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<i>Roko-Loco e Adrina-Lina</i>

<i>Roko-Loco e Adrina-Lina</i>

GA
14.07.2003, às 00H00.
Atualizada em 26.01.2017, ÀS 21H02

O Rock e as Histórias em Quadrinhos sempre andaram juntos, inclusive como alvo no quesito referente ao preconceito como formas de valor artístico. Mais ainda, o Heavy Metal, um subgênero que habitava, como semente, as raízes da música negra norte-americana religiosa, principiando a germinar na época dos Beatles, tomando rumo a partir de grupos como Cream, Sweet, Led Zeppelin e aflorando com o inusitado Black Sabbath.

Atualmente, após se tornar gênero e suscitar subgêneros, o Heavy coloca-se não mais como um modismo, mas como um expoente sonoro híbrido cultural, que sempre aglutinou elementos da música chamada clássica, atualizando-se agora com cantos gregorianos, vocais femininos, incursões folk e ambientais, além de muitas outras vertentes antigas e arranjos irreverentes. Já os quadrinhos, que começaram como uma expressão tímida nas cavernas, resvalaram para mecanismos comunicacionais nas cavernas das catedrais, alimentando o imaginário e a memória do povo iletrado da Idade Média, culminando nos cartuns, charges e histórias em quadrinhos impulsionados pelo mundo todo graças ao desenvolvimento técnico das prensas e rotativas. Essas mesmas seqüências evoluíram de formas simples e cômicas para narrativas de temáticas sofisticadas, com vários gêneros e subgêneros literários.

Algo misterioso tem ligado a música, principalmente o Rock, e, mais ainda, o Heavy Metal, à história em quadrinhos, algo que muitas vezes traz um mesmo profissional transitando entre a criação sonora e a imagética: muitos autores de quadrinhos, como Phillipe Druillet e Guido Crepax, também se confessaram motivados, em seus atos de elaboração gráfica, por ouvirem músicas; outros, como Simon Bisley, Edgar Franco, Luis Gustavo, Crumb e até mesmo Alan Moore são (ou foram) músicos, dividindo-se, muitas vezes, entre as duas profissões.

Muitas histórias em quadrinhos nasceram sob a influência do universo musical, ou mesmo da junção de ambas, como o álbum A última tentação, de Neil Gaiman, que traz como personagem (e universo) ficcional a figura do rockeiro Alice Cooper. Até Wolverine já foi tema de uma banda de rock!

Esta afinidade entre as ondas sonoras organizadas por instrumentos musicais e as ondas de freqüência visuais impressas na forma de arte seqüencial é maior do que aparenta.

É o que acontece em Roko-Loco e Adrina-Lina: em meio a citações à lenda do Rei Arthur e à saga da espada mágica; à Revolução dos bichos, de George Orwell; homenagens a roqueiros nacionais e internacionais, bem como a ícones da cultura underground, o fã de rock e cartunista Marcio Baraldi recheia as páginas de seu álbum com quadrinhos e tiras de humor que foram publicadas, desde 1996, na pioneira e mais famosa revista especializada nacional, a Rock brigade (que começou como um fanzine).

O colorido das imagens destoa do esteréotipo de que o rock (e o Heavy Metal) é do mal, ou seja, algo negativo e negro. Marcio sabe como colorir o assunto. No entanto, por enfatizar muitas vezes os termos do metiér do rock e heavy, o enfoque do álbum exige do leitor um pouco de familiaridade com este universo musical, pois, do contrário o seu entendimento fica um pouco prejudicado.

Ainda assim, há dois motivos para se ressaltar a importância dessa empreitada: 1) Sendo uma obra de humor simples e dirigida a um público específico, pode ter passado despercebida a autores, leitores e pesquisadores da nona arte; 2) Aproxima e torna mais perceptiva a relação entre dois objetos culturais artísticos que têm sido mal estudados e incompreendidos pela crítica brasileira: a música, no quesito Rock (e seu já pavimentado gênero Heavy Metal), e as histórias em quadrinhos.

Parabéns ao autor Baraldi e à iniciativa editorial da Opera Graphica e Rock brigade!

Álbum no formato 21 x 28 cm, 52 páginas, colorido, R$ 10,00.

Lançamento da Opera Graphica Editora.

Gazy Andraus é pesquisador do Núcleo de Pesquisa de História em Quadrinhos da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP), Mestre em Artes Visuais pelo Instituto de Artes da UNESP, doutorando em Ciências da Comunicação da ECA-USP, bolsista do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e autor de histórias em quadrinhos autorais adultas, de temática fantástico-filosófica.

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