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Artigo

HQ: <i>Snoopy, eu te amo</i>

HQ: <i>Snoopy, eu te amo</i>

07.06.2004, às 00H00.
Atualizada em 06.11.2016, ÀS 19H02
Snoopy, eu te amo

Charles Schulz (Conrad)
5 ovos

Há muitos anos não se publicava no Brasil qualquer coletânea das tiras das personagens de Charles Schulz. Longe vai o tempo em que a editora Artenova disponibilizava mensalmente pequenos livros desse autor, que hoje apenas podem ser localizados em sebos, gibitecas ou coleções particulares. Aos leitores brasileiros, só restava a leitura em alguns jornais, como, por exemplo, O Diário do Grande ABC, onde suas criações continuam a ser republicadas, ou adquirir as coletâneas que costumam ser editadas regularmente em inglês, mas que chegam ao Brasil a um preço relativamente salgado para o normal dos leitores. Felizmente, essa lacuna é agora preenchida com o recente lançamento de Snoopy, eu te amo pela Editora Conrad, que apresenta uma seleção de 117 tiras e 27 páginas dominicais da série Peanuts.

Versando sobre um tema específico - o amor e todas as suas mazelas -, o livro abrange quadrinhos publicados entre 1952 e 1999. Dispostas em ordem cronológica sobre um fundo rosa repleto de corações, e intercalando os formatos de publicação - na maioria das vezes as tiras vêm dispostas horizontalmente, mas em algumas páginas elas vêm na forma de um quadrado, o álbum tem um design visual bastante agradável, apropriado ao tema tratado.

O título do livro é enganoso: embora Snoopy realmente seja o mais amado do grupo de personagens - como fica evidente pelas tiras em que ele enuncia os cartões que recebeu de suas inúmeras admiradoras... -, é Charlie Brown o protagonista absoluto de mais de metade dos quadrinhos. São dele as situações mais problemáticas: jamais recebe um cartão no dia dos namorados, morre de vontade de declarar seu amor a uma menina ruiva, mas não tem coragem de fazê-lo, e vive sempre martirizado em seu complexo de inferioridade por não conseguir arrumar uma namorada (na realidade, por um breve período, entre 1990 e 1991, chegou a ter uma namorada chamada Peggy Jean, que logo se mudou da vizinhança, para nunca mais aparecer...). Neste sentido, o pequeno menino de cabeça redonda representa um foco catártico para todas as limitações humanas, fazendo com que a identificação do leitor com ele seja muito mais imediata do que com Snoopy. Enquanto este é o vencedor que obtém todos os louros, àquele pertencem as indecisões, as incertezas, as decepções da vida. Enquanto o cachorro se deleita na difícil escolha entre as admiradoras, a seu dono resta buscar em vão um simples cartão esquecido na caixa de correio ou sonhar com um atraso por parte do carteiro, um extravio qualquer, um desencontro da correspondência, eternamente dividido entre o conformismo e a esperança. Acima de tudo um crédulo, ele jamais poderá aceitar que não é amado, pois para isso acredita ter nascido. Para amar e ser amado principalmente uma pequena menina ruiva, que idolatra em silêncio e a quem jamais terá coragem de se declarar. E nisso é único e é também universal. Pois que atire a primeira pedra quem jamais sofreu uma paixão não correspondida ou nunca calou no peito uma declaração de amor não verbalizada!...

Grande parte dos quadrinhos do livro se relaciona com o Dia dos Namorados e o hábito de se trocar cartões e presentes nessa data. Assim, com o início do mês de junho, fica evidente a oportunidade do lançamento da editora Conrad, que certamente poderá se constituir em um objeto especialmente apropriado para se presentear o namorado, namorada, esposa, amante, companheiro, inclusive apontando quadrinhos que particularmente expressam um estado de espírito que se deseja partilhar com a pessoa amada. (aos casados há um longo tempo, por exemplo, sugere-se a tira superior da página 51, propícia para reacender uma chama que já não tem mais o brilho dos primeiros tempos...).

No entanto, deve-se atentar para que o Dia dos Namorados a que se refere o livro não é exatamente o nosso, mas o de 14 de fevereiro, conhecido em países de língua inglesa como Saint Valentines Day, no qual o hábito da troca de cartões com as pessoas que se admira (não necessariamente o namorado ou namorada) é uma prática corriqueira. Por isso, em alguns momentos, o drama das personagens pelo não recebimento de cartões pode parecer exagerado, pois reflete uma realidade cultural diferente da nossa.

Contrariamente às criações consagradas de outros autores que também têm personagens crianças - como Calvin, de Bill Watterson, ou Dennis, The Menace, de Hank Ketcham -, as tiras de Charlie Brown raramente conseguem tirar do leitor uma gargalhada ou fazer vir aos olhos uma lágrima de riso. Pelo contrário, tiram no máximo um sorriso, um franzir de testa, mas muitas vezes nem isso. Apenas encantam e calam fundo, por mais que a leitura não deixe isso transparecer ou que o leitor sequer se dê conta do fato. Funcionam por acúmulo, cada tira se somando às outras e juntas criando um ambiente de encantamento que faz o leitor mergulhar num estado de espírito semelhante ao das personagens, compreendendo seus desencontros, sofrendo com as injustiças de que são vítimas, compartilhando suas ansiedades. É o que acontece com vários quadrinhos agrupados no livro Snoopy, eu te amo. Mais do que amor, muitos deles falam também de rejeição social, de não se sentir aceito pelo grupo, da sensação de isolamento que tantas vezes se coloca como barreira intransponível ao relacionamento humano e que cada vez mais se transforma em característica da sociedade atual. Ao colocá-los abertamente, o livro também colabora para a identificação do problema, bem como à busca de alternativas para sua solução. Mas essa é uma vantagem adicional: para todos os que admiram as personagens de Charles Schulz, a simples possibilidade de tê-las novamente agrupados por um tema específico em português, entre duas capas duras, já é recompensa mais do que suficiente.

Snoopy, eu te amo, publicado pela Editora Conrad, tem 96 páginas em preto e branco no formato 19 x 19,5 cm e custa R$ 25,00.

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