Mangá: <i>Onegai Teacher - Uma professora do outro mundo</i>
Mangá: <i>Onegai Teacher - Uma professora do outro mundo</i>
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Um dos mangás mais interessantes lançados por aqui neste ano é Onegai Teacher, ou Por favor, professora. Trata-se de uma boa história sobre relacionamentos apresentada em apenas dois volumes.
Na trama, Mizuho Kazami é uma bela professora de colegial e Kei Kusanagi, um estudante solitário com um triste e misterioso passado. Por uma série de acontecimentos inusitados, eles se apaixonam e se casam, não exatamente nesta ordem. Ele é atrapalhado, inseguro, tem um coração de ouro e está sempre preocupado com seus amigos. Kei também é mais velho que a maioria de seus colegas de classe, apesar de aparentar 15 anos. Portador de uma doença rara que o deixa em estado vegetativo sob certas circunstâncias, ele perdeu três anos de sua vida desacordado. Mizuho é mais velha, mais alta e mais experiente do que o garoto, que também é alvo da paixão de uma colega de classe. E a professora, sem que ninguém desconfie, veio de outro planeta em missão secreta na Terra e seu envolvimento com um terráqueo irá lhe causar muitas dores de cabeça.
Vivendo juntos, eles descobrem o carinho, o ciúme e as concessões necessárias para que um relacionamento amadureça e se fortaleça, indo além da paixão do momento. Para ambos, viver algo assim é um desafio que ora parece assustador, ora uma bênção. A química entre Kei e Mizuho rende bons momentos na série, com muitas situações que os levam a questionar seus sentimentos.
Em Onegai Teacher não há, como em muitos mangás, a busca do riso fácil com situações picantes forçadas, adolescentes histéricos e cheios de caretas ou calcinhas à mostra com qualquer rajada de vento. O foco está nos relacionamentos de amizade e amor, mostrando sentimentos maduros, contidos e sofridos nas histórias de seus protagonistas. Há alívios cômicos, como Minoru, o médico que vive apanhando da esposa por ser meio tarado, além de Marie, a pequena mascote alienígena e ajudante de Mizuho. Mas tudo isso fica de lado perante os momentos tocantes, que são muitos e não caem no melodrama, outro elemento sempre presente em histórias japonesas.
Algumas soluções na trama soam meio forçadas, como apagar a memória de muitos personagens de uma só vez, fato que acontece a certo ponto da história, ou o próprio casamento dos protagonistas. Os elementos de ficção e fantasia também poderiam ter sido deixados de lado sem prejuízo algum para o enredo. O foco no cotidiano, nas relações e nas escolhas difíceis feitas por pessoas tão jovens deixa real a atmosfera da história, mesmo com os elementos fantásticos.
A arte é estilizada, caindo mais para o estilo shojo (voltado para meninas adolescentes), com uma narrativa interessante e personagens bem humanos. O traço limpo e o uso de retículas e grafismos sem exageros fazem de Onegai Teacher um daqueles trabalhos que só podem ser bem apreciados em preto-e-branco.
O título, mantido no original, é mais uma amostra da cada vez maior segmentação do mercado de mangás no Brasil, onde os fãs se organizam e são ouvidos. Se por um lado isso preserva cada vez mais o trabalho original, por outro pode estar afastando novos leitores, a maioria por desinformação. Mas para quem não tiver preconceitos com o sistema de leitura (da direita para a esquerda) e não estranhar o formato, será brindado com uma história repleta de sentimento. E, vale ressaltar, todo esse sentimentalismo não cai no piegas, pois temas delicados como doença, morte, arrependimento e altruísmo são abordados com uma sutileza pouco vista em quadrinhos, seja de qual gênero for.
Onegai Teacher foi criada originalmente como uma animação para o canal pago Wowow pelo estúdio Please! e foi lançada quase junto com o mangá, em 2002. Na TV, foram 12 episódios, mais um especial de vídeo. No animê, todos os roteiros foram de Yousuke Kuroda, com direção de Yasunori Ide. Já a versão em mangá tem algumas liberdades criativas tomadas pela quadrinhista Shizuru Hayashiya, que iniciou carreira na área de design de games e tem um traço seguro e cheio de sutilezas. A série em mangá foi publicada pela editora Media Works Inc. na revista Gekkan (mensal) Comic Dengeki Dai-Oh (Grande Rei Relâmpago), voltada ao público jovem masculino. Depois, foi compilada em dois volumes, o primeiro com 190 e o segundo com 170 páginas, exatamente como a versão brasileira, que teve tradução de Karen Kazumi Hayashida e edição final de Marcelo Del Greco.
Em 2003, saiu no Japão a série Onegai Twins (em mangá e animê), que é ambientada no mesmo universo. Os protagonistas são novos, mas a presença de Kei, Mizuho e outros como coadjuvantes garante o ar de continuação. Ainda bem, pois ao final do segundo e último volume de Onegai Teacher é impossível não querer ler mais sobre aqueles personagens.


