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HQ sobre mulheres de lazer causa polêmica em Taiwan

HQ sobre mulheres de lazer causa polêmica em Taiwan

JM
05.03.2001, às 00H00.
Atualizada em 21.09.2014, ÀS 12H41

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De acordo com a edição de 2 de março do New York Times, estão sendo estratosféricas as vendas da versão chinesa do mangá Em Taiwan. O interesse inusitado pela obra teve início em 26 de fevereiro quando membros do legislativo de Taiwan e uma multidão de manifestantes invadiram a maior livraria de Taipei e queimaram pilhas do gibi em plena calçada.

Os manifestantes se diziam ultrajados com a descrição que a HQ fazia de taiwanesas mantidas em bordéis militares japoneses durante a Segunda Guerra Mundial. Nós sabemos como os militares molestaram mulheres chinesas e taiwanesas, declarou Elmer Feng ao NYT, o deputado que liderou a queima dos mangás. Publicar esta revista trai a dignidade nacional de Taiwan. Não temos que odiar os japoneses, mas precisamos lembrá-los de que essas coisas jamais se repitam.

O Japão colonizou a ilha de 1895 a 1945, e cerca de 1.000 taiwanesas foram mantidas em bordéis militares. O mangá do quadrinhista Kobayashi Yoshinori reacendeu o debate sobre o legado colonial no país. Os críticos afirmam que o gibi oferece uma visão distorcida de quando o exército nipônico arrebanhou mulheres de lazer para os soldados. Em uma ilustração, o autor retrata moças perfiladas diante de um soldado japonês para se alistar. Longe de parecerem coagidas, estão ansiosas para serem escolhidas.

Para sustentar suas afirmações, Kobayashi havia entrevistado um industrial taiwanês, Hsu Wen-lung, do grupo Chi Mei. O empresário havia afirmado que mulher alguma fora forçada a servir as tropas japonesas. Segundo, Hsu as jovens trabalhavam em melhores condições higiênicas do que as prostitutas comuns, porque os soldados tinham ordens de usar preservativos.

Isso não passa de uma distorção ultrajante de uma história dolorosa, que cerca de 1.000 taiwanesas tiveram de sofrer ao custo de sua juventude e vidas, disse ao diário novaiorquino Lin Feng-hao, a presidente da Fundação de Resgate das Mulheres de Taipei, que representa as cerca de 100 mulheres de lazer ainda vivas.

Ao todo, o Japão recrutou cerca de 200.000 mulheres da China, Coréia, Filipinas e Taiwan para oferecer serviços sexuais a seus militares. Algumas foram capturadas e forçadas; outras, iludidas com ofertas de emprego como domésticas.

Os comentários de Hsu foram particularmente explosivos por ser ele conselheiro do presidente Chen Shui-bian. Na segunda-feira, 26 de fevereiro, o empresário declarou publicamente que se sentia arrependido com a controvérsia gerada por seus comentários e o mal causado às mulheres envolvidas.

Segundo o New York Times, seu arrependimento não comoveu os membros do legislativo e as organizações femininas, que pediram ao presidente Chen o rompimento de relação com Hsu. Nove ex-mulheres de lazer concederam uma entrevista coletiva. Na oportunidade, uma delas disse que a declaração do industrial não era suficiente para aplacar sua dor e indignação. Ele deve se desculpar pessoalmente, exigiu a mulher.

Como muitos taiwaneses de mais idade, Hsu Wen-lung foi educado pelos japoneses. É o mesmo caso do ex-presidente Lee Teng-hui que, segundo fontes, fala mais confortavelmente o japonês do que o mandarim. Ele e outros creditam ao Japão a construção de pontes, ferrovias, escolas e hospitais. O milagre da economia taiwanesa foi erguido sobre a infrastrutura deixada pelo Japão, disse Koo Kwang-ming, um antigo defensor da independência de Taiwan da China, que passou 25 anos em exílio no Japão.

Na análise do New York Times, como muitas das controvérsias no país, esta também trata do relacionamento de Taiwan com a China. Nos anos que se seguiram à tomada de poder pelos nacionalistas chineses, centenas de dissidentes, como Koo fugiram para o Japão.

Embora o governo nipônico jamais tenha oferecido seu apoio a uma Taiwan independente, políticos pro-chineses consideram aqueles que advogam a independência como títeres do Japão. Feng, o deputado que está liderando os protestos, é a favor da unificação com a China Continental.

O manga de Kobayashi poderia ter passado despercebido se não tivesse sido publicado no início de um ano eleitoral. Em dezembro, serão escolhidos os novos membros do legislativo. É a primeira eleição desde que Chen tirou os nacionalistas do poder ano passado. Seu partido advoga uma Taiwan independente.

Envolvendo nos debates as mulheres e seu aliado, Hsu, os adversários do presidente Chen tentam vinculá-lo a um período sombrio da história do país.

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