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Mark Waid denuncia problemas editorias na Marvel e na DC

Escritor repassa momentos conturbados de sua carreira

30.04.2009, às 00H00.
Atualizada em 20.11.2016, ÀS 02H04

O escritor Mark Waid nunca foi de esconder seus rancores com editores e editoras, reclamando publicamente de Marvel, DC, Crossgen e de vários outras empresas para as quais trabalhou. Aclamado por trabalhos como O Reino do Amanhã e passagens em Flash, Capitão América e Quarteto Fantástico, ele tem cacife entre os leitores.

Em uma entrevista ao site AICN, revisando toda sua carreira, ele resolveu soltar o verbo.

Marvel Comics

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A começar pela Marvel e sua passagem pelo Capitão América. Ele e o desenhista Ron Garney triplicaram as vendas da série ao assumi-la em 1995 e ganharam vários elogios da crítica. Menos de um ano depois, a série foi entregue a Rob Liefeld como parte do projeto Heróis Renascem. Mesmo ressentido com a Marvel, Waid diz na entrevista que não tinha problemas com Liefeld: "Eu sabia que não era pessoal. Ele até me convidou para escrever os diálogos da série dele, mas aí me mandou algumas páginas pelo fax e percebi que caminho ele ia tomar. Então recusei. Educadamente, juro".

Após a experiência falha com Heróis Renascem, Waid e Garney voltaram ao Capitão. A segunda fase, porém, não foi tão bem sucedida como a primeira - e Waid culpa a pesada interferência editorial da Marvel sobre a série.

Em 2001, o escritor assumiu o cargo de escritor-chefe na Crossgen Comics, editora que, diferente das demais nos EUA, exigia que seus colaboradores trabalhassem no mesmo escritório e em regime de exclusividade. Apesar de ótimos salários, vários criadores já criticaram a experiência com o editor e dono da Crossgen, Mark Alessi - "uma criança mimada de oito anos com um talão de cheques", na descrição de Waid.

"Ele fazia, sem brincadeira, homens adultos ficarem num canto da sala quando não gostava de alguma atitude. Tenho certeza que alguns deles ainda acordam no meio da noite suados e gritando 'sim, senhor, sim, senhor!'. Sua visão editorial era, literalmente, gritar até ficar vermelho para dizer que a página precisava de mais detalhes e que ele queria ver cada folhinha da grama, diabos!". A editora fechou as portas em 2004, pouco depois de Waid deixá-la.

O escritor ainda lembra outro caso com a Marvel: na série Quarteto Fantástico, que produzia com o desenhista Mike Wieringo. Aqui ele ataca diretamente Bill Jemas, que coordenava a editora ao lado de Joe Quesada no início desta década.

"Bill vinha do nada com ordens para [o editor da série] Tom Brevoort, dizendo que não gostava das nossas histórias, e ditou a Tom um novo conceito para o Quarteto - que se resumia a tirar o 'Fantástico' da série. Primeiro, disse Bill, a família toda se mudaria para os subúrbios. Imediatamente. Sem explicações. Reed seria um inventor maluco que só criava coisas legais (como um 'aquário sem água', seja lá o que isso for) que não teriam aplicação comercial, o que significa que a família viveria mal de grana. Ben iria para a construção civil. Johnny, para os bombeiros. E - prepare-se, esta é a melhor - Sue seria uma secretária insatisfeita que ficaria invisível quando seu chefe a estivesse procurando. Não, não uma super-espiã; isso faria sentido demais. Uma secretária. Ah, e o super-vilão-arqui-inimigo seria o vizinho enxerido que acharia algo de estranho nessa gente", disse.

Waid diz que até tentou adaptar a idéia de Jemas, mas em pouco tempo acabou sendo demitido da série. "Mike Wieringo foi questionado se continuaria sem mim, mas em um gesto pelo qual agradeci até sua morte, ele disse a Jemas para ir pastar", diz Waid.

A demissão, porém, não durou muito. Quando chegou à Internet, a notícia despertou a ira dos fãs. "Todo grande site de notícias sobre quadrinhos caiu. CAIU. Quer dizer, não conseguiu suportar o tráfego dos leitores irados". Com tanta pressão, Waid e Wieringo foram recontratados e, em poucos meses, Jemas foi demitido. A abordagem deste para o Quarteto, que já havia entrado em produção, acabou virando uma série paralela que durou pouco.

Após concluir sua passagem pelo Quarteto, Waid foi convidado pela DC para revitalizar a Legião do Super-Heróis. Sua abordagem foi de reiniciar toda história dos personagens, cuja cronologia é considera complicadíssima para o leitor médio. Além disso, não era possível voltar à formação clássica, da Era de Prata, porque a DC estava envolvido em uma briga judicial com a família de Jerry Siegel por conta de Superboy - parte importante da Legião original.

"Enquanto [eu e o desenhista Barry Kitson] ficamos quebrando a cabeça para reconstruir a franquia, um outro lado editorial da DC estava dando a Brad Meltzer passe-livre para apagar todo nosso trabalho duro em uma história da Liga da Justiça, a qual poderia estrelar a Legião dos anos 1980, como se a nossa nem existisse. Não culpo Brad por nada, mas, cara, que gerência ruim - principalmente porque mantiveram em segredo de nós até estar quase impressa (...) Barry e eu fomos tratados com total má fé, o que eu consegui suportar, mas o problema não foi esse; fizeram a DC parecer mal coordenada e burra, e ainda amo a DC o bastante para odiar quando isso acontece", disse.

O problema seguinte com a DC é o mais relevante da entrevista, pois envolve Dan DiDio, editor-chefe atualmente responsável pela condução do universo de heróis da editora. Waid desanca a administração do editor: "Ele, que havia proposto a idéia de 52, odiava o que estávamos fazendo. O-D-I-A-V-A 52. Ele andava pelos corredores gritando que odiava 52. E Steve Wacker [primeiro editor da série], Deus o abençoe, nos deixava longe disso. [Michael] Siglain [segundo editor da série], com menos tempo de casa, não tinha tanta habilidade para isso, e há uma edição de 52 perto do final que foi escrita quase totalmente por Dan e Keith Giffen porque nenhum dos escritores conseguia alcançar o que Dan queria. O que é prerrogativa dele, sendo editor-chefe, mas, putz, é como você levar a bola até a frente do gol e aí ser mandado para o banco pelo cara que depois ficaria dizendo que Contagem Regressiva era '52 do jeito certo'".

A declaração se soma às críticas levantadas por vários criadores (e fãs) quanto a DiDio.

Mark Waid atualmente trabalha como editor-chefe da editora Boom! Studios, para a qual também escreve várias séries, como Os Incríveis. Na Marvel, ele é um dos autores responsáveis pela série do Homem-Aranha.

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