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Artigo

Fred, Bruna e Gabriel: Os primeiros personagens insensatos do BBB23

Em uma semana a nova edição do Big Brother Brasil enterra a anterior com um elenco disposto ao jogo, mas ainda sem carisma.

Omelete
8 min de leitura
HH
28.01.2023, às 14H14.
BBB23

Créditos da imagem: Globo/Divulgação

Pode-se dizer sem medo que quando o BBB22 terminou, no ano passado, terminava também uma das edições mais equivocadas da longa história do programa. O Big Brother Brasil viveu 19 anos oscilando entre o amor e o ódio, com momentos de grande repercussão, mas sendo considerado por boa parte da opinião especializada como um demônio da modernidade. Foi somente na edição número 20, quando o Brasil precisou ficar em casa e contar com a programação televisiva, que o fenômeno aconteceu. Pela primeira vez o BBB foi "aceito" por público, crítica, famosos e eruditos. Pela primeira vez o programa foi entendido.

O que aconteceu na edição 21 parecia impossível, mas aconteceu. Com um elenco assustadoramente bom, o programa se tornou uma unanimidade de emoções eloquentes. Do ódio generalizado por Karol Konká à admiração absoluta por Gil do Vigor e Juliette. O BBB21 passou seus três meses de duração sendo a peça de entretenimento mais poderosa que o país já teve no gênero. E foi com sua narrativa de exclusões, de manipulações e de dissimulação, que foi escrita na história a soberania do programa. Debates, teorias, análises... O BBB fez astros completos anônimos e abalou a reputação de grandes artistas. Talvez, inclusive, tenha sido por isso que justamente o grupo de famosos tenha se esforçado tanto para sabotar a edição 22.

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O BBB22 foi um surto de positivismo tóxico. Certos de que "o Brasil precisava de paz e harmonia", o elenco de famosos trabalhou duro para "higienizar" os fundamentos de um reality show, cuspindo discursos toscos sobre o valor do "entretenimento sem baixaria" (e leia-se "baixaria" como "todo aquele conjunto de reações humanas extremas condizentes com situações limítrofes"). Boninho conseguiu o feito de reunir gente famosa desinteressada e gente anônima incapaz de quebrar o ritmo ditado por eles. Em muito pouco tempo o programa virou uma comédia masculina forçada, com direito a muito tédio e a um vencedor invisível.

Toxic

Buscando não errar novamente, a seleção para o BBB23 parece ter priorizado o ego. Ele, o ego, sempre foi um norteador da maioria dos elencos, mas dessa vez a ótica parece centralizada nas ilusões a respeito de si e de como se é percebido pelos outros. Os três nomes que dominaram a primeira semana de programa não parecem ter nenhuma dimensão do quanto são autocentrados ou do quanto não tem visão além de tudo aquilo que diga respeito a eles. É uma receita promissora; ainda que muito mais pelo ridículo. Fred, Bruna Griphao e Gabriel cumpriram seus papéis de fazerem seus nomes serem lembrados imediatamente por quem assiste aos episódios. Porém, para todos os três pesaram os reflexos de muito equívoco e alienação.

Talvez também seja justo dizer que essa alienação já começou de parte dos votantes ainda na fase da Casa de Vidro. Uma das meninas já entrou sem chances quando seus tuítes racistas vieram à tona; contudo, o mesmo peso não caiu por cima de Gabriel, que mesmo sendo uma reunião de machismos e tacanhismos, foi aprovado e entrou na casa. No seu currículo, posicionamentos políticos questionáveis e um encontro quente com Anitta; traços suficientemente "fortes" para imediatamente lhe tornarem "querido". Poucos dias depois de entrar, estabeleceu uma relação tóxica com Bruna que exacerbou sua personalidade reacionária. Foi chamado à atenção ao vivo por "brincar" com violência física; e sua primeira reação foi cercar a vítima e começar uma lavagem cerebral que "provasse" que ele nunca tinha feito nada daquilo.

Emulando Prior (um dos participantes mais execráveis da história do BBB), Gabriel usa sua suposta beleza e apelo erótico para reacender a fagulha que fazia vencedores do mesmo padrão, lá nos primórdios do programa. Dhomini, Alemão, Max, Rafinha, César... e dadas as devidas proporções, Arthur. O plano de Gabriel era jogar com o público, flertar com a narrativa romântica, conquistar o espectador conservador e começar a se declarar "perseguido" assim que possível. Deu azar de ter suas características mais machistas vazando logo na primeira semana e queimou parte de sua estratégia inicial. Deveria ter sido eliminado ali, mas quando o público o salvou, deu a ele a chance de realizar o que chamo de "Curva Dado Dolabella". Gabriel ganhou tempo para reverter sua imagem de abusador... e ele vai investir tudo nisso.

