G.T. Karber e detalhe da capa de Murdle: A Escola de Mistérios (Reprodução/Instagram)

Créditos da imagem: G.T. Karber e detalhe da capa de Murdle: A Escola de Mistérios (Reprodução/Instagram)

HQ/Livros

Entrevista

Antes de virar série, Murdle aterrissa na Bienal: “Logicus vem ao Brasil”

Omelete falou com G.T. Karber, autor do fenômeno editorial de quebra-cabeças de mistério

Omelete
8 min de leitura
14.06.2025, às 06H30.

Murdle começou em um guardanapo de papel. Conforme conta o autor G.T. Karber ao Omelete, dias antes de pousar no Rio de Janeiro (RJ) para a Bienal do Livro 2025, o fenômeno editorial interativo - que compila mistérios de assassinato que os leitores podem resolver à lápis na própria página dos livros - teve sua gênese como uma brincadeira entre ele e um amigo, num momento de tédio. “Eu estava procrastinando algum dia, desenhei a grade em um guardanapo e mandei a foto para ele. Ele adorou”, relata Karber.

Daí veio o site de Murdle, onde internautas ainda podem resolver um mistério diário (pense em Wordle, mas com assassinatos!), e os três volumes físicos da série, que compilam 100 casos em cada um - todos investigados pelo Dedutivo Logicus, protagonista da trama, e com personagens recorrentes como o Inspetor Irratino (um rival de Logicus, que vive o enganado) e a Dama Obsidiana (uma autora de mistério com segredos sombrios). O novo Murdle: A Escola de Mistérios é uma prequel, na qual os fãs podem resolver 50 novos casos com Logicus durante os seus tempos de faculdade.

A Intrinseca, responsável por lançar Murdle no Brasil, traz Karber para a Bienal do Livro no próximo dia 21 de junho, sábado, quando o autor promete comandar a investigação de um mistério ao vivo no Palco Apoteose Shell, às 19h. Confira a seguir a entrevista completa!

OMELETE: Olá, G.T., sou o Caio! Muito prazer conhecê-lo, e um quase boas-vindas ao Brasil!

KARBER: Oi, Caio! Sim, estou muito animado para ir para o Brasil.

OMELETE: Antes de qualquer coisa, queria saber: como está sua expectativa para esta visita à Bienal? Você já teve muito contato com os fãs brasileiros?

KARBER: Sabe, eu tenho recebido comentários e mensagens dos brasileiros há muito tempo, e desde o anúncio da minha ida à Bienal algumas pessoas já entraram em contato comigo para dizer o quanto são fãs de Murdle, o quanto gostam dos livros - e dizer que estão animadas para me ver no Brasil. As pessoas parecem felizes, e eu certamente estou muito feliz de ir. Eu nunca estive no Brasil antes, então será a minha primeira vez… o que é muito empolgante.

OMELETE: O que eu ia dizer a seguir é que o Dedutivo Logicus nunca veio ao Brasil para um caso, se não estou enganado…

KARBER: Não acredito que ele tenha vindo, mas com certeza virá em breve. Acho que nada passa pela minha vida sem, de alguma forma, encontrar seu caminho para um livro do Murdle. Então acho que, com certeza, depois desta Bienal ele aparecerá por aqui. Talvez Logicus possa participar de um festival literário, quem sabe…

OMELETE: Ótima oportunidade para ele encontrar a Dame Obsidian por aqui…

KARBER: Sim, perfeito!

OMELETE: Certo, eu quero dizer que também sou um grande fã da série - Murdle é muito viciante. Como você teve essa ideia pela primeira vez? Você sempre foi fascinado por quebra-cabeças e deduções lógicas?

KARBER: Sabe, isso é interessante. Eu adorava pequenos quebra-cabeças de mistério quando era criança - não que fossem grades lógicas como as de Murdle, elas existiam em diferentes formatos. Quando eu estava trabalhando no primeiro volume de Murdle, encontrei caixas que minha mãe guardou da minha infância, e nelas tinham toneladas de diferentes livros de quebra-cabeças de mistério, todo tipo de coisa interativa. Honestamente, eu tinha esquecido da maior parte deles.

Mas o primeiro quebra-cabeças de mistério que eu fiz foi para um amigo meu. Eu estava procrastinando algum dia, desenhei a grade em um guardanapo e mandei a foto para ele. Ele adorou, e daquilo nasceu o Murdle. Eu tenho feito turnê pelo mundo e conversado com crianças e jovens que querem ser escritores - uma coisa que tenho tentado dizer sempre é o seguinte: não tente escrever para o mundo todo, mas sim para um amigo próximo. 

Eu sabia que meu amigo amava quebra-cabeças e mistérios, e então fiz uma pequena peça perfeita de entretenimento para ele, um belo presente. Acho que, se eu tivesse tentado criar algo que tivesse estrutura para uma série de livros, algo que achasse que todos pudessem gostar, não teria dado tão certo. Quando você pensa assim, suas ideias imediatamente se tornam abstratas, e você não consegue pensar com clareza - é como se a voz de todo mundo entrasse na sua cabeça. Deixe uma voz só entrar.

OMELETE: Bom, todos os livros de Murdle, além dos quebra-cabeças, também servem para aprofundar a mitologia daquele mundo - mas isso é particularmente verdadeiro sobre A Escola de Mistérios, que volta ao passado de Logicus. Quando você está escrevendo esses livros, sempre procura mudar um pouco o formato? O que te empolga ao começar um novo Murdle?

