Séries e TV

Entrevista

3% | "A própria série já é uma discussão social", diz protagonista Bianca Comparato

Elenco fala sobre temática da desigualdade e revela responsabilidade por fazer a primeira série nacional da Netflix

23.11.2016, às 10H31.
Atualizada em 23.11.2016, ÀS 12H14

Além de toda a questão de um futuro distópico situado no Brasil, 3%, a primeira série nacional da Netflix, também fala muito sobre a questão da desigualdade. Enquanto a maior parte da população habita o Continente e enfrenta escassez de várias coisas essenciais à sobrevivência, os já citados 3% vivem de forma abastada no Maralto.

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A protagonista Bianca Comparato, que faz o papel de Michele, revela que não foi difícil pesquisar sobre isso: "Acho essa série muito atual, não precisa ir muito longe para ver essa discrepância econômica. Minha pesquisa foi com o mundo de hoje, olhando para a miséria. É isso elevado a um mundo fantástico, de ficção científica, mas o espírito é muito nosso. O que eu gosto da série é que ela é muito brasileira. Imagine um país de terceiro mundo evoluindo, há uma discussão que não é política, é social. Ela não fica tão exposta, mas a série em si já é uma discussão".

Vaneza Oliveira diz que cresceu na periferia, o que a ajudou a compor a personagem Joana também na parte de expressões corporais: "Têm sentimentos de você se defender com o olhar, com postura corporal, então esse jogo de 'eu estou em perigo em todos os momentos', por mais que a ideia aqui seja no futuro, dá para colocar isso no presente. O que eu mais gosto nessa série é isso. É um projeto que fala sobre meritocracia, mas não está querendo colocar se é bom ou ruim, ou como justificativa de uma situação social, ele questiona de uma maneira muito humana".

A série também tenta mostrar o outro lado da história, ao incluir o personagem Marco, que é de uma família de vencedores e tem absoluta certeza de que vai conseguir: "Como estamos nesse momento do Brasil, com essa maluquice e meritocracia, etc., acho que meu personagem representa um pouco esse pensamento conservador, então minha inspiração foi ver o que o jovem de vinte e poucos anos está pensando, que tipo de discurso ele reproduz, focando nessa galera que tem o pensamento mais conservador, mais aristocrata, porque a história dele é essa", diz Rafael Lozano, intérprete do personagem.

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"Ele vem de uma família de vencedores, a família Alvares, todos eles passam, mãe, pai, tio primo, todos, então ele tem esse peso social, de que as pessoas sabem que ele é um Alvares. As pessoas o reconhecem nos lugares e isso é algo que pesa também, porque isso vai determinar o que ele vai fazer para conseguir passar para o lado de lá", conclui Lozano.

Rodolfo Valente, que faz o papel de Rafael, compara a divisão que vemos em 3% com muitos lugares de São Paulo, onde favelas ficam ao lado de bairros nobres: "Uma coisa que eu falo sempre é que a série é muito brasileira. Não só porque nós do elenco somos brasileiros, mas principalmente porque ela discute temas que são muito nossos. Claro que desigualdade, meritocracia, essas coisas, são universais, por isso ela pode passar no mundo inteiro que todos, infelizmente, vão entender. Mas acho que, principalmente neste momento que estamos vivendo agora, ela discute coisas fundamentais e do nosso cotidiano. Podemos abrir para a questão política, da desigualdade, mas o 3% está em São Paulo quando você vê Paraisópolis e os prédios luxuosos. É o 'lado de cá' e o 'lado de lá'. A única diferença é que a vida real parece mais irreal ainda, porque isso é separado por uma rua, e na série temos o Processo".

Representantes nacionais

Fãs de produtos da Netflix, os protagonistas sabem da pressão por estarem na primeira série nacional do serviço de streaming. Comparato diz que há algo diferente sim, afinal a série será lançada em vários países, mas que se preocupa mais com a opinião do público brasileiro: "Torço muito [pelo sucesso da série], acho que faria muito bem ao audiovisual no Brasil. Carrego um pouco essa responsabilidade de fazer um bom trabalho para que isso aconteça, que mais séries sejam feitas aqui, que a Netflix entre mesmo no mercado nacional e crie mais trabalho para todo mundo. Fazendo a série, eu pensava nisso: 'temos uma responsabilidade aqui, temos que fazer bem feito'. Não é um frio na barriga, é uma motivação. Estou muito voltada para o que o pessoal aqui vai pensar porque fizemos essa série para ser brasileira".

Já Lozano diz que o maior nervosismo foi a ideia de querer fazer parte do projeto: "Não sabemos como vai ser, porque realmente é a primeira série nacional, não sabemos como será a recepção do público, se as pessoas vão olhar e pensar 'ah, lá vai o Brasil querendo tentar'. Não sabemos. Então tem essa ansiedade, mas estamos muito satisfeitos, do que imaginamos e do que vimos de material final realizado, estamos muito felizes", completa.

Para finalizar, Michel Gomes diz que todos no set sabiam da responsabilidade, mas isso criou um clima ainda melhor: "A gente se uniu muito, porque nós também tínhamos essa ideia. Por ser o primeiro trabalho original da Netflix no Brasil, queríamos fazer algo bom, que fosse legal, que tivesse retorno. Sinceramente não me apeguei muito a isso, na questão da quantidade de países onde vai passar. Tentamos fazer da melhor forma possível. Só depois da estreia que vou saber como será".

3% estreia na Netflix em 25 de novembro.

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