Cenas de Avatar: A Lenda de Aang e A Lenda de Korra

Créditos da imagem: Nickelodeon/Divulgação

Séries e TV

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Por que as animações de Avatar ainda importam

Criações de Michael Dante DiMartino e Bryan Konietzko seguem atemporais mesmo anos depois da exibição de seus episódios finais

Omelete
5 min de leitura
01.07.2020, às 19H47.
Atualizada em 28.07.2022, ÀS 09H58

Avatar: A Lenda de Aang é aquele tipo de animação que enche os olhos. Com um traço que une animações ocidentais a animes e um roteiro muito bem escrito, a criação de Michael Dante DiMartino e Bryan Konietzko encanta novas gerações de fãs graças à sua presença no streaming. Aang, Katara, Sokka, Toph, Zuko e Suki são alguns dos personagens mais queridos da história da Nickelodeon e suas histórias são capazes de emocionar até aqueles que já sabem a série de cor. A sequência, A Lenda de Korra, não é diferente. Os criadores trouxeram a mesma qualidade de animação, desenvolvimento de tramas e personagens para a série derivada, que teve quatro temporadas.

Embora a beleza das animações e a rica mitologia que apresentam sejam os grandes atrativos da franquia, não é isso o que mantém Aang e Korra tão atuais, mesmo anos após seus finais, em 2008 e em 2014, respectivamente. Mesmo exibida por um canal infantil, Avatar tratou de temas como xenofobia, fascismo, diferenças sociais, opressão policial, machismo e liberdade religiosa.

[Spoilers de Avatar: A Lenda de Aang e A Lenda de Korra à frente]

Logo nos primeiros minutos de Aang, Katara briga com seu irmão, Sokka, por ele sugerir que “mulheres são melhores para costurar e cozinhar”, enquanto homens foram “feitos para serem guerreiros”. Irritada, a garota usa a palavra “machista” para descrevê-lo, tanto na dublagem original, quanto na brasileira. Em desenvolvimento semelhante, o garoto, criado em uma pequena aldeia no Polo Sul, só começa a mudar seu comportamento sexista ao conhecer Suki, membro de um grupo de guerreiras de elite que o derrota com facilidade. Ainda na primeira temporada, Katara tem um grande confronto com costumes machistas e retrógrados da Tribo da Água do Polo Norte, que impediam que mulheres fossem treinadas para o combate, reforçando o discurso igualitário que permeia a série desde sua estreia.

A primeira parte da franquia também é enfática em relação a regimes fascistas. Ao longo de seus 61 episódios, A Lenda de Aang mostra as consequências trazidas pelo regime opressor da altamente militarizada Nação do Fogo. Com uma força esmagadora, a ditadura mostrada na série causa o genocídio dos dobradores de ar, cria campos de concentração para rebeldes da nação da terra e atenta contra um templo sagrado da Tribo da Água.

Nenhum destes temas abordados em Avatar é passageiro ou raso. Aliás, eles fazem parte do desenvolvimento de cada personagem da série, que evoluem à medida em que a animação se aprofunda em assuntos como educação ideológica, como o culto mostrado quando Aang vai a uma escola da Nação do Fogo, ou desigualdade social causada pelo enriquecimento de apenas uma pequena parcela da população. A animação não tem vergonha de mostrar os males do mundo para as crianças de maneira didática e, ao mesmo tempo, divertida, passando sua mensagem para o público infantil e conversando com seus fãs adultos.

Apoiada em um humor que segue atual e livre de clichês, A Lenda de Aang conseguiu abordar temáticas sérias que, por incrível que pareça, seguem pertinentes em pleno 2020, 12 anos após seu encerramento. Quando redes sociais como Twitter e Facebook ainda engatinhavam e nem ao menos sonhavam em ser palco para tais discussões, a franquia já tocava em assuntos que hoje são motivo de debates diários.

Korra, desigualdade e extremismo

Embora alguns espectadores mais conservadores tenham certa má vontade com A Lenda de Korra por causa das características da protagonista – uma mulher inuit (população nativa das regiões mais frias do Alasca, Canadá e Groenlândia) -, é inegável que a sequência liderada pela nova Avatar manteve a qualidade de sua predecessora. Quando levaram a nova série para a Nickelodeon em 2012, DiMartino e Konietzko seguiram falando de temas importantes, dedicando uma temporada a cada um.

Mais uma vez, Korra e seus companheiros, Asami, Mako e Bolin, são desenvolvidos com calma e moldados pelas situações que enfrentam em cada episódio. Em seu primeiro Livro – como são chamadas as temporadas da franquia -, a sucessora de Aang vai pela primeira vez à cidade grande e se depara com uma nova realidade: a desigualdade causada pelo avanço econômico. No universo da série, fica claro que grande parte dos empregos é reservado àqueles capazes de manipular elementos, fazendo com que não-dominadores fiquem fadados a trabalhos de menor remuneração.

É neste cenário que nasce o movimento igualitário, que quer eliminar essa diferença econômica e social entre os que podem e os que não podem controlar água, fogo, terra e ar. Assim como acontece na vida real, a extrema pobreza leva parte da população a se revoltar contra um sistema que, além de privá-los de oportunidades de uma melhoria de vida, ainda faz uso da força policial para oprimir quem pede pelo mínimo, como eletricidade e o direito de ir e vir.

Embora ambos abordem o extremismo religioso, o segundo e o terceiro Livro de Korra mostram dois vilões que, por motivos diferentes, querem destruir a crença do mundo no Avatar. Com uma sequência de “guerras santas”, a animação deixa claro as consequências trazidas pela intolerância, que devasta todo o Reino da Terra e leva a quarta temporada a mostrar, com uma profundidade ainda maior do que Aang, como nasce uma ditadura.

Sem papas na língua, DiMartino e Konietzko chamam Kuvira, a vilã do Livro final, de “fascista” e “ditadora” e justificam isso a cada episódio, mostrando a criação de campos de “reeducação” usados para prender rebeldes e a destruição de cidades e governantes que se recusem a se unir ao seu regime. Korra mostra como a figura egocêntrica no meio de uma ditadura fascista acredita estar fazendo o melhor para todos quando, na verdade, pensa apenas em suas ambições egoístas e está disposta a sacrificar toda e qualquer vida inocente que se oponha a suas visões.

Ainda que tenha uma arte encantadora e seja direcionada ao público infantil, a franquia Avatar é muito mais do que um desenho animado. Profundas, críticas e desafiadoras, as animações da Nickelodeon têm o potencial para continuar ensinando inúmeras gerações. E com o remake live-action de Aang sendo produzido pela Netflix e comandado por Konietzko, este universo fantástico está prestes a ficar ainda mais em evidência.

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