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A fogueira das vaidades: Os reality-shows sobre transformações estéticas

A fogueira das vaidades: Os reality-shows sobre transformações estéticas

AG
23.08.2004, às 00H00.
Atualizada em 07.11.2016, ÀS 07H03

Esquadrão da moda

Queer eye for the straight guy

Extreme Makeover

Nip/Tuck

Dr. 90210

A era das transformações televisivas começou devagar. Depois de um início tímido no Brasil, com um quadro de maquiagem/cabelo dentro do programa da Xuxa, surgiram programas como Antes e Depois e Esquadrão da moda, ambos do canal a cabo People & Arts, que repetiam uma fórmula básica: pega-se uma pessoa desarrumada, adiciona-se uma visita a uma loja de grife e a um cabelereiro moderno e como resultado tem-se alguém mais bonito e mais feliz consigo mesmo. Não havia grandes questionamentos sobre a vida e as atitudes do transformado, apenas a demonstração clara de que a vida dele tinha melhorado com a(s) mudança(s).

Refletindo a tendência da sociedade do culto à perfeição e à estética, o número de programas em que um pobre diabo era transformado em ícone fashion foi aumentando. Isso trouxe uma variedade de enfoques. Em Queer Eye for the Straight Guy, atração do canal Sony, a transformação é leve e divertida: cinco homens gays especializados em diversas áreas (culinária, decoração, beleza e estética, moda e cultura) entram no universo de um homem desleixado e o mostram como ser ele mesmo, mas um pouco melhor. É uma consultoria bem personalizada, em que eles buscam entender a pessoa e explicar, dentro da realidade gay, porque um homem precisa fazer a unha. Ou que é melhor ser careca do que usar uma peruca. Como prova, eles queimam o falsa cabeleira do cobaia hétero, o tal straight guy, em um dos melhores episódios da série.

A temática foi aproveitada também pela MTV, que colocou a modelo Fernanda Tavares no comando de Missão MTV, um programa nos mesmos moldes de Esquadrão da moda, mas sem o carisma das apresentadoras Trinny Woodall e Susannah Constantine. Pelo contrário. Tavares é um poço de antipatia e sua contratação deveria ser revista urgente pela emissora.

Dos cortes de cabelo às incisões cirúrgicas

Até então, as transformações mais agressivas desses reality-shows envolviam, no máximo, cera para depilação. Mas com o programa Extreme Makeover, que passa logo após o Queer Eye, as transformações se tornaram, de fato, mais radicais. A proposta do programa é oferecer ao candidato quantas cirurgias plásticas forem necessárias para ele se sentir melhor consigo mesmo. Nesse contexto, são operadas tanto pessoas com má formações congênitas quanto pessoas que não gostam do próprio nariz. Coisas que, para o programa, são iguais.

O apelo dramático de Extreme Makeover é forte: o primeiro bloco é dedicado a mostrar a vida - e a infelicidade - de quem vai receber a transformação. Um colegial problemático, dificuldades de relacionamento, provocação de colegas e muitas lágrimas fazem os candidatos ganharem uma lipoaspiração ou qualquer outra operação que esteja ou não na moda. Depois das cirurgias, visitas ao dentista e tratamentos de pele, vêm os cuidados secundários: ginástica, mudança de guarda roupa, cabeleireiro, maquiagem e uma superprodução até o momento da revelação em grande estilo feita à família e amigos. Já foi produzido até um casamento na Disneylândia, em que ambos os noivos eram os transformados e só se encontravam no altar. As comparações com príncipe, princesa e conto de fadas eram inevitáveis, só faltando o slogan: A plástica os fez viverem felizes para sempre.

Ainda mais apelativo que o Extreme Makeover é I Want a Famous Face, da MTV norte-americana. Nele, os participantes buscam ficar com a mesma aparência de seu ídolo, com resultados muitas vezes constrangedores e quase sempre patéticos.

Toda essa valorização da futilidade e do bisturi é duramente questionada em Nip/Tuck, novo seriado da Fox. O drama, que mostra a vida de dois cirurgiões plásticos conceituados de Miami, é um tapa na cara com luva cirúrgica. Christian é ganancioso, esperto e manipulador. Sean é um homem sério, que questiona sua carreira e tenta consertar sua vida familiar. Ele não pega leve em nenhum assunto: pedofilia, amizade, traição, tráfico de drogas, modelos com problemas emocionais e muito silicone: tudo isso é mostrado. O seriado disseca o mercado da vaidade sem falsos moralismos ou reservas, mas com imagens chocantes e humor negro. Para completar, há muito sangue na tela, pois as cirurgias são mostradas detalhadamente. Quem também critica o mundo da estética desmedida é Dr. 90210, programa que mostra o trabalho de cirurgiões plásticos de alto nível na rica vizinhança de Los Angeles. A diferença na série do E! Entertainment television é que ela se concentra em mostrar o impacto de alterações menores na vida dos pacientes, ou até mesmo correções de cirurgias prévias malfeitas.

É muito interessante assistir a um episódio de Extreme Makeover e depois um de Nip/Tuck ou Dr.90210. Eu, que já até considerei a hipótese de um dia fazer uma plástica, confesso que vi esta minha idéia ficar estacionada. Afinal, o questionamento que mais deve ser feito após todo o banho de sangue destes dois programas é: quanto da nossa auto-imagem é manipulada pela mídia? Afinal, a beleza está em nós mesmo, nos olhos de quem vê ou na tela da televisão?

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