
Em entrevista exclusiva para o Omelete, Trevisan fala de sua vida, carreira e de sua longa jornada para conseguir se tornar um escritor de quadrinhos.
Primeiro, aquela pergunta que ninguém faz. Como foi que você se interessou por HQs&qt;&
Pra ser sincero, não sei. Meu pai teve sempre o costume de ler e acho que acabei pegando isso dele. Leio desde que me conheço por gente. Lembro que antes mesmo de aprender a ler, eu tinha um monte de quadrinhos (mais tarde, minha mãe jogou todos fora). O engraçado é que a grande maioria sempre foi de super-heróis. Gostava de algumas coisas da Disney, mas sempre detestei Mônica e Cebolinha e a “turminha toda” do Maurício de Souza.
E RPG&qt;& Quando você começou a jogar&qt;&
Comecei há uns nove ou dez anos. Tinha visto uma matéria no jornal e fiquei fascinado. Pouco tempo depois, a primeira Forbidden Planet foi inaugurada na Pompéia, ao lado do SESC onde eu tinha aula de quadrinhos. Acabei entrando na loja para “dar uma olhada” e fui fisgado.
Você acha que esses dois hobbies influenciaram sua decisão de se tornar escritor&qt;&
O RPG não. Muito pelo contrário. Comecei a jogar RPG porque gostava de escrever. Meu estilo evoluiu muito graças ao RPG. Você aprende a ter outra visão na criação de personagens, na elaboração de tramas. Fora os autores que conheci graças ao hobby. Mesmo assim, os quadrinhos é que foram os principais responsáveis. Quando conheci o RPG já escrevia quadrinhos e contos havia pelo menos seis anos.
E quais são suas HQs favoritas&qt;& E criadores&qt;&
É difícil eleger favoritos. Entre roteiristas, gosto muito da “trindade sagrada”: Alan Moore, Neil Gaiman e Frank Miller. Já fui muito fã do (John) Byrne também... na época do Quarteto, ele era o melhor roteirista de heróis. Hoje em dia, curto muito os roteiros do Garth Ennis. Preacher é genial por ser simples, divertido e não tentar ser nada além disso. Os X-Men do Grant Morrison também me surpreenderam. Brian Michael-Bendis e Mark Millar são outros que vêm se destacando. Se me apontassem uma arma na cabeça e me pedissem para eleger o melhor quadrinho de todos os tempos acho que ficaria com V de Vingança, do Moore.
E quanto aos RPGs&qt;& Alguma preferência em particular&qt;&
Sou fã de AD&D; (agora D&D;) desde que comecei a jogar. Sou apaixonado pelo mundo de Dragonlance. Duvido que isso venha a mudar nos próximos anos.
Você não é um dos membros originais da equipe da Dragão Brasil. Quando foi que você entrou nessa turma&qt;&
Nunca me lembro a data exata em que ingressei no “staff” da Dragão, mas acho que a revista já tinha quase um ano quando apareci. Eu tinha um fanzine junto com o Gregório e uns amigos da Oficina de Quadrinhos do Sesc Pompéia. Quando descobri que “o editor da revista Dragão Brasil” freqüentava a mesma loja de quadrinhos que eu, resolvi arriscar. Chamei o Cassaro de lado, coloquei o fanzine na mesa e mostrei a primeira história minha que o Greg havia ilustrado. O roteiro era ruim. Não péssimo, mas era clichê pra cacete. Para minha salvação, o Cassaro ficou fascinado pelos desenhos do Greg (que já mostravam potencial. Ele tinha só 16 anos na época) e nos autorizou a fazer uma história curta, de quatro páginas. Escrevi um roteirinho simples sobre um cara que se recusa a aceitar a “dádiva” de ser um vampiro, nada digno de nota. Para minha sorte, ninguém odiou.
