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50 anos de The Rolling Stones

Metade de um século depois, o primeiro disco dos Stones ainda mexe muito com o público e revela o estado bruto de uma banda que segue na ativa

25.04.2014, às 00H00.
Atualizada em 29.06.2018, ÀS 02H45

Imagina que louco: década de 60, você no alto da adolescência, com níveis de ansiedade variando e proibido de curtir o rock em paz. O motivo? A sociedade ter definido aquele estilo como música de rebeldia. Mas como tudo que é proibido é mais gostoso, você dava seus pulos para ouvir o som. Matava aula para passar o dia numa loja de discos ou, simplesmente, escondia um rádinho de pilha de baixo do travesseiro e assim passava a noite acordado ouvindo as estações piratas.

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Hoje em dia, essas histórias parecem divertidas, mas naquela época, além de arriscado, ouvir rock’n’roll era um atestado de insubordinação contra os padrões sociais, principalmente aqueles que tratavam da sexualidade dos jovens.

Em 1962, seis garotos ingleses formaram uma das tantas bandas de rock daquela década. Mick Jagger (vocal), Keith Richards (guitarra), Byll Wyman (baixo), Ian Stewart (piano), Brian Jones (guitarra) e Charlie Watts (bateria), todos eles fãs de blues norte-americano, de ídolos como Chuck Berry e Bo Diddley, fundaram os Rolling Stones, banda que, anos e troca de alguns integrantes depois, se mantém na ativa até hoje.

O começo

Os Rolling Stones começaram tocando em pequenas casas de shows em Londres e logo menos foram agenciados por Andrew Oldham, um relações públicas bastante esperto que até então trabalhava como assessor de imprensa de outro grupo de rock inglês, um famoso quarteto de Liverpool que levava o curioso nome de The Beatles.

Em 1964, mais especificamente no dia 16 de abril, o disco The Rolling Stones foi lançado. Gravado em 10 dias, num estúdio precário, o álbum vendeu 100 mil unidades apenas na 1ª semana, algo que colocou os Rolling Stones nas paradas de sucessos e nos corações de adolescentes em todo o Reino Unido.

Disco de estreia

O debut é também um dos principais trabalhos da longa carreira da banda. Para Keith, um dos motivos do sucesso da obra foi a seleção das canções, "que ficou com o melhor do nosso repertório [naquela época]”. No mesmo depoimento, retirado do livro According To The Rolling Stones – A Banda Conta sua História (Cosac Naify), Keith confirma a total falta de know how dos músicos e de Oldham em relação ao processo de gravação, já que segundo ele, os Stones "nem sabiam o que era um produtor".

Contratada pela gravadora Decca, a banda teve total liberdade durante a produção do álbum. Além de escolherem as músicas, eles também optaram por estúdio simples, revestido de caixas de ovos, onde o único equipamento profissional presente era o gravador de rolo pendurado na parede. The Rolling Stones apresenta um repertório de 12 faixas, sendo apenas uma composta pela dupla Jagger/Richards.

A sonoridade do disco tem os dois pés fincados no blues norte-americano, fator que logo de cara colocou os Stones na dianteira de um rock mais sedutor e pegado, algo quase inexistente no "iê iê iê romântico" e polido dos Beatles. Ainda nas palavras de Richards, a única coisa em comum entre as duas bandas era o processo de gravação, no qual "cada faixa era gravada como se fosse um compacto. Isso mudou o modo como as pessoas começaram a pensar os discos".

Impacto

Um disco recheado com letras de negros do Sul dos Estados Unidos, totalmente incompreensíveis para jovens brancos da Inglaterra, a primeira bolacha dos Rolling Stones se define por faixas embluesadas como “I Just Want To Make Love To You” (Willie Dixon), “Carol” (Chuck Berry) e “You Can Make If You Try” (Ted Jarrett). Ironicamente, a música mais adocicada de todo o álbum é também a única autoral. “Tell Me” é uma balada à la Everly Brothers que mostra um Mick Jagger e um Keith Richards ainda desabrochando para a vida de rockstars.

Destaque para o sex appeal melódico de “Honest I Do” (Jimmy Reed) e “I’m King Bee” (Slim Harpo), cujas sonoridades arrastadas fazem todo o sentido para uma banda que, futuramente, seria reconhecida pelo total atrevimento e despudor. “Walking The Dog”, a última faixa, vale pelas palmas e assovios, um arremate envolvente para um álbum encorpado.

Em linhas gerais – e cinquenta anos depois –, ainda há como se surpreender com a ousadia de The Rolling Stones. Tentadora, a obra revela uma banda em seu estado bruto e mostra pelos lados A e B porque valia tanto a pena deixar o rádinho em baixo do travesseiro. Com os Stones, ninguém dorme sozinho.

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