Como pai, Adolescência me assustou. Outra série me deu esperanças

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Como pai, Adolescência me assustou. Outra série me deu esperanças

Enquanto a série da Netflix mostra a realidade sombria, a do Apple TV+ oferece uma alternativa

Omelete
4 min de leitura
10.04.2025, às 15H57.

Numa destas coincidências da vida de quem vê muita série, logo depois de me assustar com as cenas de Adolescência (Adolescence, 2025), aproveitei que meu filho estava vendo os episódios finais de Ted Lasso (2020-) e revi os últimos jogos do Richmond FC. Uma coisa ficou martelando na minha cabeça: se o mundo de Adolescência é o “novo novo-normal” (e infelizmente sabemos que é!), será que algumas das mensagens de Ted Lasso não podem servir como antídoto contra essa realidade misógina? 

Enquanto Adolescência vai mostrando este buraco sem fundo em que muitos jovens estão entrando, Ted Lasso vem como um caminho de fuga, de esperança. A raiva contra as mulheres, a falta de diálogo com os mais velhos e a ausência de qualquer inteligência emocional de um aparecem como diálogo, empatia e busca de terapia para sanar os problemas no outro.

Quem assiste à série criada por Stephen Graham, e se importa minimamente com o mundo ao seu redor, termina com uma sensação de que é preciso fazer algo. Aquilo não é ficção, mas sim a realidade de muita gente e precisamos agir logo.

E antes que você venha com um dislike ou unfollow para cima de mim, não estou aqui para falar mal de Adolescência. Pelo contrário. A série britânica que virou um fenômeno na Netflix tem sido muito importante para trazer à luz grandes problemas da atualidade: a distância entre gerações (principalmente quanto a homens e meninos, mas não exclusivamente), a perversidade das redes sociais, a “força” que o anonimato online dá às pessoas, etc. 

O aspecto técnico da história ser toda contada em plano-sequência não me chamou tanto a atenção quanto o fato de que a realidade daquela família podia ser a de alguém (muito) próximo ou até da minha própria. E a culpa não é dos pais e mães. Muito menos dos filhos ou dos professores, que estão tão perdidos quanto a gente.  

Quando eu era adolescente, um dos grandes entraves tecnológicos era programar o VHS para gravar algum programa quando não havia ninguém em casa. Hoje, este problema parece minúsculo. A coisa ficou muito mais complicada e individualizada. As ferramentas de comunicação estão nos PCs e, crucialmente, nos bolsos dos nossos adolescentes – totalmente invisíveis e inalcançáveis. Sejamos sinceros, eles sabem destravar as travas básicas de controle parental e/ou abrir outras fendas que muitos nem sabem que existem.

Em discussões nos grupos de pais e responsáveis, não é incomum ver que tem gente que não sabe o que é o Discord, jamais ouviu a expressão redpill ou e que tampouco entende que xingar na internet também é violento. Mas o mais grave nem é isso; enquanto tem gente sofrendo, as big techs só vão crescendo e deixando todos, independente da idade, cada vez mais viciados.

Adolescência focou principalmente no menino, que acaba sendo presa fácil para o machismo e a misoginia pregados online que, via de regra, acabam em violência. A série podia muito bem ter dado mais atenção ao outro lado, apontando o dedo para o que acontece com as meninas, que vêm buscando padrões de beleza irreais. Enquanto eles são ensinados a odiar as mulheres e tratá-las mal, aderindo ao movimento incel (celibatários involuntários), elas vão perdendo a autoestima porque não são altas, magras ou loiras o suficiente. Na internet, há sentimentos negativos de sobra para ambos os lados. Estes retroalimentam os algoritmos, que trazem mais posts sobre o assunto, e mais tempo na tela. Enquanto uns adoecem, outros ficam mais ricos e poderosos.

Diante de tanto ódio e desespero, me deparei com Ted Lasso e lembrei que quando ele chegou à Inglaterra, o que se via era um cara que parecia estar acima de qualquer problema. Com seu bom-humor contagiante, ele foi ganhando a confiança das pessoas no vestiário e até de sua chefe, Rebecca, que o contratou justamente para que ele fracassasse. Em casa, as coisas não estavam bem e em um jogo ele enfrenta uma crise de pânico. Com a ajuda da psicóloga do clube, Ted consegue entender muitos de seus problemas, endereçar outros e continuar ajudando as pessoas a chegarem aos seus potenciais máximos.

Acho que não estou tão longe da verdade quando vejo que as duas séries são, sim, diametralmente opostas, mas também complementares. Principalmente se quisermos dar bons exemplos e diminuir os estragos que a próxima geração vai herdar da gente (até porque outros estragos, como a emergência climática, já não temos como reverter, apenas amenizar) 

Do retrato pessimista de Adolescência, devemos aprender a detectar quando estamos sendo negligentes, duros e desconectados não só dos nossos jovens, mas com qualquer pessoa ao nosso redor. E com isso em mente, usar as lições que aprendemos com Ted Lasso – de notar quando não estamos bem ou quando alguém próximo está com sua saúde mental fragilizada – e oferecer apoio, relações saudáveis, que possibilitem ambientes positivos de troca, confiança e amizade. Ou seja, mais distante de Adolescência e mais próximo de Ted Lasso.

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