Do jeito que você descreve, alguns conceitos dessa história original foram retomados em Temporada de caça, como o protagonista que não curte ser vampiro. É coincidência ou você decidiu que a premissa merecia uma execução mais sofisticada&qt;&
Olha, se eu fosse um daqueles autores metidos a intelectuais, até que poderia inventar uma história fantástica de bastidores que apoiasse sua teoria e tal. Acho que até convenceria todo mundo. Como não sou desse tipo, vou te falar a real. Aquela primeira história não tem nenhuma ligação com Temporada (embora, de vez em quando, eu pense em trazer a personagem de volta do limbo). O lance do “vampiro adolescente que não quer ser vampiro” é um clichê que o Cassaro tocava muito por alto no conto original e eu resolvi aproveitar. Assim como Stephen King (um de meus autores prediletos), não tenho medo de retomar conceitos. Acho que a reciclagem é uma coisa legal. Muitas vezes, a diferença não está na idéia principal e sim no modo como você executa. Tinha um exemplo que eu costumava dar pros meus alunos de roteiro. Imagine uma história de ficção! científica, ok&qt;& Uma base militar “A” do Império Shilast localiza-se na área isolada Delta e precisa de mantimentos. Um comboio da base militar “B” parte para levar a carga. A situação é de emergência. Um dos caminhos principais está obstruído e eles resolvem pegar uma rota alternativa. Quando chegam lá são recebidos pelos soldados, mas há algo estranho. A base “A” havia sido atacada pelos inimigos, os Membros da Ordem Vermelha. Mais do que assassinar os residentes da base (já fracos pela ausência de alimento e suprimentos), eles tomam seus lugares. Todos os membros do comboio recém-chegado são aprisionados e torturados. Um dos soldados consegue emitir um sinal de emergência e, na última hora antes da execução, uma série de veículos armados pertencentes ao Império Shilast surge e acaba com os Membros da Ordem Vermelha, salvando a pátria.
Ok. Sei que não é uma história genial, mas é satisfatória. A surpresa é que, se você analisar bem, verá que a história nada mais é que uma releitura dos acontecimentos de Chapéuzinho Vermelho, um clássico infantil. Tente ler de novo o exemplo e veja como fica claro. Acho que isso prova que é possível reciclar temas e clichês e ainda assim torná-los interessantes.
OK. Uma vez na DB, você teve uma rápida ascensão e agora até edita uma segunda revista de RPGs da Trama, Tormenta. Conta para a gente como foi isso.
Meu pensamento quando ofereci meu trabalho para a Trama era única e exclusivamente ver uma história minha publicada. Acho que é o sonho de qualquer fã de quadrinhos. Jamais pensei em trabalhar com RPG, me tornar editor e participar da criação de um mundo inteiro. A coisa foi lenta e progressiva. Logo depois do quadrinho assumi uma resenha (e na época eu nem sabia o que era resenha...), depois escrevi um conto (“O Paladino e a Ladra”), fiz alguns testes de matéria e acabei pegando o jeito da coisa. Depois de um tempo, o Cassaro precisou de assistentes para ajudar a editar a revista e eu entrei na brincadeira. Era uma coisa que eu já fazia antes meio sem compromisso... Esse lance de dar palpite em pauta, sugerir desenhistas, coisas assim. Acho que é um auxílio válido mesmo considerando, como sempre disse, que o Cassaro é a força por trás da revista.
Você já escreveu numerosos contos e HQs curtas na Dragão Brasil. Tem alguma história favorita entre elas&qt;&
Claro. Sou muito crítico com meu próprio trabalho. Demoro séculos para escrever um conto. É até engraçado porque, contando até hoje, escrevi um conto para cada ano de Dragão Brasil. Destes, meu preferido é “O modo como às vezes as coisas acontecem” (quem tiver curiosidade pode ler de graça no meu site, www.jmtrevisan.hpg.com.br) que conta a história de um casal de adolescentes e um demônio. Acho que até hoje é, de longe, meu melhor texto. Dos quadrinhos que fiz com o Greg, tenho preferência por Happy Hour, uma história de fantasma mórbida, sádica e irônica. Meu tipo preferido.
