Desejo Obsessivo não se salva nem pelas cenas quentes
Minissérie da Netflix frustra tanto no suspense quanto no erotismo
Créditos da imagem: Divulgação
Desejo Obsessivo, nova minissérie da Netflix, estreou estimulando uma certa dose de expectativas, seja pela familiaridade do material - o livro Perdas e Danos, de Josephine Hart, já tinha inspirado o filme homônimo com Jeremy Irons e Juliette Binoche - seja pelo hábito renovado do público dos streamings de deparar com novos suspenses eróticos com frequência. Mas as promessas da produção para uma trama envolvente e sensual não passam muito disso.
Em quatro episódios, a história adaptada por Morgan Lloyd Malcolm e Benji Walters se debruça sobre William Farrow (Richard Armitage), respeitado cirurgião que se vê envolvido com a misteriosa Anna Barton (Charlie Murphy), nova namorada de seu filho, Jay (Rish Shah). O caso coloca em risco a sua família, formada ainda por sua esposa, Ingrid (Indira Varma), e a outra filha, Sally (Sonera Angel).
O grande problema é que a trama simplesmente não consegue (ou talvez se recuse a) construir as bases para o suspense psicológico que seria o seu principal fio condutor. Isso começa logo no estranho primeiro encontro de William e Anna, que com o mínimo possível de interação (e o, hum, auxílio de uma azeitona) já estão praticamente entregues um ao outro. Seria salvável caso a produção se ocupasse de aprofundar, o mínimo que fosse, a tensão entre ambos. Infelizmente, não é o caso.
Para poder fazer valer a “obsessão” que está no título, a minissérie engata em uma corrida tediosa para ticar caixas que mostrem, da forma mais rápida e didática possível, que o cirurgião está obcecado pela jovem: há deslocamentos repentinos, crises de ciúmes, sexo em lugares inusitados e até uma constrangedora cena envolvendo um pobre travesseiro. Mas nenhum desses elementos tem um impacto maior, pois não há uma construção prévia de expectativa ou conflito que dê base a eles. Sem conhecer as motivações dos personagens e sem trabalhar a paixão entre eles, os acontecimentos tornam-se apenas mecânicos, um pecado mortal em uma produção que se pretende um thriller erótico.
As cenas do casal central com o restante da família são igualmente vazias de tensão, e preferem desperdiçar o potencial de intriga e sensualidade com uma jogada de cabelo aqui e outra ali. As sequências de sexo tampouco escapam; embora sejam filmadas de forma elegante, elas são breves e comuns demais para trazerem qualquer diferencial para Desejo Obsessivo.
Com o roteiro pouco inspirado, o elenco não consegue fazer muita coisa. Armitage e Murphy tentam se virar com o pouco que têm, mas não vão muito além das caras e bocas de sedução. Varma tem um grande momento na reta final da minissérie, mas é absurdamente desperdiçada no restante do tempo.
Ao fim, Desejo Obsessivo falha duplamente na definição de thriller erótico: pouco há para sustentar seu suspense, e as cenas quentes, seu maior chamariz, são genéricas. Das promessas que a estreia havia feito de início, portanto, talvez só continue de pé aquela da repetição deste subgênero. Uma pena.