Geoff Johns e Ivan Reis dizem que mudaram suas HQs para as plataformas digitais
Autores dizem que agora pensam mais no leitor que lê quadro-a-quadro
O roteirista e diretor criativo da DC Comics, Geoff Johns, não faz mais quadrinhos como antigamente. Em entrevista à Variety, ele disse que mudou seus roteiros a partir do momento em que soube que a editora começaria a fazer lançamento simultâneo em papel e digital de toda a linha - incluindo suas séries Aquaman, Liga da Justiça e Lanterna Verde.
Aquaman
Segundo Johns, a principal mudança é pensar que os leitores digitais muitas vezes vão usar o recurso quadro-a-quadro - ao invés de abrir uma página inteira, fazem a leitura abrindo um quadrinho por vez, o que muda a forma de estruturar a história. A tradicional virada de página das revistas vira uma "virada de quadro".
"Agora fica até estranho olhar para os quadrinhos antigos. Se você ler eles deste jeito novo, vai notar coisas que passaram em branco porque o olho absorve a página inteira ao invés de cada quadro. Acho que esta é uma das grandes vantagens do digital", disse Johns.
O escritor também está fazendo menos uso de diálogos internos, os recordatórios que mostram o pensamento do personagem. "Prefiro deixar a arte e as expressões do personagem falarem sozinhas, deixar a experiência do leitor ser mais sutil ao invés de empurrar um monte de pensamentos", disse.
O brasileiro Ivan Reis, que trabalha com Johns em Aquaman, também teve que mudar a abordagem. Em entrevista por e-mail ao Omelete, ele disse que "[Eu e Johns] já chegamos a discutir isso em Los Angeles, sobre como os leitores leriam as histórias daqui pra frente. Percebi que, no tablet, não existem quadrinhos principais. Todos os quadrinhos têm destaque no quadro-a-quadro".
O quadro principal, como dizem os manuais de quadrinhos, é o que comanda a narrativa da página, em torno do qual todos os quadros acontecem. Reis teve que abandonar os manuais. "Minha narrativa praticamente aboliu a ideia de 'quadro principal' de uma página. Todos os quadros recebem igual atenção e normalmente são do mesmo tamanho, seguindo até uma certa lógica matemática", disse.
"Claro que tem algumas exceções, pois a página também precisa funcionar como uma narrativa tradicional. E esse é o grande desafio: manter um trabalho que funcione em dois tipos de leitura: no gibi e no tablet", conclui.