Temporada de Caça é sua primeira HQ longa. Você agora tem a obrigação de fazer uma série capaz de conquistar o público por si só. Como está encarando esse desafio&qt;&
Eu tento não encarar. É loucura. É como voltar cinco anos no passado e ver meu primeiro trabalho sendo publicado. Adoro trabalhar com RPG, mas tudo o que fiz até hoje foi um esforço voltado para um dos meus objetivos principais: publicar uma história em quadrinhos, ver meu nome na capa, dar entrevistas como essa. É muita responsabilidade. E não digo só em relação ao público. Digo com relação a mim. Todo mundo sabe como é difícil publicar qualquer coisa no Brasil. Uma oportunidade dessas não pode ser desperdiçada. Outra coisa que é engraçada é que, por boa parte do publico que lê quadrinhos, vou ser visto como principiante. É algo que faz sentido porque é meu primeiro trabalho com quadrinhos “de verdade”, por assim dizer. Mas é irônico justamente pelas histórias que escrevi na Dragão e por ter dado aula de roteiros. Tudo isso gera uma expectativa muito grande, porque pouquí! ssima gente conhece meu texto em quadrinhos e sabe o que esperar de Temporada. É assustador, mas estou aprendendo a lidar com isso.
Fale um pouco sobre Temporada de caça. Qual é a trama, quem são os protagonistas, etc.&qt;&
É basicamente a história de um cara chamado Douglas, que foi transformado em vampiro contra a vontade e tem que se adaptar a todas as mudanças que isso acarreta. Antes que isso aconteça, ele é obrigado a se envolver no mundo de intrigas e violência que é a sociedade vampírica. Como se não bastasse, não sabe quem o transformou e isso acaba se tornando uma obsessão. A premissa resumida não faz jus à história, acredite. :))
Parece interessante o bastante para mim! De quantos números será a mini-série&qt;&
Originalmente eram quatro números, mas estamos remanejando para três. A segunda edição vai bem direto ao ponto e uma quarta parte ia acabar “esticando” a história desnecessariamente. Como a última edição ainda não foi escrita, dá para arrumar as coisas sem problema nenhum. Acho que a série até ganha com isso.
Intimida trabalhar com um editor que tem anos de experiência (e um punhado de prêmios) nas HQs como o Marcelo Cassaro&qt;& Ele é muito exigente&qt;&
Acho que ele exige quando tem que exigir e alivia quando tem que aliviar. Não sou um cara muito fácil de se trabalhar. Sou dispersivo, temperamental e produzo muito menos em quantidade do que poderia se criasse vergonha na cara. Mas acho que ele administra isso bem. Afinal já são quase seis anos de Dragão. Não me sinto intimidado com a presença dele. Acho que é o contrário... dá mais segurança. Cassaro é uma pessoa fantástica e um grande amigo. Apesar do que todo mundo imagina, o cara é de uma simplicidade surpreendente. Acho que nem ele tem noção de tudo o que já fez e do significado de seu trabalho para os quadrinhos e para o RPG. Infelizmente algumas pessoas que julgam esse tipo de trabalho também não têm.
Temporada de Caça teve uma gênese complicada. Ela está sendo prometida pela Trama há alguns ANOS (sob diversos nomes, inclusive!), mas só entrou na programação oficial da editora recentemente. Por que levou tanto tempo para ela sair do papel&qt;&
Porque eu entrei em parafuso. Temporada era para ter saído pouco depois de U.F.O Team e Godless, logo quando a Trama começou a publicar quadrinhos. A responsabilidade de escrever uma mini-série me assustou demais e eu não conseguia ir em frente. Quando escrevia algo achava que não ia dar certo... que era muita coisa. Tinha medo que a revista não vendesse. Não me achava bom o suficiente para tudo aquilo. Da segunda vez que cancelamos o lançamento, foi por falta de timing. Tínhamos pensado todo um projeto para aproveitar o lançamento do RPG Temporada de caça, mas não deu certo. O Gregório tinha aberto um estúdio próprio e precisava se virar com outros trabalhos para garantir a grana. Ao mesmo tempo, a Trama retraiu sua linha de quadrinhos. E aí ficou complicado. Agora tudo está acertado. A primeira edição está quase pronta, parte dela já foi colorida e já não me acho mais tão incapaz para a função de roteirista. Não sou e nem quero ser o melhor do país, mas acho que tem muita gente pior do que eu...
Interessante isso. Será que ser tão crítico de si acabou sendo prejudicial à sua carreira&qt;& A série até perdeu a chance de ser publicada na época em que os vampiros (dentro e fora dos RPGs) estavam no auge!
