Séries e TV

Crítica

BoJack Horseman - 5ª Temporada

Temporada sombria eleva conflitos e reflete as angústias de toda uma geração

20.09.2018, às 11H51.

Quando uma série chega em sua quinta temporada, é normal ter algum desgaste. Episódios um pouco mais fracos, tramas não muito desenvolvidas e personagens perdidos. Mas apesar de se encaixar em alguns desses itens, BoJack Horseman é uma exceção incrível à regra. Ao invés de investir em uma trama repetitiva, o quinto ano da série animada da Netflix eleva os conflitos e reflete a geração atual de forma única.

Foto de BoJack Horseman
BoJack Horseman/Netflix/Divulgação

No começo do novo ano, BoJack é o astro da série de TV Philbert, o projeto de Princess Carolyn depois de todos os seus problemas na vida pessoal. Mas claro que o que poderia ser motivo de alegria se torna um problema para ele: BoJack começa a se ver em Philbert e, dessa forma, a encarar seus próprios defeitos. É fato que o protagonista sempre teve dificuldade em assumir suas falhas de caráter, mas ao vê-las ali, em uma obra de entretenimento, ele não tem como fugir. Isso torna Bojack um personagem ainda mais vulnerável do que nas temporadas anteriores. Ele se sente despido diante dos amigos e sem forças para procurar ajuda.

Essa combinação de fatores leva a um evento traumático no episódio 11, algo nunca visto antes na série. É a partir dali que o cavalo começa a perceber que precisa procurar ajuda, para não machucar (ainda mais) a si mesmo e aos outros. Ter um protagonista tão falho não é nem de longe algo inédito no cinema e na TV. O que muda aqui é a sensibilidade com a qual os assuntos são tratados, dentro de um universo fantástico. Sim, BoJack Horseman faz o público rir com seus absurdos, somente para depois dar um tapa na cara de todos com cenas cruas e cheias de realidade.

Mas são dois pontos principais que levam a temporada para outro nível: a discussão sobre assédio (tema comum atualmente) e a relação dos protagonistas com suas famílias. Começando pelo primeiro tópico, o quarto episódio narra a volta à mídia de um ator com histórico de abuso. Todo o episódio é construído para que o público tenha ódio daquele homem e queira condená-lo imediatamente. Mas a crítica aqui não é feita somente com piadas irônicas, como costuma acontecer. Ao final do episódio, BoJack Horseman lembra o público que o próprio protagonista já cometeu erros parecidos e, ao fazer isso, brinca com a percepção do público sobre o assédio.

Quando se tratava de um personagem desconhecido, a posição de todos era clara. Mas o que aconteceu com BoJack no Novo México foi mostrado pelo ponto de vista dele - algo que não o exime de seus erros, mas deixa claro suas motivações. Depois de julgar um desconhecido o episódio inteiro, o público percebe que ama e admira um protagonista que fez o mesmo. Será que os fãs são capazes de odiar Bojack da mesma forma? Ou a percepção de culpa muda de acordo com o quanto conhecemos quem está envolvido na situação? A pergunta fica no ar para cada um responder para si mesmo.

Conflitos de gerações

Outro ponto interessante da temporada é a apresentação da família de Princess Carolyn por um flashback. Aqui a série repete um padrão: tanto Carolyn, quanto Bojack e Diane são frutos de famílias quebradas, e não no sentido financeiro. Os protagonistas tiveram pais emocionalmente destroçados e irmãos (no caso das duas) sem rumos na vida. Ele são as exceções. Ao mostrar relações tão complexas, o seriado se relaciona com seu público de uma forma única, afinal muitos adultos na casa dos 20 e 30 anos se identificam com esse padrão: suas famílias tiveram sérios problemas e o desejo agora é quebrar esse padrão, ter uma vida melhor. No caso de Princess Carolyn, isso é feito sem precisar demonizar sua mãe: o que a personagem diz é o que fazia sentido para ela. A diferença é que esses padrões não funcionam mais. As gerações atuais passam por um momento de mudança de costumes e tradições que é, ao mesmo tempo, doloroso e completamente necessário. É raro uma série de TV conseguir captar o espírito de um grupo em uma camada tão profunda, mas quando isso acontece o sentimento para quem assiste é único.

Entre os defeitos, BoJack Horseman aproveitou o fato de ser uma série de sucesso para fazer algumas experimentações, como o episódio em que tudo é contado pelo ponto de vista de duas coadjuvantes. Mas apesar de ser interessante, essa escolha freia um pouco as histórias principais e cria um capítulo que quase chega a ser um filler. É um respiro no meio da temporada que incomoda um pouco. Além disso, Todd é deixado de lado nessa temporada. Isso é feito em prol do desenvolvimento de uma trama maior, mas o sentimento que fica é que todos estão evoluindo em suas tramas, enquanto o garoto dublado por Aaron Paul não sai do lugar.

A quinta temporada de BoJack Horseman é transformadora para seus protagonistas e também para seu público. Nada do que aparece na tela está lá em vão: tudo é fruto da construção de protagonistas extremamente falhos e humanos (apesar de animais), que refletem como um espelho as angústias de quem assiste. Depois de todas essas complicações, o novo ano termina agridoce, com BoJack iniciando um ciclo de redenção que também abre caminho para o desfecho da série. Não é fácil acompanhar um personagem tão autodestrutivo então, apesar de ser um seriado encantador, o ideal é que BoJack Horseman comece a preparar um encerramento satisfatório para seus protagonistas, deixando-os seguir em frente, assim como o próprio personagem-título fez nessa temporada.

Nota do Crítico
Ótimo
BoJack Horseman
BoJack Horseman
BoJack Horseman
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Criado por: Raphael Bob-Waksberg

Onde assistir:
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