Elite foi um dos maiores fenômenos de língua não-inglesa da história da Netflix. A série espanhola criada por Darío Madrona e Carlos Montero estreou em 2018 surfando no sucesso da conterrânea La Casa de Papel e conquistou milhões de fãs pelo mundo com uma história intrigante envolvendo mistério, assassinato e muito sexo. Com esse legado, é demasiadamente triste que a atração se despeça do público como uma mera sombra do que já foi.
A série chegou em sua oitava temporada de forma capenga. Após ver seu elenco original se despedir ano após ano, Elite apostou em uma renovação de rostos na torcida para que o público continuasse retornando para acompanhar novas intrigas e cenas quentes. Assim como a presença de seus astros originais, o interesse dos fãs foi diminuindo, e o que restou para a sua temporada derradeira foi um fiapo de história que funcionasse como a conclusão final.
Desde o quinto ano da série, a solução encontrada pelos roteiristas liderados pelo cocriador Carlos Monteiro para continuar a fazer Elite andar foi destruir o desenvolvimento de personagens estabelecidos nos anos anteriores. Um casal teve um final feliz? Um novo personagem chega para abalar as estruturas do relacionamento. Um personagem de moral duvidosa encontrou sua redenção? Novos problemas surgem para colocá-lo mais uma vez em posição desconfortável. E assim, durante mais três anos, a série espanhola implodiu o que fora construído em busca de uma renovação da Netflix.
A oitava temporada surge dentro deste mesmo cenário. Se não há finais felizes nos corredores de Las Ensinas, os roteiristas testam a sobriedade do espectador ao repetir a mesma fórmula para criar novos (ou antigos?) conflitos entre seus personagens principais. A dupla de irmãos Emilia (Ane Rot) e Héctor (Nuno Gallego), em versões menos emblemáticas da Marquesa de Merteuil e do Visconde de Valmont de Ligações Perigosas, brotam na escola como os responsáveis pelo Alumni, espécie de associação de ex-alunos milionários de Las Ensinas que fundaram a instituição com a desculpa de criar vínculos e abrir portas para jovens adultos, mas que na verdade só buscavam uma forma de farrear com o dinheiro dos pais de forma legal.
Com esta mentalidade de fraternidade de faculdade norte americana, os chefes do Alumni seduzem os protagonistas da série para colocá-los em mais situações onde as únicas opções são fazer sexo, usar drogas e tomar decisões equivocadas. Do veterano Iván (André Lamoglia) ao novato Eric (Gleb Abrosimov), qualquer avanço conquistado no ano anterior é descartado para que uma nova briga ou flerte seja o norte deste personagem.
Entre tantos erros, Elite ainda tentou apelar para a nostalgia para atrair de volta alguns dos antigos fãs. Se o retorno de Omar (Omar Ayuso) foi a aposta no sétimo ano, a última temporada tem Nadia (Mina El Hammani) voltando para este universo apenas como fanservice. A personagem, que teve um final redondo ao deixar Las Ensinas para fazer faculdade em Nova York no já longínquo terceiro ano, tem um retorno quase injustificável, servindo apenas como muleta para que Omar não volte a cair em depressão.
O que salva esta última leva de episódios de cair no total esquecimento é a forma competente que os roteiristas encontraram para fechar o ciclo de Elite. Se a trama da série começou com a chegada de três jovens cotistas para estudar em uma instituição milionária que são envolvidos em uma investigação de assassinato, um novo crime colocou a “ala burguesa” do colégio para encerrar sua vida escolar em uma realidade completamente diferente. Na moral da história, Las Ensinas e seu ambiente devasso e permissivo sempre foi a grande vilã, e a solução encontrada para encerrar este ciclo tóxico foi, de certa forma, coerente com a sua trajetória. Uma pena que quase ninguém ficou para o final.
Criado por: Élite
Duração: 8 temporadas