Com certeza! Se eu não fosse tão chato e complicado poderia ter publicado muito mais que isso. Uma das grandes vantagens de estar onde estou hoje é a possibilidade de publicação imediata. Tenho portas abertas na Daemon e na Trama. Muita gente ficaria contente com menos do que isso. O problema é que, para mim, escrever sempre foi uma coisa complicada. Qualquer variação emocional afeta meu trabalho. Não é frescura e não sei porque isso acontece. Final do ano passado, fiquei quase dois meses parado por causa de um colapso emocional. É uma merda. Aos poucos tenho melhorado isso, me colocado nos eixos. E tem outra coisa... acho que estes próximos cinco anos prometem ser cruciais; primeiro porque estou com 25 anos e preciso de estabilidade até os 30; e segundo porque essa situação de mercado não vai durar para sempre. Assim que começar a corrida pela presidência a coisa tende a degringolar. Às vésperas da eleição que reelegeu o FHC, eu costumava virar pro Greg e dizer “Ok. Dependendo de quem entrar lá em cima, já era. Se mexerem no Real a gente tá ferrado!”. Ainda bem que o cara foi reeleito. Não discuto política e nem sou engajado, mas do ponto de vista profissional dos quadrinhos e para as editoras a reeleição foi ótima. O problema é que agora não tem mais jeito. O próximo vai ter que mexer em tudo. E aí sabe lá Deus o que vai rolar. Não quero ser apocalíptico, mas pretendo estar preparado se o “clima de fim de feira chegar”. Espere ver muito material meu nesses 5 anos. Se tudo acabar depois disso, arrumo minha mala e vou trabalhar num pub da Escócia...
O Greg (Evandro Gregório), desenhista da série, já é seu parceiro artístico desde as primeiras encarnações de Temporada de caça. Ele participou do desenvolvimento do roteiro ou é mais o criador visual da série&qt;&
No começo nem tanto, mas hoje o Greg já dá mais palpites. Seus roteiros melhoraram muito e vale a pena escutar o que ele tem para acrescentar. As decisões finais ainda ficam na minha mão e na do Cassaro, mas, nas poucas vezes, em que o Greg se manifestou as sugestões foram válidas. Quanto ao visual, praticamente tudo veio dele e nessa parte não faço a menor questão de meter. Ele sabe o que faz. Algumas personagens já haviam sido descritas pelo Cassaro, mas o Greg virou tudo de ponta cabeça para a mini-série. O resultado ficou muito melhor que o original. Tem até um caçador de vampiros parecido comigo na primeira edição...
Parecido com você&qt;& É a primeira aparição do Dr. Careca nas HQs&qt;& :)
O pior é que não! No one-shot Dragonesa, escrito pelo Cassaro, eu e o Greg somos personagens. Fazemos o papel de dois repórteres que vão atrás da personagem principal. Mas a verdadeira aparição do Dr. Careca ainda está por vir. Ele vai ser o principal vilão de S.P.Y..
Tempos depois da HQ ter sido anunciada pela primeira vez, a Dragão Brasil lançou um suplemento (o Temporada de caça original) reunindo material do RPG Vampiro, a máscara. A seguir, a HQ ganhou seu nome atual e foi mencionada como utilizando material do suplemento. Como foi isso&qt;& O suplemento se baseou na HQ ainda incompleta ou a HQ foi alterada depois (inclusive no nome) para ficar mais próxima ao suplemento&qt;&
É meio complicado. Tudo começou mesmo com um conto de autoria do Cassaro, onde ele detalhava uma casa noturna freqüentada por vampiros e dirigida por Verônica, uma vampira sexy e implacável. Ao ler o conto (que, se não me engano, chegou a sair nas páginas da DB) tive a idéia de transformá-lo em material de RPG. Cassaro me deu carta branca para adicionar o que fosse preciso. Assim nasceu o Clube Masquerade. A matéria saiu em formato pôster e com ilustrações do Greg. Foi um sucesso total. Anos depois, com o sucesso de Tormenta, resolvemos repetir a dose juntando tudo o que havíamos criado para Vampiro (incluindo o Clube, que era um ponto chave) e lançar Temporada de caça como RPG. Sendo assim, fica difícil dizer “o que foi inspirado em quê”. Existem elementos no RPG que já existiam na mini-série. Por outro lado, como os dois últimos números ainda não haviam sido escritos na época, temos elementos do RPG que hoje também aparecem na mini-série.