No passado, Dhomini, Alemão e Max conseguiram reforçar sua soberania em suas respectivas edições, se unindo a moças ingênuas e suscetíveis. Sabrina, Iris e Francine tinham em comum a personalidade otimista, carismática e a mais absoluta devoção por seus amados. Elas eram adequadas para a narrativa romântica ideal, as "princesas" que redimiriam os bad boys que conquistaram. Quando se envolveu com Bruna, talvez Gabriel tenha calculado mal os reflexos disso no jogo. Embora Bruna tenha os olhos completamente fechados para quem ele realmente é, ela não se encaixa exatamente no modelo de "princesa da Disney". Assim como Emily, anos atrás, também não se encaixava. Ao enfrentarem minimamente seus pares, extraíram deles a agressividade pelo qual ficaram conhecidos.

Bruna tem olhos azuis e cabelos loiros, mas não está interessada em VT's que a pintem como a princesa de Encantada. O envolvimento com Gabriel causou um resultado curioso. Ao mesmo tempo em que ela quer muito ser gostada por ele (fingindo que não), ela também quer se comprometer no jogo individualmente. O que impede que Bruna se enquadre nos moldes românticos do passado não é sua personalidade masculinizada, seus porres ou o fato de ser uma fumante descontrolada... Bruna não é passiva. Ela fez de sua liderança uma liderança relevante, desafiando adversários, cobrando aliados, gerando memes e cometendo erros. Está no caminho certo para ser uma boa participante do BBB. Porém, engoliu Larissa no processo, sem perceber que está nessa amizade sua chance de conseguir aquilo que falta a todo esse elenco: carisma.

Delusional

E por falar em "engolir", a eliminação de Marília foi resultado de outra abocanhada. O destino dela estava traçado a partir do momento em que Fred Nicácio foi escolhido para estar a seu lado. Fred é um personagem único... Poucas vezes no BBB tivemos a chance de estar diante de uma pessoa tão cheia de contradições. O discurso de Nicácio é todo apoiado numa berrante falsa confiança em si mesmo. Ele fala sobre empoderamento social e humilha uma classe trabalhadora no processo; ele fala em aceitação e exibe um rosto que em nada lembra seus traços étnicos originais; ele chama de Gil de "caricatura" mas talvez seja o exemplo mais cabal do que significa essa palavra... Fred se comporta no mundo como se fosse um gigante da autoconfiança, mas é uma das pessoas mais inseguras que já pisou naquela casa.

Pobre Marília, foi a primeira vítima. Na ansiedade absoluta para ser aceito, Fred mudou o corpo, o rosto, adotou o discurso empoderado e vai desafiar a todos que o questionarem chamando-os de racistas e homofóbicos. Para ele, em sua viagem egocêntrica, não há a menor possibilidade de que esteja errado na visão que construiu de si. Para ele, o inferno são os outros; sempre. A passagem de Marília pela casa se resumiu a estar acorrentada com um parceiro que a responsabilizava por tudo de errado que ambos recebiam; e que ainda por cima não era sincero com ela sobre uma verdade que saltava aos olhos: ele não gostava de Marília e dissimulou a ligação com ela. Para pessoas como ele, o mais importante é ter uma plateia. Ao ser eliminada, ouviu o discurso de Tadeu Schmidt e depois o discurso de Fred, calada, sem nem pensar em desafiar o parceiro naquele momento que devia ser dela e que ele, de novo, transformou em monólogo.

No Mais Você, Marília disse que não desafiava Fred por medo de errar diante das pautas de diversidade que ele defende. Errou ao fazê-lo, errou em admitir que fez... mereceu a eliminação. Nicácio voltou para o jogo abastecido de autocentralidade até o teto do mundo e vai se enforcar cada vez mais com a suspeita de que aqui fora ele seja o novo baluarte de justiça e da verdade. O médico fala o tempo todo em "jogo limpo", sem nem perceber o quanto foi "sujo" com a mulher com quem esteve acorrentado. Ele é puro delusional, pura vaidade; e extremamente necessário para os primeiros passos do BBB23. Que curioso não é? Fred é realmente importante para o programa... só que não da maneira que ele gostaria.

Está definido que...

... não dá para dizer "eu adoro" para ninguém do elenco. Às vezes tenho muita vontade de dizer isso para Aline, mas ela falha em não ser sincera sobre Bruno Gaga do jeito que sabemos que ela quer ser. Bruno é um participante totalmente dispensável e provavelmente Boninho se arrependeu dessa escalação assim que ele disse as primeiras três palavras. Às vezes parece que essa vontade de repetir o padrão Gil é puro deboche do diretor. Gil é inigualável e sobre ele há coisas especiais demais para que aceitemos tentativas de repetição. É hora de diversificar a diversidade. Não existe só um tipo de gay e de preto... e de rapper até. Guimé é o próximo a ter sua carreira seriamente abalada pela passagem no programa.

Está a definir...

... o que pode causar essa coisa de permitir que líderes tenham acesso a áudios de dentro da casa. Fazer um paredão "meio falso" logo no começo foi uma boa forma de escapar do já estabelecido hábito dos participantes de não falar sobre os eliminados até que dois ou três dias se passem. Com os áudios liberados no quarto do líder, o medo de falar se tornará diário, constante, prejudicando o andamento do jogo. Estranhamente, há várias intromissões perigosas esse ano.

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