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Entrevista

Me Chame Pelo Seu Nome | "O eixo romântico aqui é a inibição", diz autor do livro que inspirou filme

André Aciman fala sobre obra que gerou a love story indicada a quatro Oscars

07.02.2018, às 13H42.
Atualizada em 09.02.2018, ÀS 14H02

Impulsionado pela indicação ao Oscar de melhor filme, Me Chame Pelo Seu Nome já soma 117 mil pagantes em solo brasileiro, onde o romance que inspirou esta love story produzida pelo carioca Rodrigo Teixeira acaba de chegar às livrarias, pela editora Intrínseca.

Sony Classics/Divulgação

Americano nascido em Alexandria, no Egito, o escritor André Aciman assina o livro, transformado em longa-metragem pelo cineasta italiano Luca Guadagnino (Sonho de Amor). A bilheteria dessa adaptação literária, pelo mundo afora, beira US$ 22 milhões. A primeira exibição dele se deu no Festival de Sundance de 2017, seguido de projeção na Berlinale, onde lotou salas de exibição. Seu roteiro, adaptado pelo diretor James Ivory, também está no páreo das estatuetas da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood. Sua narrativa é ambientada na Itália dos anos 1980 e, nela, a paixão move o músico Elio (Timothée Chalamet) e o estudante Oliver (Armie Hammer).

Coroado com 41 prêmios internacionais de janeiro de 2017 até agora, incluindo quatro indicações ao Bafta, o Oscar inglês, o filme revive o clima quente de Cremona em 1983, quando Elio põe suas convicções sexuais e afetivas em xeque, ao se encantar por Oliver, um orientando de seu pai (Michael Stuhlbarg).

Na entrevista a seguir, Aciman fala de sua surpresa em ver seus personagens no páreo do Oscar 2018, que será entregue em 4 de março.

Omelete: Para além da força lírica de sua trama, o que justifica o apelo popular de Me Chame Pelo Seu Nome e o que pode levá-lo a seduzir os votantes da Academia?
André Aciman: As indicações ao Oscar foram totalmente inesperadas. Aliás, nunca esperei que meu romance fosse virar filme. Seu sucesso se deve a uma série de razões: a) ele é lindamente fotografado, capturando a beleza da Itália rural, a luz do verão, as sensações da juventude; b) ao mesmo tempo em que ele faz todo mundo no cinema sentir deseja, querendo tocar ou ser tocado, ele captura os tormentos do primeiro amor, realçando o quanto o querer é caótico e misterioso; c) pouca gente se dá o direito de falar sobre seu primeiro amor, seja por timidez ou por medo; d) o desabafo do pai: não há gay que não tenha desejado, algum dia, ouvir de seu pai palavras de aceitação como as que ouvimos no filme.

Quais foram as suas referência literárias em relação à juventude na criação de sua prosa?
Romancistas britânicos, russos e franceses estabeleceram uma tradição de olhar sobre a juventude de maneira incisiva e lírica. Flaubert alcançou isso em novembro; Turgenev fez isso em Primeiro Amor; e D. H. Lawrence chegou a essa dimensão em Filhos e Amantes. Todos estes livros trouxeram uma acurada visão da juventude porque os três aliavam ensejos de nostalgia a um desabafo de revelação. Ser jovem é estar do lado da fantasia. Um observador mais arguto da natureza humana perceberá isso e há de perdoar os erros cometidos em nome dessa aposta juvenile no que há de fantástico. A juventude pode expressar uma paixão de maneira direta porque ela não tem a medida das palavras. O amor de juventude dribla qualquer outro amor.

Que lugar sobrou para as histórias de amor na litetarura contemporânea?
O amor sempre vai estar no topo do ranking dos assuntos mais procurados na Arte. Mas, o amor, para ser interessante, deve encarar dificuldades, transpor fronteiras ou encarar interdições, como vemos em Romeu & Julieta, por exemplo. O eixo romântico de Me Chame Pelo Seu Nome é a quebra da inibição. Em outras palavras, minha história mostra que a proibição está na gente e não nos outros. Elio reluta a dizer o que sente por travas internas: vergonha, medo e negação o silenciam. Mas ele dribla a inibição. O amor sempre dá um jeito de nos pegar pelo pé.

Como você analisa as formas recentes de representação da homoafetividade na literatura anglo-americana?
Não estou muito familiarizado com retratos literários mais recentes do amor gay. Eu leio muito James Baldwin e E.M. Forster e, anos atrás, li Mary Renault e Marguerite Yourcenar. Mas, a maioria dos relatos sobre a homoafetividade fala sobre incidentes trágicos, preconceito, violência, hostilidade de parentes e o pavor trazido pela Aids. O que eu tentei fazer em Me Chame Pelo Seu Nome foi evitar que qualquer um desses tópicos pontuassem a história de amor de Olvier e Elio. O único intruso permitido seria a distância. A passagem do tempo os afasta.

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