KARBER: Essa é uma ótima pergunta. Eu sempre tento mudar um pouco as coisas, oferecer algo novo - parte disso é porque estou tentando entreter os leitores, mas outra parte é que estou tentando manter o meu próprio interesse naquele projeto. Nos três primeiros livros de Murdle, há 100 mistérios em cada um. Eu sinto que já explorei todos os cenários, todas as armas de assassinato, todo objeto que poderia ser uma arma. [Risos] Por causa disso, estou sempre tentando encontrar novas maneiras de tornar a criação empolgante - e isso significa novos tipos de quebra-cabeças, novos desafios. 

Vou te contar um segredo: muitas vezes, acho que o maior desafio é criar algo que seja fácil e intuitivo para as pessoas fazerem. É mais difícil fazer um quebra-cabeça fácil, do que um quebra-cabeças muito difícil. Qualquer um pode fazer um quebra-cabeça incrivelmente difícil, um mistério impossível de resolver. Você pode dizer: ‘Em que número estou pensando?’. Ninguém vai adivinhar. A arte está realmente em descobrir novas maneiras de fazer algo que qualquer um possa aprender, que qualquer um possa gostar. 

Em A Escola de Mistérios, por exemplo, há itens interativos, você vai precisar desenhar em alguns deles para resolver o mistério. Ou então temos um vitral para você colorir, um desenho das estrelas no céu noturno, em que você tem que conectá-las para mostrar diferentes formas, conseguir pistas. Temos labirintos com o qual você pode interagir de formas diferentes. Eu estou sempre tentando transformar o livro em um objeto interessante - uma das melhores coisas sobre Murdle é que não há e-book, não há audiolivro. O objeto de papel é imprescindível no formato.

Ao fazer A Escola de Mistérios, pensei muito sobre a vibe acadêmica de estar andando por um campus, ao redor dos prédios antigos, segurando seus livros e andando na direção da sua aula. Eu pensei nesse livro como uma jornada particular, queria que as pessoas sentissem que estavam frequentando a Faculdade de Dedução junto com Logicus, ao invés de só ler sobre o tempo que ele passou lá. À medida que você resolve os quebra-cabeças no livro, quero que você sinta que se formou.

OMELETE: Isso é muito legal. Aproveitando que você está falando sobre querer que o leitor faça parte da história, eu me pergunto: conforme o universo de Murdle se expande, você acha que um dia escreverá um romance mais convencional sobre o Logicus, ou este é o formato em que ele funciona melhor?

KARBER: É claro, sempre pensamos em escrever romances de Murdle. Eu quero lançar um dos livros de mistério da Dame Obsidian, como se fosse um livro dentro do livro - mas não sei se o Logicus estaria em um projeto assim. Acho que poderíamos ter outros personagens, outros mistérios, talvez com uma pequena participação dele, o detetive visitante. Quando se trata desse personagem, acho que é preciso você estar ali resolvendo o caso junto com ele, juntando as peças. Acho difícil imaginá-lo em um mundo onde você está apenas passando por capítulos normais, parece estranho para mim.

OMELETE: Bem, sabemos também que Murdle está sendo adaptado para a TV - o que parece ser um processo interessante. O quanto você está envolvido na série? E o que pode nos contar até agora?

KARBER: Tem sido ótimo, de verdade. Eu estava conversando com alguém outro dia e disse que é maravilhoso sentir que as pessoas envolvidas no projeto são as melhores possíveis para ele. São pessoas que estão trabalhando na crista da onda - meu filme favorito no ano passado foi Duna: Parte 2, e agora a Legendary está produzindo a série de Murdle. Também temos produtores de Black Mirror, gente muito talentosa envolvida nisso.

O nosso roteirista é Jon Croker, que foi um dos caras que escreveru Paddington. Sinto que as melhores pessoas do mundo, eu não poderia pedir por colaboradores melhores. Eu tenho estado muito envolvido na conceituação da série, na venda para os canais e serviços de streaming - eu estou lá, apresentando Jon às pessoas, conversando sobre os mistérios, me certificando que a série vai sair com a cara de Murdle. Tem sido um processo dos sonhos, e espero que consigamos fazer uma série tão boa quanto poderia ser.

OMELETE: Bem, eu tenho uma última pergunta: quando vemos essas franquias de mistério em que um mesmo detetive se depara com muitos crimes ou assassinatos, eventualmente os fãs começam a teorizar que o próprio detetive está matando as pessoas - como em Assassinato Por Escrito, por exemplo. Você já pensou nisso sobre o Logicus? Como justifica ele estar perto de tantas mortes?

KARBER: [Risos] Sim, sabe, eu realmente penso nisso… outro dia me dei conta de que ele já resolveu 350 assassinatos nos livros, contando os três volumes originais e A Escola de Mistérios. Isso certamente o coloca entre os detetives mais prolíficos do mundo! Não sei exatamente quantas histórias de Hercule Poirot a Agatha Christie escreveu, mas não imagino que tenha sido tantas assim.

Quando alguém já ‘esbarrou’ em 350 assassinatos, você se pergunta: mesmo que ele não seja o assassinto, o que isso está fazendo com o psicológico desse cara? Felizmente, acho que Logicus é uma pessoa muito prática, então não deve pesar muito sobre ele. Quando ele pega o assassino, a coisa acaba para ele: ‘Nós o pegamos, então crise evitada’. Não acho que está no DNA do Logicus matar alguém, mas talvez o Inspetor Iratino? Ele parece um cara meio imprevisível, por assim dizer - mas nunca se sabe! É uma teoria interessante, e talvez eu tenha que pensar nela mais seriamente para os próximos livros.

OMELETE: Certo. Muito obrigado, G.T., e tenha uma ótima Bienal!

KARBER: Mal posso esperar! Muito obrigado.

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