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Crítica

Black Mirror: Arkangel - 4ª temporada | Crítica

Episódio coloca lupa tecnológica sobre relacionamentos abusivos entre pais e filhos

Omelete
3 min de leitura
29.12.2017, às 14H57.

Todo mundo conhece o talento de Jodie Foster na frente das câmeras, mas seu trabalho atrás delas pode ser inédito para a maior parte do público. A atriz chegou a dirigir alguns episódios de séries dos anos 1980 e assinou o longa Mentes que Brilham no começo dos anos 1990, mas, somente mais recentemente Foster resolveu se dedicar com mais assiduidade ao ofício de diretora. Depois de conduzir capítulos de séries como House of Cards e Orange is the New Black e filmes como Jogo do Dinheiro e Um Novo Despertar, Foster dirige o episódio "Arkangel", da quarta temporada de Black Mirror.

Dessa vez, a série distópica fala sobre o quão problemática pode ser aliar a obsessão dos pais pela segurança dos filhos à recursos tecnológicos. Na trama, Rosemarie DeWitt vive a mãe de Sara, papel compartilhado por Anya Hodge e Sarah Abbott na infância e Brenna Harding na adolescência. A primeira cena do episódio, que mostra o parto da menina, funciona como uma espécie de alerta sendo ligado na mente da mãe: já naquele momento, no não-choro da criança, é como se um tipo de insegurança tivesse sido plantado no cerne da relação entre as duas e o episódio acompanha a evolução disso para algo cada vez mais sombrio.

A tecnologia que dá sentido à trama é um implante feito na cabeça de crianças que, através de um tablet, permite aos pais não só monitorarem a saúde dos filhos - desde batimentos cardíacos até alertas sobre ingestão de drogas - como também os permite ver com os olhos dos jovens e decidir, através de imagens pixeladas e áudio modificado, o que eles podem ou não ver e ouvir. Sara recebe o implante, criado pela empresa que dá nome ao episódio, após se perder em um parquinho, durante a infância - sua mãe acredita que a medida pode ser importante para garantir a segurança da filha.

A partir daí, há dois momentos e duas problemáticas distintas. Ainda na infância da filha, a personagem de DeWitt descobre que esconder através de imagens borradas e de áudios ininteligíveis faz com que uma criança cresça sem a menor noção de perigo - e que é essa noção que poderá ser decisiva para que alguém consiga tomar decisões acertadas na hora de salvar ou não a própria vida. O que a mãe faz com a filha nesse momento do capítulo é colocar na vida real uma espécie de filtro de controle de conteúdo - Sara cresce dentro de uma bolha e isso, é claro, logo se torna um problema.

Depois, há a fase da adolescência. Sem maiores spoilers, o que a série explora é a dificuldade de certos pais em entenderem o aumento do grau de autonomia dos filhos conforme eles vão envelhecendo. A trama basicamente acompanha uma mãe que se acostumou a um nível de controle tão extremo em relação à vida da filha que perdeu a noção de até que ponto é ético não só vigiar, mas interferir anonimamente nas escolhas dela. A partir daí, a série vai ficando cada vez mais desagradável e perturbadora até encontrar seu ápice.

"Arkangel' é um ótimo episódio: a premissa do relacionamento abusivo entre mãe e filha é ótima e o desenrolar da história é satisfatório. A conclusão mostra as consequência da desumanização de uma parcela vital do que é o ser humano, e é muito interessante ver o espelhamento dos dois momentos cruciais da trama - a narrativa corre de forma cíclica para que um deles levasse até o outro. Jodie Foster, aliada ao texto de Charlie Brooker, mostra competência na hora de mostrar sobre como o mais inquestionável tipo de amor pode - e deve - ser problematizado antes de se tornar uma obsessão doentia.

Nota do Crítico
Ótimo
Black Mirror
Em andamento (2011- )
Black Mirror
Em andamento (2011- )

Criado por: Charlie Brooker

Duração: 6 temporadas

Onde assistir:
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