Falando nisso, como os direitos do RPG Vampiro pertencem a outra editora (Devir Livraria), vocês não poderão usar as convenções do jogo (clãs, etc.) na história. Como é que ficou essa situação&qt;& Isso chegou a afetar o roteiro da série&qt;&
Para ser sincero não afetou muito. A única alteração significativa foi a mudança de nome de Clube Masquerade para Temporada de caça. E até considero uma boa mudança, já que “temporada” é um termo mais abrangente além de estar ligado à trama da história. Quanto às convenções e termos do jogo, não há problema. Eu mesmo já tinha descartado várias referências a ele. Existiam coisas que não me agradavam na abordagem do autor de Vampiro: a máscara e nas Crônicas vampirescas de Anne Rice (de onde o autor de Vampiro tirou boa parte de suas idéias). O que fiz foi pegar o que mais me agradava nos dois, que é essa reinvenção do vampiro como mito moderno, misturar com as minhas próprias referências e tocar o barco em frente.
Acha que isso pode afastar os fãs do RPG&qt;&
Duvido. Acho que o que mais atrai os fãs é o clima da história. Antigamente, existiam algumas convenções, algumas regras numa história de vampiro: tinha que ser ambientada na Europa, de preferência no leste; o vampiro tinha que ter a cara do Bela Lugosi ou do Christopher Lee; era imprescindível um castelo, etc, etc, etc. Hoje em dia, graças a Anne Rice (o que não quer dizer que sou fã da escritora. Adoro os primeiros dois livros mas acho que a partir de A rainha dos condenados algo começou a dar errado), temos novas regras para as histórias modernas de vampiros. E todas elas são mais ou menos respeitadas. Você não vai encontrar Ventrues, Brujahs e Malkavians na história, mas vai poder sentir uma certa familiaridade que o deixará a vontade para ler e gostar. Além disso, apoiar-se a fundo no RPG provavelmente afastaria o leitor ocasional de quadrinhos, que é meu principal alvo. O jogador de RPG já sabe quem eu sou, o que faço. Quero que os outros leitores também saibam, mesmo que odeiem. Mais do que apelar ao pessoal que joga Vampiro: a máscara, acho que a série também terá um apelo forte para o pessoal que lê quadrinhos adultos como Preacher, Hellblazer, Justiceiro. O publico tem carência de material como esse e raramente o quadrinho nacional se volta para esse lado. Temos a Via Lettera que vem fazendo um trabalho legal publicando Dez Pãezinhos, por exemplo, mas acho que, independente da minha história, faltava uma iniciativa dessas em termos de quadrinho de grande porte, distribuído em banca. Muita gente diz que é inviável. Eu não acho que seja. Vamos saber em breve quem está certo.
E, por sinal, como ficou na série o nome do Clube Masquerade propriamente dito&qt;&
Se eu não me engano, não há problema que o clube continue com o mesmo nome dentro da revista. Eu odiaria ter que mudar.
Você é um dos co-criadores de Tormenta e de Holy Avenger. Já pensou em fazer HQs nessa ambientação&qt;&
Era para ter rolado uma outra HQ mensal de Tormenta com roteiros meus e arte do André Vazzios que é um ilustrador incrível. Quem leu Lua dos dragões sabe do que estou falando. A idéia era oferecer uma opção aos fãs de Tormenta que não se identificassem com a temática “mangá-light” de Holy Avenger. Meu roteiro sempre foi mais “carregado” que o do Cassaro e um dos estilos de arte do Vazzios aproxima-se muito do conceito que temos de fantasia medieval. O problema de tudo isso (e o que acabou condenando a idéia) foi a falta de regularidade tanto minha quanto do Vazzios. Ele é hipermeticuloso e detalhista e eu ainda vivia o fantasma da “mini-série que não havia dado certo”. Mesmo assim, ainda sonho em fazer um especial com ele algum dia. Um quadrinho de Tormenta jamais saiu dos meus planos.
