É quase impossível não ter esbarrado em algo sobre Adolescência, nova série da Netflix sobre um jovem de 13 anos acusado de assassinato. Seja pelos números enormes alcançados pela produção ou pelos inúmeros artigos de especialistas em psicologia e educação nos portais mundo afora, o streaming americano mais uma vez comprova que tem uma capacidade ímpar em liderar conversas hoje, especialmente no ambiente digital.
Os números são realmente impressionantes: 66 milhões de espectadores em 10 dias. Nos primeiros quatro dias, foram 24 milhões. Para comparação, o grande hit da Netflix em 2024, Bebê Rena, teve 22 milhões nos primeiros 21 dias. Dessa forma, com seus 301 milhões de assinantes espalhados pelo mundo, é inevitável que a Netflix lidere as conversas – a boa notícia, porém, é que, diferente de outros momentos, a qualidade da obra é tão grande quanto seu impacto.
Adolescência é um feito incrível no âmbito artístico, e não é pela forma somente, já que os planos-sequência (cenas gravadas sem cortes) que ocupam os capítulos inteiros se tornaram uma das bandeiras de divulgação da série. Os episódios ganham muito com a intensidade dessa montagem, que é usada de jeitos diferentes ao longo da história. No primeiro há uma visita à delegacia, no segundo a jornada pela escola, no terceiro uma consulta psicológica e no quarto um dia inteiro na vida da família. Nenhum deles tem uma proposta ou ritmo igual, apesar da técnica ser a mesma.
Esta escolha potencializa a atuação de todos envolvidos, mas também encontra espaço para sutilezas que abrem os debates sobre criação, internet, consumo digital e relacionamentos. Como o episódio dois mostra, a confusão da escola e o jeito que os professores e alunos se tratam é um destes exemplos. O mesmo serve para os altos e baixos das discussões entre pai, mãe e filha no último episódio – neste, Stephen Graham faz a atuação de uma carreira e que provavelmente vai lhe render prêmios esse ano.
Não é como se Adolescência reinventasse a roda ou mudasse o jeito de se olhar roteiros sobre crimes e famílias. Existem centenas de projetos parecidos sendo lançados ano a ano. A questão é que nenhuma delas combina elementos técnicos e culturais como esta obra da Netflix. Nenhuma torna o espectador um elemento da história com tanta naturalidade. Nenhum tira o tema dos personagens de forma tão orgânica, evitando discursos pedantes. Nenhuma capta, com tantas camadas, a forma como pais e filhos se distanciam em um mundo tão conectado. E nenhuma conversa com a necessidade de uma narrativa tão ágil, dolorida e ambígua como ela. Adolescência é um feito histórico, e certamente já é uma das coisas mais relevantes do entretenimento em 2025.
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