Chefe de Guerra traz mulheres poderosas fugindo do anacronismo, diz atriz
“O feminismo como conhecemos hoje não existia”, comenta Luciane Buchanan
Créditos da imagem: Luciane Buchanan como Kaʻahumanu em Chefe de Guerra (Reprodução)
A presença feminina em Chefe de Guerra é forte - entre as dezenas de personagens que formam o mosaico de poder do Havaí em sua narrativa de época, a série dá espaço de sobra para Ka’ahumanu (Luciane Buchanan) e Kupuohi (Te Ao o Hinepehinga) brilharem tomando decisões políticas consequentes e participando ativamente das grandes batalhas que se desenrolam nas ilhas.
A seguir, o Omelete conversa com as duas atrizes sobre essa representatividade, que não esbarra no anacrônico - mas tampouco coloca para escanteio o poder feminino. Confira!
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OMELETE: Luciane, a Ka’ahumanu é uma figura imponente na história havaiana. O quão familiarizada você estava com a história dela quando conseguiu o papel? E como conciliou o legado dessa mulher real com a personagem do texto?
BUCHANAN: Ótima pergunta. Eu devo dizer: não tinha ouvido falar dela antes do teste. Eu tinha ouvido falar de Kamehameha, o rei, mas não sabia muito sobre a história havaiana. Então fazer o teste foi ótimo porque me permitiu descobrir quem ela era com o texto, entender essa pessoa e me afeiçoar a ela. Eu realmente não achei que conseguiria o papel.
HINEPEHINGA: Acho que a maioria de nós pensou isso. Quem não era havaiano nativo, pensava: ‘Não tem como conseguirmos esse trabalho’. Mas era um projeto especial, e talvez gostassem o bastante de nós para nos dar uma fala, um papel menor. Bom, aqui estamos nós.
BUCHANAN: Sim, e quando ganhamos o papel… ops, agora teremos que pesquisar bastante! Foi um processo longo para mim, eu viajei pelas diferentes ilhas em que ela esteve, para os lugares que ela frequentou. Eu precisava ter certeza de que, antes de começar o trabalho, eu teria uma boa noção de quem ela era. O que foi ótimo porque, sabe, como atores vivendo na era contemporânea, é fácil olhar para tramas históricas e pensar: ‘Ah, sei como vou interpretar isso porque sei o que acontece depois’. Eu realmente queria me livrar desse tipo de pensamento, e interpretar quem era ela naquele momento, quais eram suas intenções naquele momento. Nós sabemos o que acontece depois, e como isso se desenrola, mas eu só queria ter cuidado para não trazer nenhum preconceito para a tela. O feminismo, como o conhecemos hoje, simplesmente não existia naquela época.
OMELETE: É muito legal conversar com vocês duas juntas porque há, realmente, uma presença feminina muito forte nessa série. Como vocês se sentiram podendo representar isso? Como colaboraram com as pessoas na produção para trazer isso à tona?
HINEPEHINGA: Bom, nós duas somos mulheres polinésias, que tiveram o privilégio de serem criadas por outras mulheres polinésias, pessoas incrivelmente fortes. Mas para mim, acho que foi muito importante garantir que a força dela, o na’au [em havaiano, a alma ou as entranhas de um indivíduo] dela fosse genuinamente havaiano. Nesse processo, eu confiei muito na minha instrutora linguística, que era uma mulher, mãe e professora incrível. Ela foi uma grande inspiração para tentar manter a autenticidade e a singularidade do que é ser uma kanaka wahine [em havaiano, uma ‘mulher havaiana’], e não apenas uma wahine polinésia. Foi um processo muito bonito, nesse sentido.
Em Chefe de Guerra, Jason Momoa interpreta Ka’iana, o herdeiro de uma linhagem real do Havaí do século XVIII, marcado por guerras entre famílias e facções, logo antes de sua unificação histórica.
Os dois primeiros episódios da minissérie já estão disponíveis para streaming no Apple TV+, com capítulos subsequentes agendados para lançamento semanal, sempre às sextas-feiras.