HQ: <i>Mickey - 75 anos</i>
HQ: <i>Mickey - 75 anos</i>
Quem
diria, o camundongo mais famoso do mundo está completando 75 anos de vida!!!...
Esta data não poderia passar em branco, é claro, principalmente no Brasil, onde a popularidade deste pequeno animal revestido de características humanas há 51 anos sustenta um título mensal nas bancas de revistas. Pelo contrário, não é sempre que uma personagem de histórias em quadrinhos chega a uma idade tão provecta de forma tão galante como acontece com Mickey Mouse, a figura mais famosa originada nos estúdios de Walt Disney. Com milhões de fãs no mundo inteiro, praticamente transformado num ícone da indústria de entretenimento norte-americana, ele atinge a marca de 75 primaveras aparentemente ainda no auge de sua fama. Nada mais merecido, portanto, que publicar uma edição especial para celebrar de maneira apropriada, com necessária pompa e destaque, o natalício do roedor.
É o que a Editora Abril, de São Paulo, tradicional casa publicadora dos quadrinhos Disney do Brasil, oferece a todos os leitores neste final de ano. Lançada na segunda metade de novembro, a edição chega às bancas com uma seleção de histórias que permitem um apanhado amplo da carreira do camundongo, criado em 1928 por Walt Disney. Diz a lenda que o empresário norte-americano criou Mickey quando voltava para casa, de trem, após ter perdido os direitos de uma outra personagem sua, o coelho Osvaldo; rabiscado em um guardanapo de papel - quase parodiando Abraham Lincoln, que escreveu seu discurso mais famoso também em um trem, nas costas de um envelope... -, o afortunado camundongo só não se chamou Mortimer Mouse por graça e obra da senhora Disney, que provavelmente o achou engraçadinho demais para um nome tão aristocrático, sugerindo-lhe a denominação que o faria famoso. A partir daí, para deixarmos o terreno da lenda e enveredarmos pelo da realidade comercial, pode-se dizer que ele passou a existir concretamente a partir da remodelação operada pelo artista Ub Iwerks, o grande responsável pelo sucesso de seus primeiros desenhos animados. Pode-se dizer que estavam criadas as condições para a merecida fama, que fez da imagem da cabeça com duas grandes orelhas a silhueta mais reconhecida em todo o mundo durante toda a segunda metade do século 20.
Para os quadrinhos, Mickey veio em 1930, ainda nas tiras de jornal, tendo como grande responsável por seu sucesso o norte-americano Floyd Gottfredson, criador de praticamente todo o universo em que o pequeno camundongo passou a habitar, destacando-se como detetive e aventureiro. Da mente de Gottfredson surgiram seus principais inimigos, como o Mancha Negra, criado em 1939 na história Mickey encontra Mancha Negra, os dois sobrinhos Chiquinho e Francisquinho e a versão definitiva de Pateta, o grande companheiro do herói. A Gottfredson iriam se seguir diversos outros autores, como Paul Murry, Tony Strobl, Luciano Gatto, entre outros, artistas que ajudaram a firmar a figura de Mickey Mouse no consciente coletivo de várias gerações de leitores.
A publicação da Editora Abril - Mickey 75 anos: Edição Comemorativa -, tenta, em 130 páginas, fazer jus a uma carreira tão profícua em termos de aventuras. Escolhendo histórias que possibilitem uma idéia ampla dos diversos interesses do pequeno camundongo, retratando-o sob os mais diversos enfoques - aventureiro, detetive, namorado, bombeiro, etc. - e mostrando-o sob a pena de vários dos artistas acima apontados, a publicação torna-se antológica por oferecer aos leitores uma fascinante viagem ao universo criativo da personagem.
Nas diversas aventuras que compõem a revista - cuidadosamente selecionadas pelo estudioso Roberto Elísio dos Santos (colaborador habitual do Omelete) e pela equipe da editora Abril, que também realizaram um primoroso trabalho de apresentação de cada uma das histórias -, a trajetória de Mickey, incluindo sua evolução e seus principais companheiros de aventuras, pode ser devidamente apreciada por novos e antigos leitores.
Abrangendo um período de tempo que vai desde 1931 - data da história mais antiga, Mickey bombeiro, trazida diretamente das tiras clássicas de Floyd Gottfredson -, até a mais recente, de 1984, em que o camundongo mais uma vez enfrenta (e derrota) o vilão Mancha Negra, desta vez desenhado por Claude Marin, tudo, na revista, concorre para o perfeito entendimento do carisma dessa personagem, que é reforçado a cada história lida.
A perspicácia de Mickey, por exemplo, é salientada em O monstro marinho e O caso do petroleiro engenhoso, quando enfrenta um de seus adversários mais antigos, o balofo João Bafo-de-Onça; sua sensibilidade para com os sentimentos alheios é destacada em Ajudando a atrapalhar, quando tem sua tranqüilidade perturbada ao tentar agradar seu amigo Pateta; sua dedicação à eterna namorada Minnie é posta à prova em Sol, praia e garotas, em que empresta seu carro para a companheira ir à praia com as amigas, mesmo correndo o risco desta ser assediada (na época, não se usava esta palavra, é claro...) pelo rival Ranulfo; e seu espírito aventureiro é o ponto de destaque na história Mickey e Pateta na cidade do Esquálidus, em que viaja 500 anos no futuro, até à cidade de Pedrápolis, local de moradia de um de seus amigos mais curiosos, também criado por Floyd Gottfredson.
Em cada uma das histórias, destacam-se, além das características do protagonista, as atividades de seus principais companheiros, cuja participação é muitas vezes decisiva para tornar as histórias do camundongo um dos pontos altos do universo Disney.
Para muitos, Mickey pode parecer certinho demais: ele não tem a intempestividade do Pato Donald, a ganância do Tio Patinhas, a imprevisibilidade do Peninha ou a safadeza (no bom sentido) do Zé Carioca. Ele pode até ter tido algumas dessas características no início de sua carreira, mas, aos poucos, elas foram abandonadas, em benefício da formulação da figura de uma personagem que coloca acima de tudo o respeito à lei e a defesa de valores como lealdade, cuidado com o próximo e honestidade sem limites. No entanto, para muitos leitores, está exatamente nesta sua característica de bom cidadão o seu maior fascínio, um fascínio que certamente só é enfatizado pela recente publicação da Editora Abril. Sem dúvida, uma obra para ser lida e guardada com carinho por todos os admiradores do camundongo mais famoso do mundo.
Mickey 75 anos: edição comemorativa, publicado pela Editora Abril, tem 130 páginas coloridas e custa R$ 5.90.