Desde sua criação no fim de 2007, Assassin's Creed se tornou uma das mais amadas franquias dentro da indústria dos jogos. Enquanto não é possível negar seu valor e importância, alguns questionam o excesso de conteúdo que a Ubisoft disponibiliza todos os anos. Entre jogos, livros, quadrinhos e minisséries, novas aventuras foram criadas, porém nenhuma novidade de gameplay ou narrativa foi acrescentada dentro do universo de batalha entre Assassinos e Templários. A exceção à regra é o livro Assassin's Creed: The Last Descendant, voltado para um público mais jovem e grande aposta da Galera Record para o fim do ano.
Na história acompanhamos Owen e Javier, que, apesar das diferenças sociais e raciais, cresceram juntos e cultivaram uma inesperada amizade. Ao serem convidados para testar uma versão roubada da máquina Animus se descobrem envolvidos na eterna guerra entre Assassinos e Templários, duas organizações com objetivos, métodos e crenças completamente diferentes entre si. Owen e Javier são colocados no meio de uma grande aventura pela Nova York do final do século 19, durante o auge da Guerra Civil Americana.
Uma das coisas que mais chama a atenção, logo no começo do livro, é a novidade que agora duas ou mais pessoas poderem usar o Animus de forma simultânea em uma mesma conexão. O fato das histórias estarem interligadas possibilita uma narrativa intrigante, com o autor montando os fatos somente do ponto de vista de quem estamos acompanhando. Além disso, The Last Descendant apresenta quatro personagens essenciais que crescem durante o livro e fazem com que Owen e Javier sejam apenas mais peças no complicado xadrez que é o mundo de Assassin's Creed. A ambientação da trama, uma das coisas que mais agrada aos fãs e simpatizantes, aparece de forma bem competente neste novo livro. The Last Descendant apresenta um contexto digno de Martin Scorsese e seu Gangues de Nova York, culminando na revolta gerada pela lei que obrigava os cidadãos a irem para a guerra civil lutar pelos abolicionistas, em um dos capítulos mais lamentáveis e violentos na biografia de Nova York.
Outro destaque do livro é o questionamento imparcial - poucas vezes visto na franquia - sobre a eterna disputa entre Assassinos e Templários e a justificativa da salvação da humanidade como bode expiatório para benefício da vitória de suas próprias crenças. Vale destacar também que este é o primeiro livro da série que não é escrito por Oliver Bowden, pseudônimo do autor e historiador inglês Anton Gill. Mathew J. Kirby implementa em The Last Descendant uma crueldade e ritmo completamente diferentes dos livros anteriores. Ao abordar preconceito racial e a política escravagista da época, Kirby cria situações desconfortáveis que enriquecem a experiência do leitor.
Ao final, somos apresentados a uma espécie de terceira organização que ainda pode crescer e agregar muito dentro do universo da franquia. Vemos a força do autor no desenvolvimento de uma crítica social que aprofunda ainda mais os personagens centrais e faz o leitor querer acompanhar o desenrolar dessa história em sua continuação. O mais importante aqui não é a viagem histórica, e sim os acontecimentos do presente. Tudo que acontece dentro do Animus está sendo observado e vivido não só pelo leitor, mas pelos personagens, que expressam seus pensamentos e suas surpresas com cada acontecimento. Além de ser uma bela porta de entrada para o universo, The Last Descendant é um livro para o fã de Assassin’s Creed sentir que um passo foi dado dentro da franquia da Ubisoft.
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