Seria interessante ver essa série, embora provavelmente tivesse periodicidade anual... Que tal, ao invés de fazer uma série normal de banca tentar fazê-la como uma série de edições especiais de luxo vendidas em livrarias, tipo os quadrinhos europeus&qt;&
É algo que eu não tinha pensado ainda. Tenho pelo menos duas idéias de roteiro que se encaixariam nesse perfil. Vou sugerir pro pessoal da Trama. Não sei se é algo viável para eles... Se poderíamos procurar outra editora que estivesse disposta a editar esse tipo de material mais elaborado. Vamos ver.
E HQs baseadas em jogadores de RPGs (em vez de ambientações de RPG) como Knights of the Dinner Table e Dork Tower&qt;&
Sou fã incondicional de Dork Tower mas não me imagino fazendo algo parecido.
Algum motivo em particular&qt;&
Alguns. Não sou lá um bom humorista na hora de escrever. Toda vez que tendo fazer algo engraçado, acaba soando cáustico demais. Gosto de coisas irônicas. O problema é que o jogador de RPG americano é bem diferente do brasileiro. A impressão que eu tenho é que, “lá fora”, eles acham engraçado todos os rótulos que o pessoal impõe... Esse estigma de nerd, os trejeitos. Aqui não. Aqui você insinuar mesmo em uma piada que o jogador de RPG é nerd pode virar caso de polícia. O RPGista brasileiro vê-se como intelectual, culto e acima da média das outras pessoas. Uns querem que o RPG seja espalhado como uma bênção por todo o país. Outros querem mantê-lo escondido, com o status de cult e longe dos olhos dos infiéis. Para ser sincero, acho isso um saco. Se eu fizesse uma história a la Dork Tower, poderiam acabar se sentindo ofendidas à toa. As pessoas levam o RPG a sério demais...
Se Temporada... emplacar, quais são seus planos futuros no ramo das HQs&qt;&
Talvez exista alguma possibilidade de que a série se torne mensal. Ainda estamos discutindo isso. Depende de uma série de fatores além da receptividade do público. De concreto mesmo, só as séries que pretendo lançar dentro do meu site, Gatos, almas e 5 cents. São três séries que ficarão disponíveis gratuitamente. Uma espécie de “fanzine virtual particular”. A primeira, e mais adiantada, chama-se High Falls. É uma espécie de “sitcom em quadrinhos” enfocando personagens que moram no mesmo prédio e freqüentam os mesmo arredores. São histórias curtas, baseadas em uma porrada de coisas. A segunda é S.P.Y., uma ficção científica meio retrô. Uma mistura meio louca de Buck Rogers e Aeon Flux. A terceira ainda não está definida, mas minha idéia era escrever algo meio space-opera. Quando era pequeno adorava naves espaciais, astronautas, essas coisas. Meu primeiro conto grande (42 páginas de caderno escritas com aquela letra gigantesca e deformada de quem freqüenta a segunda série) escrito quando tinha nove anos enfocava esse tipo de tema. Tenho vontade de retomar um pouco disso. Vamos ver no que dá.
O que significa J. M. afinal&qt;&
São meus primeiros dois nomes: José Mauro. Curiosamente meus pais me batizaram com esse nome por causa de um escritor que ambos adoram chamado José Mauro de Vasconcelos.
Para finalizar, de onde saiu o apelido O Diabólico Dr. Careca&qt;&
Rapaz...não tenho certeza, mas creio que foi idéia de um rapaz de uma lista de discussão. Numa brincadeira com o Marcelo Del Debbio, acabei adotando o apelido toda vez que trocávamos e-mails tirando sarro das teorias conspiracionistas do pessoal das listas de discussão. Sempre que mando um e-mail irônico ou tirando sarro, assino como “O Maligno, Desprezível e ... Dr. Careca. O espaço, procuro preencher com o adjetivo mais apropriado no momento. Aos poucos, a coisa foi se espalhando e o apelido pegou. Um dia ainda vou acabar perdendo toda minha fortuna num processo por causa disso...
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