porém, a realidade e a ficção propostas pela série continuam se encontrando de uma forma peculiar. Os criadores do programa finalmente puderam se dedicar ao formato de histórias fechadas num único ciclo depois que Brody saiu. Assim, já no ano quatro, Carrie (Claire Danes) se tornava a irmã mais próxima de outra cria de Howard Gordon e Alex Gansa: o invencível Jack Bauer. Ainda que muito mais elegante, a trajetória de Carrie passou a ser uma questão de "como vamos metê-la em confusões mesmo que ela não queira". E essa elegância, esse verniz, parte exatamente dessa profunda aproximação da trama com a crueza da realidade.

Foi como trocar Paris por Berlim, dadas as devidas proporções, é claro. No começo da quinta temporada de Homeland, Carrie está vivendo na Alemanha e trabalhando numa pequena agência de segurança. Depois dos eventos traumáticos da missão vista na quarta temporada, ela abandonou a CIA e se reconectou à filha. O problema é que a Alemanha é um dos países da Europa mais abertos aos refugiados da guerra civil na Síria (também tão divulgada após a icônica foto do menininho afogado nas areias de uma praia da Turquia), um dos conflitos mais ligados ao Estado Islâmico e que, por si só, já atrai a atenção dos EUA. Carrie, então, que fugiu de encrenca, vê a encrenca vindo atrás dela.

All About Carrie

Esse quinto ano de Homeland se dividiu em duas partes e a primeira delas teve tudo a ver com Carrie. Por mais que a série seja sempre adorada pela maioria dos fãs como o suprassumo da originalidade, ela já e uma cópia carbono mais bem estruturada de 24 Horas faz tempo. A dinâmica é sempre a mesma e já arrisco dizer que continuará sendo assim até a série acabar. A protagonista tem uma personalidade limítrofe, uma história traumática, tenta se afastar e viver normalmente, mas sempre acaba sendo arrastada de volta para o olho do furacão. Essa comparação não é de todo negativa, enfim. Vale é saber como seremos convencidos da validade dessas recorrências.

Os roteiristas marcaram muitos pontos quando tentaram ir na contramão das obviedades. O primeiro acerto foi evitar que Carrie fosse um meio para um fim. Eles a transformaram no fim em si, revelando que por trás da atividade jihadista na cidade, havia um plano para matá-la. Acertaram de novo quando usaram mais um pedaço da verdade ao mostrar hackers vazando informações que comprometiam os EUA em solo internacional e conectando isso aos caminhos que Carrie precisaria traçar na busca pela própria segurança. A quebra da relação profissional com Saul (Mandy Patinkin) ajudou a aumentar os níveis de tensão trazidos por essa situação.

Costumo dizer que os criadores de Homeland têm um projeto chamado "Carrie Sem Fronteiras", que consiste em lançar mão da doença dela quando precisam dar um gás na ação. Carrie louca sempre dá certo para os fãs, mas esse ano eles foram muito equilibrados, fazendo com que essa perda de controle tenha sido calculada e provocada conscientemente por ela mesma. Ainda que esse primeira parte do ano tenha se focado muito na perseguição e nos planos para mantê-la viva, foi extremamente curioso notar que o planejamento do ano tinha outras prioridades e que isso foi responsável por salvar a temporada do lugar comum.

All About Allison

A carta do traidor infiltrado é mais velha que andar pra frente nas tramas de Gordon e Gansa. Mesmo que a espionagem seja parte da mitologia de histórias desse nicho, ainda é desconcertante o número de falhas de segurança que permeiam a representação fictícia daquela que deveria ser uma das agências mais seguras do mundo. O fato é que a partir dessa recorrência, a série começou a traçar um caminho para uma abordagem realmente interessante das questões políticas desse ano.

Através de Allison (Miranda Otto), Homeland pode continuar sua dinâmica diplomática de não vilanizar completamente o mundo muçulmano. Além de mostrar uma célula jihadista em constante conflito ideológico, a série trouxe a Rússia como parte do enredo - e de uma maneira bastante ambígua. Se o programa às vezes erra no retrato duro da comunidade islâmica (o que se tornou até mesmo alvo de uma desconcertante ação de protesto através de pichações encomendadas pela própria produção), ela acerta quando procura tornar as motivações de todos mais despolarizadas. Um ótimo exemplo disso foi o que vimos no penúltimo episódio, quando a Rússia obrigou Allison a manter os planos de ataque à Berlim para que, com isso, os outros governos que ainda não tinham entrado numa guerra contra o Estado Islâmico, entrassem. É uma máxima conspiratória interessante, porque não chega ao absurdo de dizer que governos encomendam massacres para difamar os muçulmanos, mas que se aproveitam da ideologia do terror para alcançar outros objetivos.

Então, enquanto Allison seguia pela temporada como uma aquisição muito valiosa para o elenco, um dos nomes veteranos agonizava sua permanência. Quinn (Rupert Friend) vinha numa sucessão de caminhos errados há muito tempo e nesse quinto ano derrapou tanto nos equívocos que chegou a chocar. O absurdo círculo de coincidências em que foi metido só foi redimido graças - também - ao aspecto político dessa temporada. Um pouco depois dos atentados de Paris terem acontecido, acompanhamos a célula jihadista planejar um ataque à Berlim usando o terrível gás Sarin, cuja ação devastadora pode ser encontrada no YouTube para quem quiser ver. O ataque ocorreria no metrô e os princípios eram os mesmos. Paris, no entanto, não teve a seu favor a máxima da ficção.

Enfim, depois de uma segunda metade de temporada sabiamente não focada em Carrie, o episódio final resolveu voltar a ela e cometeu os mesmos erros bizarros do final do ano anterior. Trouxe-nos um final frio, piegas e desconexo. Uma vez resolvido o imbróglio político que quase devastou uma grande cidade, no momento em que o clímax devia ser mais envolvente, nos vimos cercados por enfadonhas investidas dramáticas - o que me leva a imaginar qual tem sido a dificuldade maior no planejamento de Gordon e Gansa. Não saber terminar é um defeito muito grave, porque um dia as pessoas param de querer recomeçar... Foi lastimável ver uma temporada tão esmerada em seus aspectos políticos cair na vala rasteira de algumas tolas emoções.

Nota do Crítico
Bom
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