Outro dia eu fui ao famigerado Twitter e disse que Andor é ouro. A maioria das pessoas concordou, alguns disseram que era a melhor coisa de Star Wars já feita. E como toda rede social, a bolha mais barulhenta é a que se apossa da verdade. Neste caso, porém, o silêncio é mais forte do que qualquer ruído sobre a série do Disney Plus. Por que ninguém fala de Andor, que já é considerado por inúmeras pessoas o melhor produto audiovisual de 2025?
Duas respostas simples vêm à mente. Star Wars se desgastou com o tempo e perdeu a relevância de outrora; e a avalanche de conteúdo nos dias atuais fez a disputa por espaço ficar ainda mais acirrada. Se você junta as duas coisas não fica difícil achar uma resposta para a pergunta anterior. A questão, porém, vai além da superfície. Muito do que faz Andor não ganhar atenção é por ser sobre tudo que ninguém quer falar atualmente. Luta, repressão, controle e política - tudo sobre o que Star Wars sempre foi por baixo da fantasia criada por George Lucas.
O próprio criador por diversas vezes disse o que o inspirou a criar a franquia. Sobre os rebeldes, em entrevista a James Cameron, Lucas afirmou que eles foram inspirados pelos vietcongues e o Império pelo domínio dos EUA na década de 1970. Star Wars nasceu falando sobre política na ótima aventura especial da família Skywalker. A segunda trilogia, dos episódios 1, 2 e 3, possui todas as caraterísticas de uma obra feita sob o governo Bush, pautada pelas invasões ao Iraque e “os aplausos estrondosos” de um Senado que comemorava o fim da democracia.
O lance com Star Wars não é muito diferente de outras franquias com fandoms gigantes. O povo pede algo novo, longe das receitas repetidas de jedi e Skywalkers, mas no fundo quer mesmo é a reafirmação da nostalgia gratuita. Não tem nada de errado com isso, é um movimento humano natural, mas com a existência de Andor (e até de Mandalorian) não dá para dizer que Star Wars não evoluiu ou perdeu relevância criativa. A série criada por Tony Gilroy é com larga vantagem a melhor coisa de cultura pop em 2025, e uma das mais interessantes obras neste gênero na última década.
Ao invés de usar política como pano de fundo, Andor a faz ser combustível e motor de toda a história. Seja o protagonista ou os incríveis coadjuvantes, todos são movidos pelo medo do domínio completo e perda de personalidade em um mundo que vai rumo ao controle total. O trunfo maior do roteiro talvez seja mostrar o outro lado a fundo, com os receios e anseios de quem está do lado do império e, mesmo sabendo de todos os problemas, segue a receita da opressão. Seja por benefício próprio, seja por isenção. Pra que lutar, se eles são mais fortes e são maioria?
Caso Luke, Leia e Han pensassem assim, não existiria Star Wars. Andor é o lado menos glamouroso, mas muito mais verdadeiro e dolorido desta luta. É a versão sombria e realista da história, sem nenhum do cinismo fantasiado de seriedade que o cinemão de Hollywood proliferou nos últimos anos. E é muito por isso que Andor não faz um sucesso do tamanho que merecia. Por que não se vende como anti-herói, como revolucionário, como a jornada de redenção. Ela é madura, verdadeira e densa demais para uma audiência acostumada aos explicados e listas de referências - como eu. Por sorte, eu me dei ao trabalho de assistir e meu amor por Star Wars reviveu e, talvez, seja maior do que nunca.
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