Mark Millar diz que a indústria de quadrinhos ainda vai crescer mais - antes de entrar em um novo período negro
Mark Millar diz que a indústria de quadrinhos ainda vai crescer mais - antes de entrar em um novo período negro
![]() Crise Infinita |
![]() Guerra Civil |
O escritor escocês Mark Millar (Wolverine,
Civil War) vem há anos defendendo sua teoria de que a indústria de quadrinhos
norte-americana tem suas altas e baixas regidas por uma economia de ciclos.
Estes ciclos seriam de 20 anos: os quadrinhos tiveram um boom econômico nos
anos 40, decaíram nos 50, ressuscitaram nos 60, voltaram a cair nos 70, tiveram
um ótimo período nos 80, levaram um terrível baque nos 90 e, hoje, atravessam
uma nova fase de encher bolsos.
Vinte anos depois de Crise nas Infinitas Terras e Guerras
Secretas temos Crise Infinita e Guerra Civil no topo das
listas, compara o escritor.
Como mais grana rolando faz mais gente fazer quadrinhos, o subproduto da grande
quantidade de publicações geralmente é um ganho (mesmo que pequeno) em qualidade.
Os anos 60 geraram a Marvel de Stan Lee e Jack Kirby,
os 80 nos deram Watchmen, Cavaleiro das Trevas e
outras obras inesquecíveis. Os anos 00 podem ainda não ter suas grandes obras,
mas há sérias candidatas.
Millar defende que os altos e baixos intensificam-se a cada ciclo - enquanto
os anos 60 encheram os bolsos de algumas editoras, os anos 80 tornaram alguns
criadores milionários: os artistas que fundaram a Image Comics. Com isso, Millar
pensa bem, bem alto: Será que o próximo Harry Potter virá de um
criador de quadrinhos? Será que teremos o primeiro bilionário dos quadrinhos
dentro de poucos anos?
Como os gibis gerariam um bilionário? Foi para falar disso que ele lançou, esta
semana, uma espécie de manifesto no site Newsarama, em que defende
que estamos num ótimo período econômico das HQs, que deve ficar ainda melhor
até o fim da década, antes de levar um novo baque nos anos 2010. E como essa
queda vai chegar? Por culpa de quem mais tem injetado dinheiro na indústria
de gibis: Hollywood.
Em busca de novas idéias para a telona, a indústria cinematográfica caça-as
nas páginas coloridas, resultando em recordes de bilheteria como Homem-Aranha
2. Isto já é um movimento de quase uma década. O que Hollywood vem fazendo
nos últimos anos? Cortar o intermediário: pegar diretamente o argumentista de
quadrinhos para criar diretamente para a telona, e o artista para trabalhar
em direção e concepção visual. Um pessoal que é facilmente atraído por salários
de sonho, que superam em dez vezes ou mais o que ganham nos gibis.
Millar disse que esse é o movimento que causará o próximo período de vacas magras
- que, pelas suas previsões, deve atingir o ponto mais desesperador em 2013.
Com escritores e artistas migrando para Hollywood, não haverá talento para sustentar
os quadrinhos nos EUA.
A ficha caiu há alguns dias, quando requisitei um artista e descobri que
ele não está pegando trabalhos pelos próximos dezoitos meses porque acabou de
conseguir uma vaga num grande filme de ficção científica. (...) Da
mesma forma, todo escritor que eu conheço tem um contrato para filmes no momento.
Não consigo pensar em um profissional atuante nas duas grandes editoras que
não esteja envolvido de alguma forma com Hollywood, justificou Millar.
Não é inconcebível imaginar que seus empregos de meio-turno em filmes tornem-se
de turno integral nos próximos poucos anos.
Millar segue dando exemplos de amigos do ramo que estão trocando Marvel e DC
por Warner ou Dreamworks, muitas vezes sem citar nomes. Os citados, porém, são
de peso: Frank Miller não só co-dirigiu Sin City como será diretor
solo da adaptação de Spirit; o excelente John Cassaday (Astonishing
X-Men) anunciou seu primeiro trabalho como diretor há alguns meses; Brian
K. Vaughan (Y: O Último Homem, Fugitivos) está ativamente
envolvido com roteiros cinematográficos.
Estamos espertos quanto a picos e depressões agora e sempre pensei, como
Alan Greenspan e o chanceller britânico Gordon Brown tambem pensavam nos últimos
anos, que a administração cuidadosa da economia poderia tornar o crescimento
estável uma realidade e evitar o retorno a picos e depressões. Mas será que
consegue? Ciclos econômicos são coisas vivas, e a história nos mostrou que eles
são tão incontroláveis quanto as marés, assevera o escritor escocês.
Há quem diga que Millar está novamente lançando uma idéia para aparecer, ou
por deslumbre. Ele já aprontou antes: anunciou que Eminem seria o ator
principal do filme baseado em sua série Wanted e apostou que Jim Caviezel,
o Jesus de A Paixão de Cristo, seria o próximo Super-Homem das
telonas. Suas fontes, pelo jeito, não são nada confiáveis. Alguns comentaristas
dizem que seu manifesto é resultado de conclusões apressadas após ele receber
alguma proposta milionária de Hollywood.
Já o escritor de quadrinhos e roteirista cinematográfico Cristos N. Gage
comentou no fórum do site Millarworld que não vê criadores de HQs bandeando-se
tão facilmente para o cinema, pois Hollywood dá pouquíssima liberdade criativa.
E há uma razão para muita gente, especialmente escritores, estarem indo
de Hollywood para os quadrinhos... É muito melhor, mais sadio, as pessoas são
mais legais, e você pode contar sua história sem uma dúzia de pessoas mijando
nela, comentou Gage.
Millar mantém sua tese, mesmo com as críticas. Se ele está certo ou não, vamos
saber em 2013.

