Imagem promocional de Ganhar ou Perder (Reprodução)

Créditos da imagem: Imagem promocional de Ganhar ou Perder (Reprodução)

Séries e TV

Crítica

Ganhar ou Perder prova (de novo) que a Pixar precisa se reinventar

Como filmes recentes do estúdio, série do Disney+ faz construção de mundo rasa e previsível

Omelete
4 min de leitura
19.02.2025, às 05H00.
Atualizada em 19.02.2025, ÀS 11H32

Você sabe exatamente o que esperar quando aperta o play em uma produção da Pixar - e está na hora de admitir que isso é um problema. Em algum momento em meados da década passada (não coincidentemente, perto de quando foi comprado pela Disney), o estúdio que transformou a animação 3D hollywoodiana em uma força criativa e econômica considerável parece ter esgotado as maneiras de extrair histórias valorosas de uma fórmula muito clara, na qual grande parte dos seus êxitos se baseou desde o começo dos anos 1990: conte uma história sensivelmente pesquisada sobre emoções humanas e dinâmicas de relacionamento, mas a coloque dentro de um contexto fantasioso que exija a criação de um mundo visual e conceitual com detalhes eminentemente intencionais, que encantem e envolvam o público inteiramente nessa viagem narrativa.

Não é uma má receita, é verdade, mas é uma que exige que cada um desses mundos criados pelos artistas do estúdio sejam verdadeiramente únicos, e realizados de forma íntegra, sem concessões ao que pode ser mais palatável para um público acostumado ao realismo. E quanto mais anos se passam, mais a Pixar se prova hesitante em criar mundos assim. Ganhar ou Perder, infelizmente, não é exceção. Anunciada com alarde, lá em 2020, como a primeira série de TV da Pixar (no fim das contas, ela perdeu essa corrida para Produção de Sonhos, colocada na via expressa após o sucesso de bilheteria de Divertida Mente 2), a produção sobre um time de softball escolar a caminho das finais de campeonato se mostra - na melhor das definições possíveis - um esforço inconsistente, ainda que bem intencionado.

Criada, escrita e dirigida pela dupla Carrie Hobson e Michael Yates, crias da casa na Pixar que assumem a frente de um projeto pela primeira vez, Ganhar ou Perder aposta em um formato à la Rashomon para revelar como perspectivas pessoais podem moldar a realidade. A esperteza do roteiro está em construir tudo como um quebra-cabeças - o que vemos em um episódio, muitas vezes, é complementado na direção da clareza no episódio seguinte. Isso é especialmente verdadeiro, por exemplo, nos capítulos “Raspberry” (1x03) e “Pickle” (1x04), focados na dupla de mãe e filha Rochelle (Milan Ray) e Vanessa (Rosa Salazar), que abordam questões de responsabilidade parental e carência socioeconômica enquanto se esforçam para respaldar atos que parecem moralmente dúbios à primeira vista, mas se justificam diante das circunstâncias de cada personagem.

Como eu disse: boas intenções. O que derruba Ganhar ou Perder não é o direcionamento de sua história, mas a qualidade vacilante da sua construção de mundo. No comando do time de artistas provadamente capaz da Pixar, Hobson e Yates enchem sua série de boas ideias visuais, seja ao representar o mundo virtual como um videogame de plataforma com gráficos lustrosos em rosa e azul neon, ou ao literalizar as armaduras e disfarces que seus personagens precisam usar em determinadas situações dramáticas - mas o uso desses recursos não é coerente, consistente ou eficiente no sentido de realçar e ilustrar os movimentos emocionais da trama. É invenção pela invenção, fofura pela fofura, e essa nunca foi a onda certa para a Pixar, o estúdio hollywoodiano que sempre jurou que tudo começava e terminava com a história.

A exceção está em “Blue” (1x02), que ganha estatura ao se separar discretamente do restante da narrativa com a história de Frank (Josh Thomson), o árbitro da liga de softball das protagonistas, que enfrenta em sua vida pessoal um dilema muito conectado às escolhas que é obrigado a fazer no campo. Apresentado quase como um curta-metragem sobre um homem que percebe que suas decisões podem não ser tão justas e imparciais quanto parecem, e que se proteger de insultos não é o mesmo que se proteger de relações, os 20 minutos do capítulo vão passando em um ritmo que é familiar não da maneira cansada que emerge nos outros episódios de Ganhar ou Perder, mas da maneira saudosa de quem se lembra de quando a Pixar ainda era capaz de nos absorver para as suas invenções mais inesperadas.

Mas é difícil argumentar que esses raros acertos façam valer a pena o tédio eminente que caracteriza os momentos em que a série se acomoda no básico do estúdio. Quando a busca por um brilhantismo de outrora se mostra tão estagnada quando anda sendo na Pixar, talvez seja hora de procurar em outro canto.

Nota do Crítico
Regular
Ganhar ou Perder
Ganhar ou Perder

Criado por: Carrie Hobson, Michael Yates

Onde assistir:
Oferecido por

Ao continuar navegando, declaro que estou ciente e concordo com a nossa Política de Privacidade bem como manifesto o consentimento quanto ao fornecimento e tratamento dos dados e cookies para as finalidades ali constantes.